Reportagem de Thiago Arantes, no Uol, revela que por trás da decisão que pode punir time e levar torcedores à cadeia só existem pessoas brancas

Foto: EFE/ Kiko Huesca

Entre os envolvidos diretos no caso que apura o crime de racismo contra Vini Jr., dentro de todas as instituições que tomarão as decisões relacionadas às denúncias, punições ao clube, prisão de torcedores ou mudanças nas leis, não há nenhuma pessoa negra. Essa constatação foi revelada pelo colunista do Uol, Thiago Arantes.

Em uma entrevista na quinta-feira (25), o presidente da La Liga, Javier Tebas, foi questionado sobre a presença de funcionários negros na entidade e quantos eram. O jornalista brasileiro João Venturi fez essa pergunta, o que deixou o dirigente desconfortável.

“Nós não contamos, isso sim que seria? Posso assegurar que temos, porque eu viajo muito. Em Angola temos um negro trabalhando? É que não contamos. Seria incrível que tivéssemos essa estatística. Nós contamos por sexo. Eu sei que há gente asiática. Se eu contasse, você diria que sou um racista”, respondeu.

Ao verificar o organograma da La Liga, disponível no site da instituição, é possível observar que todos os 18 funcionários em cargos de direção são brancos. Dos 77 trabalhadores mencionados no arquivo, apenas uma pessoa é negra, ocupando um cargo na área de inovação tecnológica, aponta Arantes.

A La Liga é responsável por denunciar casos de racismo ocorridos nos jogos das duas principais divisões da Espanha. Esses processos são gerenciados pela Direção de Integridade e Segurança (DIS), que conta com quatro funcionários, todos homens brancos.

Essa mesma falta de representatividade se reflete na administração da Federação Espanhola de Futebol (RFEF), que possui influência sobre os árbitros que atuam na Espanha. Na próxima semana, a RFEF deverá tomar decisões importantes sobre protocolos e procedimentos futuros em casos similares, mas essas decisões serão tomadas apenas por pessoas brancas.

Entre o presidente, o secretário-geral e os vice-presidentes, a entidade conta com 12 funcionários, sendo 11 homens e uma mulher, nenhum deles negro.

Uma foto da área presidencial do Real Madrid também chamou atenção por um motivo semelhante. Durante o jogo contra o Rayo Vallecano, Vini Jr. assistiu ao lado do presidente do clube, Florentino Pérez. Ao redor do jogador estavam convidados e membros da diretoria, sendo que o único negro presente era o ex-jogador Roberto Carlos, que atualmente exerce o cargo de embaixador do clube.

Foto: reprodução/redes sociais

De acordo com as informações no site oficial do Real Madrid, a cúpula administrativa do clube é composta por 17 pessoas, incluindo o presidente, vice-presidentes e membros do conselho administrativo. São 16 homens e uma mulher, todos brancos.

Na segunda-feira (22), o Real Madrid levou o caso de racismo envolvendo Vini Jr. ao Ministério Público Espanhol. No site do órgão, constam 54 procuradores, nenhum deles negro.

O órgão governamental responsável por lidar com casos de racismo na Espanha é a Comissão Estatal contra a Violência, o Racismo, a Xenofobia e a Intolerância, vinculada ao Conselho Superior de Esportes. No entanto, esse grupo responsável pelas decisões também não possui membros negros.

O colunista do Uol destaca que, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística da Espanha, a população negra no país corresponde a 2,4%.