A meio-campista de 33 anos e estrela da seleção alviceleste deixou a equipe argentina após a eliminação para a Suécia

Foto: instagram.com/estefibanini_10

Por Georgina de Biase Echevarría

Estefanía Romina Banini Ruiz, filha de Tito e Elizabeth, nasceu em 21 de junho de 1990, em General Alvear, Mendoza. Atualmente, joga como meio-campista no Atlético de Madrid da primeira divisão da Espanha, mas o começo de sua carreira no futebol não foi tão fácil. 

No começo, seus pais a incentivavam a praticar esportes como hóquei ou vôlei, como fazia a maioria das garotas. Antes de todos os esportes, vinha o vôlei. Seus irmãos (Paola e Hernan) são prova disso, ambos foram jogadores de vôlei. Mas Estefania, contrariando a tradução da família, iniciou sua carreira esportiva no Clube Cementista de Mendoza. Com 7 anos de idade, passou a fazer parte da equipe de futebol de salão masculino, graças à aceitação e à receptividade do treinador Eduardo “Perico”, que foi quem abriu a ela as portas do time. 

Foto: Arquivo pessoal – Estefanía e seus irmãos

“Deixa a menina, logo isso vai passar”, dizia Don Banini a Elizabeth, pensando que a paixão que a filha demonstrava pela bola era passageira. Estefanía pisou em um gramado aos 16 anos, com as Pumas de Mendoza, time formado, exclusivamente, por mulheres, e, um ano depois, foi convidada para participar de uma ‘peneira’ juvenil em Buenos Aires. Seus dribles chamaram a atenção do diretor técnico Carlos Borrello, que a convocou para a Seleção Sub-20 da Argentina.  

Sem ter jogado, profissionalmente, em nenhum clube, no dia 15 de janeiro de 2010, ela estreiou em um torneio internacional, vestindo as cores da Seleção Argentina, na Copa Bicentenária do Chile, empatando com a Colômbia em 0 a 0. Em março do mesmo ano, jogou a Copa América Sub-20 e, em novembro, a Copa América com o time principal, marcando seu primeiro gol internacional num jogo contra a Bolívia. 

Com o final da Copa América 2010, Banini voltou à sua vida real: sem ter clube, o futebol feminino, na época, se mostrava como, apenas, um desejo. Mas seu bom desempenho na seleção a colocou na mira de grandes clubes e recebeu uma proposta que mudaria sua trajetória: “Estava trabalhando em um quiosque, de frente a um parque, em Mendoza, quando o treinador do Colo-Colo [equipe chilena] me telefonou – conta Estefanía – Eu disse a ele que sim sem nem mesmo falar com minha mãe e meu pai”. 

Largou o cargo de professora de academia e viajou com seus pais ter certeza de que tudo aquilo que estava acontecendo era, mesmo, real. Em 2011, se mudou para Santiago do Chile, assinando seu primeiro contrato com a equipe do Colo-Colo. No time chileno, ganhou 8 torneios locais, conquistou a braçadeira de capitã e, em 2012, venceu a Copa Libertadores. 

Foto: Reprodução issuu.com – Campeã da Libertadores pelo Colo-Colo

Em 2014, voltou a vestir a camisa da Seleção Argentina nos Jogos Sul-americanos e na Copa América (do mesmo ano). Nos Sul-americanos, Estefanía brilhou e a alviceleste foi campeã. 

Depois de sua boa passagem pelo Colo-Colo e nos Sul-americanos, a meio-campista deixou a equipe chilena para ser a nova jogadora do Washington Spirit. No dia 11 de abril de 2015, fez sua estreia no futebol dos Estados Unidos. Poucos meses após sua chegada, em maio, foi obrigada a deixar os campos por conta de uma lesão no joelho direito.   

Mas o retorno aconteceria logo. Em 2016, voltou aos gramados e se tornou a maior goleadora da equipe, que foi vice-campeã naquele ano. 

Com 25 anos, atravessou o Atlântico para viver na Espanha, onde jogaria como o mais novo reforço do Valencia Club de Fútbol (temporada 2016-2017). De volta ao Washington Spirit, nos EUA, jogou 12 partidas e, com o fim da temporada, foi emprestada ao Levante, outro clube da cidade de Valência. 

Em 2018, disputou a Copa América com a seleção. A equipe se apresentou com, apenas, uma semana de preparação e sem ter jogado nenhum amistoso. Foi nesse torneio que as jogadoras fizeram a foto imitando o Topo Gigio, que viralizou e deixou exposta a situação pela qual a Seleção Feminina passava. As atletas queriam ser escutadas, pois era a classificação para o Mundial que estava estava em jogo e corria perigo.  

Depois de 12 anos, conseguiram se classificar para o Mundial de 2019, na França. Lá, Banini se consagrou com a camisa 10 e foi a capitã da primeira Seleção Argentina de Futebol Feminino a conquistar pontos na história dos Mundiais FIFA.

