Ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo. Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

O ex-ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, causou polêmica nesta terça-feira (18) ao depor na CPI da Covid no Senado. A fala dele era considerada fundamental pelos senadores da comissão, que queriam questioná-lo se a política externa ideológica e os ataques a alguns países, em particular à China, afetaram a compra de insumos e de vacinas contra um Covid-19.

O ex-chanceler negou ataques ao país asiático. Porém, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) fez questão de relembrar um texto em que Ernesto publicou em seu blog, chamado Meta Política Brasil, com o título “Chegou o Comunavírus”, com uma tese de que o coronavírus faria parte de um plano comunista. Ernesto citou frases que seriam, segundo ele, de um escritor marxista Slavoj Zizek, dizendo que um vírus contagiará o mundo e permitirá construir o comunismo de uma forma inesperada.

“Gostaria de relembrar que o senhor está sob juramente e deve falar a verdade”, alertou o senador Omar Aziz, presidente da CPI.

Bolsonaro atuou por cloroquina

À CPI, Ernesto confirmou a informação divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo de que o governo Bolsonaro mobilizou uma estrutura diplomática brasileira para adquirir cloroquina junto à Índia, medicamento sem eficácia comprovada para o tratamento da Covid-19.

“Naquele momento, março, havia uma expectativa de que houvesse eficácia no uso da cloroquina para o tratamento da Covid, não só no Brasil. Havia notícias sobre isso de vários lugares do mundo. Houve uma grande corrida aos insumos para hidroxicloroquina e baixou precipitadamente o estoque de cloroquina, fomos informados pelo Ministério da Saúde ”, disse.

Carta da Pfizer

Ernesto Araújo afirmou à CPI que não encaminhou a Bolsonaro carta na qual a Pfizer oferecia negociação sobre vacinas porque presumiu que ela já havia sido entregue ao mandatário.

A farmacêutica enviou documento ao presidente da República com cópia para a Embaixada do Brasil em Washington, que a encaminhou a Ernesto.

Após ser questionado pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o ex-chanceler disse que não mandou o texto a Bolsonaro porque ele já estava copiado como o destinatário da carta.

“Presumia que o presidente da República já soubesse”, afirmou.

“Bússola que direcionou aos caos”

A senadora Kátia Abreu (PP-TO) fez uma dura fala contra Ernesto Araújo, dando sequência a uma troca de farpas que resultou na sua demissão do Itamaraty, em março.

Kátia falou durante 20 minutos, sem ter feito nenhuma pergunta ao depoente. Inicialmente ironizou a fala de Ernesto na CPI, afirmando que ele tem duas “personalidades”. A senadora então explicou que o ex-chanceler na comissão adotava um tom mais contido, negando críticas à China, mas que nas redes sociais e em artigos costumava ser mais virulento.

A senadora reconheceu que houve aumento no volume das exportações para a China no último ano, mas afirmou que ela aconteceu “a despeito” de Ernesto.

Kátia Abreu também afirmou que o comportamento do então chanceler com a China foi nocivo para o país, em particular na aquisição de vacinas.

Ameaça a senadores

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) afirmou ainda que membros da CPI estão recebendo ameaças por um aplicativo de mensagens. O vice presidente da comissão pediu que o conteúdo das mensagens fosse repassado à Polícia Federal, o que foi acatado pelo presidente, senador Omar Aziz (PSD-AM).

Em resumo

O depoimento de Ernesto Araújo acrescenta mais elementos de que o governo Bolsonaro agiu, por ação e omissão, numa má condução da pandemia. Fala atestada após o ex-chanceler confirmar que Bolsonaro empenhou-se diretamente em pressionar o Itamaraty para conseguir insumos para cloroquina junto à China. Interesse não demonstrado para adquirir imunizantes.

Araújo em diversos momentos atribuiu a responsabilidade de ações do governo na pandemia à orientações do Ministério da Saúde. Eduardo Pazuello, por sua vez, terá a oportunidade de esclarecer nesta quarta sobre os parâmetros que nortearam a pandemia no Brasil.