O cineasta Ruy Guerra (90 anos) em gravação. Foto: Reprodução / Hora do Povo

Por Lenine Guevara

Bolsonaristas deliram que personagem morto usando faixa presidencial no novo filme de Ruy Guerra, “A Fúria”, incitaria crime de ódio contra Jair Messias Bolsonaro, em ano eleitoral. O filme estreia em 2023 e a cena foi retirada de seu contexto de maneira criminosa por uma série de bolsonaristas que publicaram e repostaram o vídeo da gravação como se fosse um ensaio que representasse uma ameaça real ao presidente em uma motociata, incluindo a deputada federal Carla Zambelli e o senador Flávio Bolsonaro.

Tweet que gerou a fake news de ameaça à vida de Jair Bolsonaro. Foto: Projeto Comprova

A publicação expõe o conteúdo fora do contexto da obra ou permissão do autor e embasa o pedido de investigação de promoção ao discurso de ódio e incitação à violência para a Polícia Federal, movido pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres.

Além da censura prévia, criminalização de obra artística por vazamento ilegal, a intenção da base governista parece ser atacar os veículos de comunicação através de notícias falsas. A emissora TV Globo recebeu autoria da gravação antes que fosse divulgado que a cena, em realidade, pertence ao novo filme de filme Ruy Guerra que finaliza a trilogia formada por “Os Fuzis” (1964) e “A Queda” (1977), com “A Fúria”, que está em gravação e estreia no final de 2023.

Em nota de esclarecimento, a produção do filme assume a autoria da cena e expõe a ilegalidade e o uso indevido de seu conteúdo:

Foto: Reprodução

De acordo com o Mapa da Censura promovido pelo movimento Mobile, a ação apoiada pelo governo aconteceu logo após deputados e senadores da oposição entregarem pedido para multar Bolsonaro em práticas de estímulo à violência, ao ministro Alexandre de Moraes, do Superior Tribunal Federal e Tribunal Superior Eleitoral. O pedido marca especificamente o caso do presidente não ter manifestado pesar quanto ao assassinato do guarda municipal petista Marcelo de Arruda pelo bolsonarista Jorge Guaranho em Foz do Iguaçu (PR).

O evento ganhou a atenção da patota que desliza sobre as pautas ligadas à comportamento e cultura dentro do governo. Figuras que caíram no ostracismo dos holofotes como Hamilton Mourão, Damares, Mario Frias, Ricardo Salles e até o ex-ministro da justiça Sérgio Moro se “pronunciaram” em seus Twitters.

Quem dera fosse um delírio real por parte do governo, que tem o estratagema de ficar no foco das pautas mais quentes e fabricar sua moral da história com ataques criminosos quando se vê em reveses políticos dos embustes midiáticos que gera para seus seguidores. O bolsonarismo se veste com a capa de ingênuo, verdadeiro e puro para lotes de credores que parecem ter caído em um estranho feitiço, calculado. A famosa cortina de fumaça, utilizando da mesma narrativa da qual está sendo alvo para desviar a atenção e ainda cativar seu lago de narcisos, dando-lhes ideias. O próprio presidente em entrevista mente sobre continuidade das gravações do filme e dá ideia: “já imaginou se fosse o Lula”. Mais uma mensagem de “brincadeirinha” como no Twitter com a imagem de arma no bolo publicada por Flávio Bolsonaro um dia após o atentado contra o petista Marcelo Arruda, move o delírio e a obsessão violenta pela manutenção do bolsonarismo e da presidência em 2023. Eis a última arma que restou para se manter no personagem, vestir a carapuça e dizer, estarei nessa posição “até que a morte nos separe”.