“Perdi a confiança no Jair. Tenho vergonha de ter acreditado nele. É uma pessoa louca, um perigo para o Brasil”.

Bebianno era “colaborador voluntário” como o próprio afirmou, devoto e homem de confiança do presidente. Foto: Ricardo Moraes/Reuters

A frase de Gustavo Bebianno, ainda secretário-geral da Presidência da República, circula hoje nas mídias e sinaliza o auge da crise do governo em pouco menos de 50 dias.

Não é pouca coisa. Pra quem ainda não entendeu nada, traçamos aqui em ordem cronológica como a crise envolvendo Bebbiano e a família Bolsonaro tem avançado. E como ela pode culminar na saída de um dos principais aliados do presidente Bolsonaro e provocar uma instabilidade na relação com sua base de governo, inclusive no legislativo.

1) O advogado Gustavo Bebianno não era somente um aliado do então deputado Jair Bolsonaro. Ele havia conquistado sua confiança quando Bolsonaro ainda nem tinha partido político para disputar as eleições de 2018. Ao entrar no PSL, uma das condicionantes do deputado foi colocar o partido sob o comando de Bebianno durante o período eleitoral.

2) Durante o pleito para a presidência da república, Bebianno era o responsável por autorizar o repasse de verbas da campanha. Por isso, atualmente, a crise do uso de candidaturas laranjas caiu em seu colo. Contudo, Bebianno também tinha outras responsabilidades. Ele estava na tomada de decisões estratégicas da campanha e ajudou a solucionar a crise envolvendo as fakes news e o uso do WhatsApp pela candidatura do PSL.

Em meio a essa instabilidade, muito tem se falado sobre a relação de devoção entre Bebianno e Bolsonaro antes dele chegar à presidência. Bebianno, segundo esses rumores, colaborava com o candidato nos assuntos em que ele não dominava. E fazia parte do grupo restrito de aliados que acompanhava Bolsonaro em seu atendimento cirúrgico pós-atentado em Juiz de Fora.

3) A desavença com Carlos Bolsonaro, o filho do presidente, não apareceu agora. Ela já havia sido sinalizado nas mídias quando Bebianno, no período de transição do governo em novembro passado, foi anunciado como futuro ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Os bastidores da equipe de transição já relatavam que havia um desconforto e “ciúmes” do filho de Bolsonaro com Bebianno. Durante o anúncio, Bebianno havia indicado que Carlos Bolsonaro estava cotado para assumir a Secretaria de Comunicação da presidência. Segundo a imprensa, pessoas próximas ao filho do presidente relataram que se tratava de um “afago falso”. A declaração de Bebianno repercutiu negativamente pois o assunto foi, por motivos óbvios, visto como nepotismo do governo.

Carlos ficou furioso, como demonstrou no Twitter. Ele desmentiu Bebianno e anunciou sua saída da equipe de transição. O próprio presidente também desmentiu seu aliado e disse à imprensa que a “tendência é esse assunto morrer”. O assunto morreu mas a desavença de seu filho com seu conselheiro voltou à tona.

https://twitter.com/carlosbolsonaro/status/1065407221331312640

4) O nome de Bebianno voltou a provocar a instabilidade no governo após a denúncia de repasse ilegal de verbas do PSL durante a campanha eleitoral. Resumidamente, o esquema foi a destinação milionária de verbas públicas para candidaturas que não fizeram campanhas e nem receberam um número substancial de votos, ou seja, laranjas.

Bebianno foi diretamente responsável já que era dele a decisão de destino das verbas da campanha, como o próprio presidente do PSL Luciano Bivar acusa. Bebianno, em sua defesa, diz que liberava o dinheiro a dirigentes estudais e era impossível controlá-los um a um.

5) Ele também disse que estava sendo respaldado pelo presidente Bolsonaro, e foi imediatamente desmentido por quem? Sim, Carlos Bolsonaro vazou um áudio do próprio pai afirmando a Bebianno que não falaria sobre o assunto. Carlos tem sinalizado às mídias que a demissão de Bebianno já está em trâmite, ampliando ainda mais uma crise interna de governo após o escândalo das laranjas.

6) Chegamos então às declarações de Bebianno relatadas nas aspas do início desta matéria. O secretário-geral demonstra não ter gostado nada do “gelo” que levou do presidente, de quem era devoto e fã, chamando-o de louco e afirmando ter perdido a confiança.

Os rumores ainda devem continuar nos próximos dias. Quem está ligado à família Bolsonaro e sobretudo aos aliados do PSL, inclusive os próprios membros do partido, afirma que a crise do governo começa a afetar a sua própria base. Isso porque Bebianno era “unha e carne” do presidente Bolsonaro e uma “traição” abre precedentes para uma instabilidade cada vez maior. Seguiremos os próximos capítulos.