Imagem: Divulgação/JBS

Por Maria Vitória de Moura

Em reportagem publicada no New York Times, a jornalista Hannah Dreier denunciou o uso de trabalho infantil por empresas estadunidenses. Durante meses, o jornal acompanhou mais de cem crianças imigrantes que estavam trabalhando em 20 estados americanos. Segundo a matéria, a maioria das crianças são latinoamericanas, vindas, principalmente, da Guatemala. Desacompanhadas, essas crianças imigram sozinhas para trabalhar e mandar dinheiro para suas famílias.

Entre as empresas acusadas, está a estadunidense Packers Sanitation Services, responsável pela limpeza de fábricas da maior processadora de carnes do mundo, a marca brasileira JBS. Em fevereiro, a Packers Sanitation Services foi multada em US$ 1,5 milhão por trabalho infantil.

A apuração dos casos revelou que, apesar da exploração de crianças da América Central ter crescido na última década, essa situação se agravou de forma alarmente desde 2021, no cenário da pandemia. Em 2022, 130 mil menores desacompanhados imigram para os EUA, número três vezes maior do que há cinco anos atrás.

Segundo Hannah Dreier, a cidade de Worthington, no estado de Minnesota, recebeu mais crianças imigrantes desacompanhadas per capita do que quase qualquer outro lugar do país. Além disso, a jornalista afirma que há muito tempo é de conhecimento geral que crianças imigrantes liberadas pelo Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (HHS, na sigla em inglês) estavam trabalhando em um matadouro administrado pela JBS.

Após a denúncia, inspetores do trabalho encontraram 22 crianças que falavam espanhol trabalhando para a empresa Packers Sanitation Services, contratada para limpar a fábrica da JBS em Worthington. Algumas crianças apresentavam queimaduras químicas dos produtos de limpeza corrosivos usados.

Apesar de a lei federal estadunidense proibir menores de atuar em trabalhos perigosos, incluindo conserto ou instalação de telhados, processamento de carne e panificação comercial, é justamente nesses empregos nocivos que o trabalho infantil é mais utilizado.

O Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos é responsável por acompanhar as crianças imigrantes e que, posteriormente, são entregues a “padrinhos”. Eles possuem o papel de cuidar dos menores. Após a entrega aos adultos responsáveis, o departamente deve manter contato com as crianças para acompanhá-las e protegê-las. Porém, essa função não tem sido bem executada. Nos últimos dois anos, a agência perdeu contato com um terço das crianças imigrantes entregues esses padrinhos.

Em resposta à Folha de S. Paulo, a JBS disse que “exige contratualmente de seus parceiros a adesão aos mais altos princípios éticos, conforme descrito em seu código de conduta de associados de negócios”. Disse, ainda, que após o ocorrido “cancelou o contrato com a empresa terceirizada e contratou uma auditoria independente em todas as suas instalações para avaliar minuciosamente essa situação”.

O trabalho infantil nos Estados Unidos, porém, vive uma escala muito complexa, onde crianças endividadas estão sob intensa pressão para ganhar dinheiro. Eles enviam parte do que ganham de volta para suas famílias e, muitas vezes, estão em dívida com seus patrocinadores por taxas de contrabando, aluguel e despesas de subsistência.

“Ainda tenho que pagar minha dívida, então preciso trabalhar”, disse Mauricio Ramirez, 17,  ao New York Times. Após a empresa Packers Sanitation Services ser multada e ter seu contrato com a JBS rescindido, Ramirez encontrou outro emprego no processamento de carne na cidade vizinha.