Um relatório divulgado antes das negociações pelo Pnuma destaca que a reciclagem e a reutilização do plástico têm o potencial de reduzir em até 80% a poluição

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Representantes de 175 países, incluindo o Brasil, estão reunidos em Paris para a segunda etapa de negociações de um tratado histórico sobre o ciclo de vida do plástico. Nessa importante discussão, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) propõe quatro eixos fundamentais: reciclagem, reutilização, reorientação e diversificação. O objetivo é evitar que o mundo se torne um enorme depósito de lixo.

O Pnuma alerta que a produção de plástico aumentou exponencialmente nas últimas décadas, com uma média de 400 milhões de toneladas por ano, um número que deve dobrar até 2040. Esse cenário alarmante impulsionou a elaboração de um tratado juridicamente vinculante, com a primeira rodada ocorrendo no Uruguai no ano passado. A França sedia essa segunda rodada, que faz parte de uma série de cinco encontros planejados até 2024, culminando na Coreia. A expectativa é que os países adotem o tratado em 2025.

O tratado aborda o ciclo completo do plástico, desde sua fabricação até sua chegada aos oceanos, passando pela incorporação de aditivos.

Esse material, derivado de combustíveis fósseis, é considerado ambientalmente prejudicial desde sua produção até seu descarte. Na natureza, leva cerca de quatro séculos para se decompor, formando micropartículas perigosas encontradas tanto na atmosfera quanto nos oceanos, representando uma ameaça quando inaladas ou ingeridas.

Um relatório divulgado antes das negociações pelo Pnuma destaca que a reciclagem e a reutilização do plástico têm o potencial de reduzir em até 80% a poluição causada por esse material. No entanto, o documento ressalta que serão necessárias outras medidas para lidar com as 100 milhões de toneladas métricas geradas anualmente por produtos de vida curta até 2040. Essa quantidade equivale a aproximadamente 5 milhões de contêineres de transporte, que, se colocados lado a lado, se estenderiam por 30 mil quilômetros, o equivalente a uma viagem de ida e volta de Nova York a Sydney.

O presidente francês, Emmanuel Macron, chamou a situação de “bomba-relógio” em um vídeo enviado aos participantes do encontro. Ele destacou a necessidade de eliminar um modelo globalizado e insustentável de produção e consumo de plástico, enfatizando a importância de reduzir a produção de plásticos novos e banir produtos altamente poluentes, como os descartáveis, o mais rápido possível.

Além dos defensores da substituição do plástico, o encontro também conta com a participação de representantes da indústria. Inger Andersen, diretora executiva do Pnuma, destaca em entrevista que as empresas precisam contribuir com o tratado. Ela menciona o exemplo do tratado da camada de ozônio, considerado um grande sucesso, que não teria sido possível sem a presença da indústria nas negociações. Andersen acredita que as empresas seguirão a legislação quando ela for aprovada, e é melhor que elas participem das discussões e façam parte da mudança que o mundo busca.

Dentre os países participantes, há uma coalizão liderada por Ruanda e Noruega que defende a eliminação total da poluição plástica até 2040. Por outro lado, grandes produtores, como China e Estados Unidos, enfatizam a importância da reciclagem e da gestão de resíduos.

O Brasil faz parte do grupo que insiste na necessidade de uma redução drástica no uso do plástico, especialmente para evitar a contaminação de seus 5,7 milhões de quilômetros quadrados de área marinha. As micropartículas plásticas representam uma ameaça aos ecossistemas marinhos e à saúde humana, impactando também a indústria pesqueira.