Ao final da Copa de 2019, parte da equipe argentina pediu a renúncia do corpo técnico encabeçado por Carlos Borrello. O resultado foi Banini ficar fora das convocações para a Seleção Argentina durante 3 anos. 

Ao não ser convocada para os Jogos Pan-americanos de Lima, em 2019, a meio-campista escreveu em sua conta de Instagram: 

“Nem descanso, nem lesões, nem falta de permissão do meu clube! Há vontade de sobra de estar na Seleção! Desde os 5 anos, treinando para defender a alviceleste! Lutando por um espaço de igualdade e sem discriminações! O corpo técnico decidiu me deixar fora! Eles, que são os únicos que cobram; eles, que por terem suas diferenças, decidiram colocar um ponto final no meu sonho de defender a mais linda! O motivo disso é muito simples: toda a equipe que foi ao Mundial conversou e pensamos que eles não estão à altura do que pretendemos. Queremos o crescimento real do futebol feminino, queremos estar à altura das potências! Queremos pessoas capacitadas, com experiência suficiente para aprender e não que, ao sair para jogar, nos digam para, apenas, nos defendermos! Sobram exemplos como esse e são lamentáveis! Com lágrimas nos olhos e coração partido, mas sempre com a cabeça erguida e tranquila por ter sofrido as consequências do que disse naquela conversa  (…). Vou seguir lutando porque te amo. Vamos Argentina, vamos minha seleção!” 

Três anos depois de ser parte no Levante e jogar uma Champions League como capitã, Banini, no dia 07 de julho de 2021, assinou contrato com o Atlético de Madrid, tornando-se a primeira argentina eleita, pela FIFA, para integrar o XI ideal da temporada. 

Nesse mesmo mês, vinte dias depois, Gérman Portanova assume a Seleção Feminina Argentina e, em março de 2022, Banini volta a ser convocada para vestir a camisa alviceleste em um amistoso diante do Chile, às vésperas da Copa América, que aconteceria na Colômbia, no mesmo ano. 

Já sem a camisa 10, pisou em campo com o número 22 nas costas, com a esperança de conseguir a classificação para um novo Mundial. Na Colômbia, país que sediou a Copa América, a Argentina conseguiu o terceiro lugar e garantiu vaga no Mundial 2023. 

Foto: Divulgação Conmebol –

Estefania, desde os 7 anos, sabia o que queria, estava segura e seguiu firme, apesar das dificuldades, dos comentários indesejados e das portas que se fecharam. “Eu fiz um caminho às cegas. Não tinha uma referência para seguir. Não sabia qual era o caminho que tinha que fazer”, reconhece Estefania Banini ao La Nación.   

Com um presente insuperável (figura do Atleti, campeã da Copa da Rainha graças a seu gol, que empatou o jogo no último minuto), antes de começar o Mundial da Austrália – Nova Zelândia, a meio-campista de 33 anos e estrela da seleção alviceleste anunciou que deixaria a equipe argentina, sendo este Mundial sua “the last dance”. 

Foto: Getty Images

A seleção está fora do Mundial 2023, depois de perder a partida contra a Suécia por 2 a 0, mas as jogadoras estão conscientes de que, para muito além dos resultados, fizeram história na modalidade. 

“Queríamos ganhar e passar, mas acho que estamos construindo nosso caminho. Agora, virão gerações mais à frente que sei que vão defender esta camisa com a sua vida”, declarou Banini, numa coletiva de imprensa, e acrescentou: “Temos que seguir melhorando a liga argentina. Os clubes devem continuar investindo. Estamos em processo de crescimento no nosso país”. 

Por qualquer ângulo que se olhe, o Mundial foi histórico, mas as jogadoras da Seleção Argentina, pela primeira vez, puderam contar com uma preparação adequada. A equipe está vivendo uma transição entre jogadoras experientes e jovens que estão construindo uma identidade não só de jogo mas também de torcedores que seguem a seleção alviceleste com o mesmo objetivo: levar a Argentina aos mais altos patamares. 

Com a cabeça erguida e os olhos celestes brilhando, disse: “Estou um pouco cansada de brigar e quero poder aproveitar como uma torcedora a mais” e, olhando para trás, compreendemos do que ela fala: brigar valeu a pena, mas se cansar também vale. 

As que defenderam, em 1971, as cores da Seleção Argentina e as que defendem, na atualidade, conseguiram abrir grandes portas para as novas gerações. O futebol, na Argentina, segue crescendo graças à dura luta delas, que buscam mais equidade e desconstroem esteriótipos na intenção de deixar o caminho aberto para as novas gerações. Para além do esporte, elas seguem desejam maior igualdade social, para que, assim, todos tenham as mesmas possibilidades.  

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube