Foto: CAPSI / UFPI

Alunas da Universidade Federal do Piauí em Parnaíba (PI) promoveram uma intervenção no início desta semana em virtude da impunidade em relação a agressores e assediadores de mulheres dentro do campus. O Centro Acadêmico de Psicologia da universidade divulgou nota nas redes sociais, além de ter mobilizado para intervenção com cruzes simbólicas espalhadas no campus.

Um caso ganhou ampla repercussão nas redes sociais no início de junho deste ano, envolvendo o estudante Rodrigo Quixaba que agrediu com murros a árbitra Eliete Fontenele durante uma partida de futebol. “O ator da agressão voltou a frequentar a universidade normalmente e a universidade ainda não declarou o resultado do processo administrativo que foi aberto no dia da agressão”, afirmou representante do Capsi à Mídia NINJA. A universidade prorrogou por 30 dias, contando a partir de hoje, o prazo para decidir se o estudante será suspenso ou expulso da instituição.

Leia abaixo nota na íntegra publicada pelo centro acadêmico nas redes sociais:

NOTA

Diante dos acontecimentos ocorridos nos últimos meses, é necessário fazermos frente à violência contra a mulher. O ocorrido não foi o primeiro evento onde mulheres dentro da UFPI foram constrangidas e violentadas, sendo que nada foi feito para nos proteger e contra aqueles que cometeram os atos.

Agora estamos diante de um cenário ainda mais grave, onde há a prova inequívoca da agressão cometida por um discente contra uma mulher e só o que resta depois de meses do ocorrido é a sensação de impunidade, de que embora ele tenha apresentado comportamento violento, ainda pode transitar pelos corredores, como se nada houvesse acontecido.

É absurdo que em um contexto universitário tenhamos que falar coisas óbvias, que tenhamos que demonstrar repúdio contra agressões e violências e tenhamos que exigir reparação. É absurdo que depois de um ato tão agressivo pareça que nada mudou, que alguém pode ferir outro e seguir seus dias normalmente.

O Estado para garantir a segurança de todos nos impôs um código que devemos seguir, para que não machuquemos uns aos outros. Entretanto, quando violado, o indivíduo que o fez é punido com os rigores da lei, de forma condizente ao crime cometido. Isso ocorre para que a pessoa não volte a incorrer no delito praticado e também como exemplo para toda a sociedade. Obviamente que isso parte de um campo puramente teórico.

Na prática há um caminho burocrático em que temos que esperar protocolos, processos e enquanto isso nos sentimos prisioneiras dentro de uma instituição que não parece ser do seu interesse nos proteger. Onde nossa dor e voz são constantemente silenciadas.

Demorou séculos até as mulheres serem reconhecidas como pessoas de direitos, como um indivíduo a parte de pai, irmão, marido… Nos proibiram de estudar, de trabalhar, nos silenciaram e nos agrediram e diziam que tínhamos que tudo suportar. Fizeram uma lei com o intuito de nos proteger, mas esqueceram de educa-los para nos tratar como pessoas, ao invés dos objetos que por tanto tempo fomos reconhecidas.

A luta contra a violência é constante e não podemos parar. Vamos continuar indo atrás de respostas e buscar a devida punição aqueles que ousarem nos machucar, vamos nos proteger como um só e continuaremos falando, lutando. Nunca mais seremos silenciadas, nossa voz será um grito por liberdade e respeito.

Esperamos uma punição condizente ao fim do processo.