Foto: Petr David Josek / Associated Press

Por Alex Fravoline

A Copa do Mundo é um dos maiores eventos globais que movimenta o turismo no país sede, e com o Catar não poderia ser diferente. Diferente das edições anteriores, Rússia e Brasil, onde os turistas tinham uma noção da cultura e costumes do país, o Catar chegou como uma rota impensável para a grande massa de viajantes, que escolhem destinos mais conhecidos, aventureiros ou paradisíacos. A nação sede começou a desempenhar uma grande responsabilidade com o turismo, a começar por ser a nação do Golfo a ser o centro das atenções, deixando os Emirados Árabes Unidos em segundo plano, sendo este o mais bem sucedido em turismo da região, com Dubai e a capital Abu Dhabi liderando a lista de cidades. Para isso, Doha recebeu potenciais investimentos; o suficiente para ser a Copa mais cara de todas, segundo a Forbes. Porém, obstáculos foram encontrados. Além da pandemia de Covid-19, o país foi pauta de vários assuntos que dividiu opiniões. Entre várias polêmicas carregadas, a mais lembrada são as proibições e regras que o país possui, afastando turistas mais liberais e que prezam por um destino que não limita seu divertimento. Porém, ao que parece, esse obstáculo não foi o suficiente para que o país pudesse faturar mais que as outras Copas.

De fato, o que se espera ao fim dessa Copa é a de que os torcedores consumam mais que as anteriores e que o faturamento atinja uma marca histórica para os padrões da FIFA. Segundo informações da Visa, parceira oficial de meios de pagamentos do evento, as despesas nos pontos de venda instalados nos locais da Copa já superam as registradas no Brasil em 2014 e alcançaram 90% das realizadas na Rússia, em 2018. Autoridades catarianas insistem que a maior parte desses gastos teria ocorrido sem a Copa do Mundo, como parte dos esforços para diversificar a economia do país, afastando-a da dependência das exportações de combustíveis fósseis, porém o observado é que o evento segue funcionando como um teste, tanto para a capacidade de sediar grandes eventos, quanto para persuadir milhões de pessoas a viajarem para esta pequena e árida península que se projeta para o Golfo Pérsico. “É muito importante para eles fazer disso um enorme sucesso”, disse Pat Thaker, diretor regional para o Oriente Médio e África da Economist Intelligence Unit. “O mundo inteiro está assistindo”, complementa.

Torcida brasileira festejando no metrô de Doha, a caminho do estádio. Foto: Reprodução/YouTube

A escolha de um país árabe para a Copa também fez o Brasil assistir e entender mais sobre a cultura, além da geografia. O brasileiro é conhecido por ser o torcedor mais apaixonado e irreverente, afirmação provada pela transmissão de sucesso do jornalista Casimiro na internet e seu time, como o humorista Diogo Defante, que produz entretenimento direto do Catar. Inegável que o país seria alvo de vários turistas daqui, movidos pelo retorno da paixão pela seleção, a esperança do hexacampeonato e embarcar em um lugar com costumes muito diferentes, além de ser um destino luxuoso. Um grupo brasileiro que vende com exclusividade pacotes de hospitalidade e turismo para quem deseja acompanhar as partidas da Copa de perto, o Grupo Águia, confirma que a receita dos serviços já alcançou a meta e só não superou os jogos de 2014, no Brasil. De acordo com uma matéria do jornal Extra, a expectativa do presidente das empresas que compõem este grupo era chegar ao lucro de 33 milhões de dólares, 13 milhões a mais que a receita obtida pela edição anterior, na Rússia. Neste ano, o faturamento chegou a 40 milhões de dólares.

Torcida do Brasil recebe seleção brasileira no Westin Doha Hotel Spa. Foto: Gabriela Biló/Folhapress

Ao todo, cerca de 2,5 mil brasileiros foram ao Catar. Número pequeno se comparado aos mais de 214 milhões de habitantes. Mesmo assim, atingiram a marca histórica de despesas com o evento, muito atribuído aos bem valorizados serviços e produtos do país. Com pacotes que custaram a partir de 4.420 dólares (38 mil reais), sem contar o ingresso para os jogos e as passagens aéreas, turistas brasileiros tiveram hotéis cinco estrelas como única opção. Uma demanda que foi muito bem atendida, contudo uma porcentagem muito pequena de brasileiros, que possui uma boa condição financeira para essa viagem. E é uma obrigação, já que a fama de “luxuoso” do país não é por acaso: um copo de 500ml de cerveja, item proibido para consumo em lugares públicos por lá e vendido somente na Fifa Fan Fest com limitações, sai a 73 reais.

Torcedores brasileiros decepcionados com a eliminação da seleção na Copa do Catar. Foto: Adrian Dennis/AFP

Com a eliminação do Brasil nas quartas de final, alguns torcedores adiantaram a viagem, enquanto outros ficaram para viver a experiência completa e conhecer mais um pouco do mundo árabe. Para muitos turistas, o saldo da estadia foi positivo; excluindo, é claro, as polêmicas envolvidas, uma vez que a maioria desses torcedores não são proibidos no país e seu estilo de vida não é discriminatório ou criminoso aos olhos árabes. Até a pauta do controle de álcool fez com que muitos estrangeiros apoiassem a proibição de cervejas em torno dos estádios para não estimular brigas e bagunças. A copa mais cara de todos os tempos conseguiu fazer a sua festa e alegrar os convidados que puderam arcar com a visita e o esperado após a copa é impulsionar ainda mais o turismo no país e visibilizar outras nações banhadas pelo golfo, como Bahrein e Omã, ainda ofuscadas pelos Emirados Árabes e desconhecidas por mundos. A expectativa da Fifa é de que a receita deste ano supere os 5,4 bilhões de dólares arrecadados na Rússia em 2018.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube