Foto: Mismiba Tinashe Madando

Um levantamento realizado em conjunto pela Vital Strategies e pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel) capturou o aumento de 41% nos casos de depressão no país entre o período pré-pandemia e o primeiro trimestre de 2022.Jovens e os adultos até a faixa dos 40 anos estiveram entre os mais afetados pelo aumento nos diagnósticos de depressão.

Entre jovens de 18 a 24 anos, a depressão saiu de 7,7% no período pré-pandemia para 14,8% no 1º trimestre de 2022, o maior salto entre as faixas etárias. Em ambos os períodos, as mulheres apresentaram cerca de 2,5 vezes mais depressão do que os homens.

Divulgada em abril, a pesquisa foi batizada de Covitel (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas não Transmissíveis em Tempos de Pandemia) e sua metodologia baseada em ligações telefônicas para 9 mil pessoas.

Uma das principais explicações para esse aumento é o estresse sem precedentes causado pelo isolamento social decorrente da pandemia. Ligados a isso estavam as restrições à capacidade das pessoas de trabalhar, busca de apoio dos entes queridos e envolvimento em suas comunidades. No Brasil também é de se considerar a crise econômica que abateu grande parte das famílias brasileiras.

No mundo, esse aumento foi de 25% no primeiro ano da pandemia, de acordo com um resumo científico divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).

“As informações que temos agora sobre o impacto da COVID-19 na saúde mental do mundo são apenas a ponta do iceberg”, disse Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS. “Este é um alerta para que todos os países prestem mais atenção à saúde mental e façam um trabalho melhor no apoio à saúde mental de suas populações”.

Desmonte da política de saúde mental

No Brasil a presidenta do Sindicato dos Psicólogos de São Paulo, Fernanda Magano, alerta: a política de saúde mental do governo Bolsonaro é a volta aos manicômios. Ela ainda conta que o governo está desmontando toda a rede de atenção psicossocial. Em uma carta de repúdio a Abrasco (Associação Brasileira de Saúde Coletiva) denunciou a ausência completa de algum plano ou política para tratar a saúde mental após dois anos de pandemia.

Duas medidas tomadas recentemente pelo governo Bolsonaro mostram como ele e seu entorno agem às escuras para atacar a política antimanicomial do Sistema Único de Saúde (SUS). São elas a abertura do Edital de Chamamento Público nº 3/2022 – que irá selecionar Organizações da Sociedade Civil (OSC) para prestar atendimento como hospital psiquiátrico – e a Portaria 596/2022 – que susta o Programa e o Incentivo Financeiro de Custeio Mensal para o Programa de Desinstitucionalização Integrante do Componente Estratégias de Desinstitucionalização da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS).

“Enquanto vemos a Rede de Saúde Mental territorial desfinanciada, o governo federal privilegia os escassos recursos para modalidades exclusivas de internação como os hospitais psiquiátricos e as comunidades terapêuticas”, aponta a nota da Abrasco.