Júlia Vaini é uma das candidatas a ocupar espaços a curto, médio e longo prazo no futebol feminino

Foto: Reprodução @SaoPauloFC_Fem

Por Cristina Dominghini Possamai  

A campanha da seleção brasileira na Copa do Mundo foi aquém do esperado. Entretanto, o futebol feminino dá sinais claros de que não retrocederá, tanto em alcance de mídia quanto em desenvolvimento esportivo.

Após eliminação na fase de grupos, o presidente Ednaldo Rodrigues publicou uma carta aberta, nas redes sociais da Confederação Brasileira de Futebol, se comprometendo a seguir investindo na modalidade.

“Teremos agora um ciclo olímpico pela frente e seguiremos dedicados a avançar. Faremos os investimentos necessários para que o Brasil venha nos Jogos Olímpicos, assim como nas próximas competições, com ainda mais apoio em busca dos melhores resultados”.

Rodrigues também destacou a criação de novas competições de base. “Vamos implementar também, ainda esse ano, durante as férias escolares, o Campeonato Brasileiro Sub-15/17, envolvendo todas as regiões do país. Competição essa que, em um curto prazo, revelará quase 1.500 novas jogadoras”.

Se Marta já alertou que ela, Cristiane e Formiga não atuariam para sempre, o futuro passa pelo fomento e a revelação de novos nomes. Além disso, a nova geração de talentos tende a encontrar condições muito mais favoráveis, como a existência de categorias de base tanto na seleção brasileira quanto em clubes tradicionais do futebol brasileiro.

Da brincadeira de bola à base do Tricolor Paulista

Natural de Osasco, Júlia Vaini é uma das candidatas a ocupar esses espaços a curto, médio e longo prazo. Já convocada para a seleção brasileira sub-17, a atleta de Osasco tem só 16 anos, mas, segundo o pai (o metalúrgico Pedro Alexandre de Oliveira), praticamente começou a andar com o auxílio de uma bola de futebol.

Quando tinha apenas 7 anos, Júlia entrou no projeto Liga de Osasco, no núcleo Garotos da Vila. Foi no projeto, que tem patrocínio da Belgo, via Fundação ArcelorMittal, que ela começou a desenvolver suas habilidades, até chegar à categoria de base do São Paulo Futebol Clube e, posteriormente, ser convocada para a seleção brasileira.

“Desde pequena, sempre fui envolvida com o esporte, com isso, criei uma paixão pelo futebol. Fui começando a pegar jeito e entrei para uma escolinha, lá me desenvolvi bastante”, conta a atleta, que começou – como boa parte das meninas – treinando ao lado de meninos.

“Sempre quis entrar para algum time e, quando entrei, sempre me dediquei para ter a melhora e cada dia estar melhor. Naquele tempo, eu só tinha contato com meninos, treinava todos os dias com eles e ainda não tinha ideia que existiam times femininos”, relembra Júlia.

Mas o futebol se tornou mais sério no ano passado, quando Júlia passou a vestir a camisa do São Paulo. “Entrei para o São Paulo por meio de uma parceria com o meu clube antigo, foi como uma ponte de lá para o São Paulo. Assinei o contrato em março de 2022, porém só comecei a treinar em agosto”, explica.

A partir daí, a brincadeira de criança ganhou contornos muito mais rígidos e a dedicação se tornou praticamente diária, com uma rotina “bem puxada”, treino de sábado a sábado e jogos aos domingos e quartas”.

Experiência de ‘gente grande’

Como ocorre frequentemente no futebol feminino, Júlia atua em mais de uma posição. “No campo, gosto muito de jogar ali no meio, tanto de meia quanto de volante”, se apresentando com as seguintes características: “meu estilo de jogo é de passes rápidos, bolas longas, passes rompendo linhas, gosto de atacar bastante também, finalizar também”.

A presença em um clube tradicional no futebol nacional também permitiu a participação em várias competições de base, como Campeonato Paulista Sub 17 2022, Liga de desenvolvimento Sub 16 2023, Nike Premier Cup Sub 16 2023 e, atualmente, o Paulista Sub 17 2023.

Nos próximos dias, a jogadora também terá a chance de atuar na Fiesta Conmebol Evolution Sub-16, que acontece ainda neste mês de agosto, tão marcado pela Copa do Mundo Feminina. Ela já chegou até a sentir o gostinho de vestir a camisa canarinho. Júlia fez parte da primeira lista do ano da seleção brasileira sub-17, convocada pela treinadora Simone Jatobá.

Foto: Rafael Ribeiro/CBF – Técnica Simone Jatobá das seleções brasileiras sub-17 e sub-15

Ao todo, 26 atletas foram chamadas para uma etapa de preparação na Granja Comary, em Teresópolis (RJ). As jogadoras se apresentaram no dia 28 de junho e permaneceram até o dia 9 de julho.

“Foi um período muito bom e importante para a minha carreira, um período de muita aprendizagem, a Simone Jatobá instrui muito bem todas dentro de campo e faz com que o nosso jogo seja mais fácil. Foi um período muito bom com as meninas, aprendemos muito juntas e vimos a diferença do estilo de jogo de cada uma”, disse a meio-campista.

E o próximo passo? Garantir uma vaga na lista do Campeonato Sul-Americano. “Preciso focar muito nos treinos e jogos, para que eu possa ser uma opção para a técnica, estou procurando aprender coisas novas para a minha evolução, posicionamento, marcação, melhores opções dentro de campo e muito mais”.

Apoio da família e inspiração em rival

A Copa do Mundo 2023 apresentou jogadoras brasileiras que cumpriram um roteiro já muito comum no masculino: convocação para amistosos e competições de base. Titular em jogos do Mundial, a zagueira Lauren pode servir de exemplo para um caminho que Júlia sonha em traçar no futuro.

Antes dos jogos na Austrália, Lauren defendeu o Brasil, na categoria Sub-20, na Copa do Mundo do ano passado, levando a medalha de bronze. Lembrando que a zagueira, de 20 anos, foi formada na base do São Paulo e já foi Campeã Brasileira Sub-18, em 2021. Também atuou na equipe principal do tricolor paulista nas temporadas de 2020 e 2021.

Pensando nisso, Júlia valoriza a oportunidade que pode ser obtida na seleção a partir de seu desempenho no Tricolor. “O nível no São Paulo é altíssimo e, com isso, nosso desenvolvimento acaba sendo melhor ainda. Acho que, querendo ou não, temos mais visibilidade, mais pessoas acompanhando, por ser um clube de tradição gigantesca”.

Curiosamente, a inspiração para a função desempenhada dentro de campo vem de uma atleta que veste uma camisa rival. Trata-se de Gabi Zanotti, jogadora do Corinthians – atual campeão brasileiro. 

Foto: Reprodução / Corinthians – Gabi Zanotti em ação pelo Corinthians

“Tenho como referência a atleta Gabi Zanotti, acho que o estilo de jogo dela chega a ser parecido com o meu. Acho ela uma excelente jogadora, tem uma visão de jogo absurda”, explica.

E, tendo em vista que o pai, Pedro Alexandre, faz questão de lembrar dos primeiros passos da filha sempre na companhia de uma bola de futebol, a família apoia o esforço da garota de 16 anos que sonha em se tornar jogadora profissional.

“A minha família me apoia bastante, pois todos já estiveram no esporte e, como isso já vem da nossa família, todos apoiam e sempre me dão dicas para melhorar”, conclui Júlia Vaini.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube