Debate sobre racismo, constrangimento e desrespeito à identidade volta à tona nas escolas que foram militarizadas no Distrito Federal

Foto: arquivo de família

Um sargento de escola militarizada no Distrito Federal constrangeu um dos alunos da instituição ao “orientar” que ele cortasse o cabelo pois estaria “fora do padrão estabelecido nas escolas cívico-militares”. O garoto tem 12 anos, é negro, e estuda no Centro de Ensino Fundamental 1, conhecido como Sapão, no Núcleo Bandeirante. Conforme relato, o sargento disse que o estudante estava “se camuflando entre as meninas”.

Em entrevista ao jornal Metrópoles, a família conta que ficou surpreendida com a orientação. O garoto, que estuda há 2 anos na escola e nunca tinha sido questionado anteriormente, foi abordado pelo sargento em um momento em que estava buscando um auxílio clínico. O militar ligou para a família, depois de abordar o garoto, informando que o estudante teria que cortar o cabelo para ficar “enquadrado no regulamento da instituição”.

“O sargento disse que o meu irmão estava indo para a fila das meninas, algo que não é verdade. Ele ficou muito triste, chegou em casa e não queria falar com ninguém. Da forma que foi colocado, acabou abalando muito o meu irmão, que agora está querendo cortar o cabelo”, disse Rosa Carvalho ao Metrópoles, irmã do estudante.

Em nota, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) informou que “houve uma conversa instrutiva registrada em ata escolar”, e que “os alunos matriculados em escolas compartilhadas estão sujeitas ao regulamento e normas de tal sistema”, que eles consideram como um “processo de inovação no sistema de ensino de Brasília”. Também informam que “não houve represália ou orientação não didática proferida ao adolescente”, muito embora não tenham questionado o garoto sobre a abordagem preconceituosa que sofreu dentro da instituição de ensino.

A debate sobre o preconceito e desvalorização da identidade racial nos espaços escolares militarizados não começou hoje no Distrito Federal. Diversos casos envolvendo constrangimento entre alunos negros já veio à tona, mobilizando sociedade civil contra o racismo. Em 2019, a Secretaria de Educação chegou a flexibilizar as regras sobre corte de cabelo nas escolas militarizadas. Na prática, relatos como o da escola no Núcleo Bandeirante continuam a aparecer.