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Por Stella Gianna Zanelatto Junqueira

Desde de 2018, com o grupo de direita conservadora tomando poder na eleição de Jair Bolsonaro, alguns tópicos polêmicos ficaram em alta, um deles sendo a necessidade ou não de Educação Sexual nas escolas. Por uma visão superficial, rasa e limitada, a ideia de um sistema acadêmico que proporciona essa pauta no currículo é absurda pois é expor crianças à aulas de como se ter relações sexuais. Contudo, essa teoria não só é desatualizada como também perigosa, umas vez que diversos educadores sexuais vêm dizendo que a melhor maneira de prevenir abusos sexuais, especialmente contra crianças, é fornecer educação adequada para esse tema.

Foto: Arquivo pessoal

 

 

 

A pós-graduada em educação em sexualidade, Thais Gutierrez, foi entrevistada pelos Estudantes NINJA após o episódio misógino contra a menina de 11 anos em Santa Catarina, que engravidou após um estupro, e quase teve seu direito de um aborto legal e seguro impedido por políticos conservadores.

 

 

 

Segundo Thais, o problema é mais do que urgente, uma vez que, por exemplo, crianças estão tendo acesso à pornografia e pedófilos facilmente pelo investimento dessa indústria. Ou ainda, porque no Brasil, se tem 4 meninas de até 13 anos estupradas por hora, segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. É com esses dados que se começa a perguntar qual é o papel da escola diante deste cenário.

De acordo com estudos, em 44% dos casos de abuso sexual, o professor é a primeira pessoa a saber (Cunningham; Sas, 1995). Sem falar ainda, que 80% dos casos de violência sexual contra crianças e adolescentes acontecem dentro do próprio ambiente familiar, segundo a Ouvidoria Nacional do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos e a escola, como dito antes, pode ser o ambiente que as crianças refletem comportamentos que vêm em casa, ou onde contam relatos, o que nesse caso pode acabar as salvando de abusadores.

“Capacitar os profissionais das escolas pode ajudar no diagnóstico precoce dos casos, denúncias, suporte e apoio à vítima, além de encaminhamento para tratamentos especializados”, diz Thais.

Não só o abuso sexual prevenido é um dos tópicos pelo qual educação sexual deve estar presente nas escola, como também o respeito aos outros corpos e ao seu próprio.

“A sexualidade é parte integral do ser humano, portanto está ligado com a saúde integral humana. A educação sexual além de ser importante para o desenvolvimento integral, é a principal aliada na prevenção de violência sexual e não só na infância. É falar de consentimento, respeito, emoções, bem estar, compreender situações de risco, prevenção de gravidez na adolescência, uso de preservativo, prevenção de IST ‘s, consciência, autonomia, responsabilidade, protagonismo. Jovens que recebem iniciam a vida sexual com maior responsabilidade.” concluiu Thais.

A educadora ainda diz que é na escola que as crianças e os jovens tem as primeiras conversas sobre sexo e afetividade, onde começam a conhecer os corpos, desejos, conviver com diversidade, fazer experimentações, trocas, autoconhecimento, questionar normas de gênero. Daí surge outra utilidade para tal tópico: debater sobre sexismo, misoginia, LGBTfobia, lugares de poder, etc.

O conhecimento da importância e urgente da educação sexual para crianças e adolescentes no ensino, público e privado, de forma adequada deve chegar em todas as camadas sociais. É questão de saúde pública, de prevenir doenças mentais, físicas ou distúrbios ainda mais fortes por conta de violações. É urgente para a sociedade que se faça investimentos como esse. Crianças e jovens precisam saber se estão sendo abusados e os adultos precisam saber o que fazer nesses casos. A mudança começa no sistema.