Inspirada no movimento Emo, Naja White está prestes a lançar seu primeiro álbum intitulado ‘2006’

A Drag Naja White está lançando seu primeiro álbum intitulado “2006” (Foto: Kelly Karamelo)


Por Luiz Vieira

O meio drag tem uma particularidade muito interessante: cada artista tem o seu jeito de deixar a própria marca no mundo. E é pensando nisso que Naja White, a primeira drag queen Emo roqueira do Brasil, começou a entender o que é ser drag para além das purpurinas, das maquiagens bafônicas e dos looks icônicos. Drag não é só close, é também propósito. Foi vendo Rupaul’s Drag Race que Nylo Bimbati, intérprete de Naja, entendeu que haviam muitos tipos diferentes de drags e que ele poderia explorar algumas coisas nesse sentido, além de desconstruir alguns pontos como um homem cisgênero gay.

Começou a se montar em 2015, e hoje, com 32 anos, está prestes a lançar o seu primeiro álbum intitulado “2006”, com previsão de chegar a todas as plataformas digitais na segunda quinzena do mês de outubro. O álbum tem um tom nostálgico e promete mexer com o coração dos que viveram o auge do movimento Emo nos anos 2000. Junto com o disco, a artista também lançou um documentário em seu canal do Youtube. O projeto “2006: O Documentário” traz depoimentos e histórias reais de pessoas LGBTs e outros corpos dissidentes sobre o tema do bullying na infância e já está disponível na plataforma para quem quiser acessar.

 

Sem mais delongas, confira a entrevista com a queen roqueira Naja White:

Como surgiu a ideia de fazer o documentário?

Quando saí do confinamento do Queen Stars Brasil, voltei com o coração em chamas pra começar a produção do álbum “2006”. Mas a cada gravação e ao revisitar as letras, fui entendendo que a mensagem era mais complexa e que precisava ser melhor explicada ao público. Então, num certo dia, visitei uma escola técnica a fim de fazer fotos no local e, ao falar com a direção, eles me disseram que o projeto poderia ser algo maior, como uma campanha anti-bullying ou algo documental. Saí de lá inspirado e com a palavra documentário na cabeça, pois eu sabia que precisava contar melhor a minha história para que as pessoas entendessem do que se tratavam aquelas canções superficialmente fofas, mas que carregam em si muita dor e traumas.

Você acredita que a pauta LGBTQIAPN+ avançou no Brasil?

Sim. Acho que é inegável o avanço dessas pautas e discussões, assim como de outras minorias. Mas ainda é preciso entender que estamos no começo de um processo de desconstrução de tudo o que somos enquanto sociedade. Então, sim, as pautas avançaram e questionamos muito mais, mas ainda há muito o que ser feito, repensado e devidamente corrigido em nosso país e no mundo.

Para além do documentário, o que podemos esperar do novo disco?

Se você viveu o rock dos anos 2000, o último grande movimento do rock nacional, o tão aclamado EMO, com certeza esse álbum irá te agradar e despertar uma memória afetiva sem igual. Mas espere também uma história “cantada”, que traz a inocência da infanto-juventude e a sensibilidade de quem era oprimido, mas sonhava muito alto. O álbum vai te pegar pela mão e contar uma história que pode ser até comum, do jovem que cresceu no interior e sonhava com a Capital, como uma libertação. Mas as camadas e emoções de cada letra podem dizer muito além disso.


O que a Naja representa na sua vida?

A Naja White é como uma plataforma, como um veículo, como uma roupa de trabalho, um crachá ou qualquer outra coisa que normalmente nos dá mais autonomia e segurança para realizar uma função. Eu, Nylo, tenho 32 anos. Jamais pensei que nessa idade iria revirar o meu passado traumático e transformar isso num documentário ou em músicas com tom lúdico. A imagem da Naja é um escudo que me deu coragem para isso, porque enquanto artista, não era o que eu queria ou visualizava, mas era o que eu precisava fazer por mim, para minha própria maturidade ao lidar com essas lembranças e sentimentos. E aí, quando vejo que tudo isso também pode ajudar outras pessoas, sinto que a Naja se torna também minha roupa de super herói. O herói que eu gostaria de ter tido na minha infanto-juventude.

Qual a marca que a Naja quer deixar no mundo?

Uma das minhas grandes inspirações é a MariMoon, influencer icônica e ex-MTV Brasil. Desde a época do Fotolog, sua mensagem de “Você pode ser feliz sendo quem você é” foi uma super força pra eu criar coragem de sonhar alto e enfrentar todos os meus medos e traumas. Quando penso na marca que eu quero deixar, penso na marca que a MariMoon deixou em mim e no quanto isso me impulsionou para a vida. Espero que todo mundo que tiver contato com a minha arte se sinta abraçado, acolhido e tenha a certeza de que você pode ser feliz sendo quem você é, do jeitinho que você é. O mundo é um lugar muito cruel e devastador de sonhos, mas se eu puder plantar uma sementinha de esperança para que as pessoas sonhem com um amanhã melhor, aí o meu trabalho estará feito. Foi sonhando que cheguei até aqui, espero servir de inspiração e motivação, porque nem todos os dias são coloridos, mas isso não anula o quão gigante somos por dentro!

Leia mais:

A rainha das drags: uma entrevista com Lorna Washington

Isabelita dos Patins: 5 perguntas para os 50 anos de carreira da folclórica drag do Rio de Janeiro