Relatório da ONU alerta que a crise climática piora as perspectivas da infância e adolescência e agrava violações de direitos das mulheres

Relatório detalha as vulnerabilidades enfrentadas (Gómez/AFP Service)

 

A degradação do meio ambiente tem desencadeado fenômenos sociais, políticos e econômicos que colocam as mulheres em maior situação de vulnerabilidade, intensificando a violência contra elas. Novo relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado pela relatora especial sobre violência contra mulheres e meninas, Reem Alsalem detalha as vulnerabilidades enfrentadas, principalmente por mulheres pobres e/ou em contextos racializados, indígenas e mulheres com deficiência, que são as mais impactadas. Assim como mulheres de diversas identidades de gênero e orientações sexuais, mais velhas e as que são defensoras de direitos humanos e justiça climática.

Segundo o levantamento, que analisou dados sob a perspectiva da vulnerabilidade feminina, a crise climática, além de reforçar violências pré-existentes, resulta ainda em novos tipos de violações.

Segundo Alsalem, quando desastres de início lento ou súbito atingem e ameaçam os meios de subsistência, as comunidades podem recorrer a mecanismos de enfrentamento negativos, como tráfico, exploração sexual e práticas nocivas como casamento precoce e infantil e evasão escolar.

“Todos os quais forçam mulheres e meninas a escolher entre opções de sobrevivência imbuídas de risco”, destaca.

Mulheres ficam expostas à violência psicológica e sexual em campos e abrigos temporários dada a situação precária destes, além de ficarem mais expostas ao risco de estupros enquanto se deslocam por áreas desconhecidas.

Muitas vezes, para conseguir água e combustível, também são submetidas à exploração sexual para conseguir recursos naturais. Elas também sofrem o peso da separação familiar e ficam sem acesso à educação, comprometendo seu futuro.

Com a ausência de proteção social e em situação e insegurança alimentar, estão expostas a mais riscos de violência.

A relatora da ONU, destaca que houve um aumento de violência contra elas depois de desastres como o furacão Katrina (2005), o terremoto no Haiti (2010), o terremoto em Christchurch, Nova Zelândia (2011), ciclones tropicais em Vanuatu (2011), ondas de calor na Espanha (2008–2016) e incêndios florestais na Austrália (2019–2020).

Para além da violência física e sexual, o relatório mostra as relações da crise climática com violência econômica, violência psíquica e violências outras como mutilação genital e casamento precoce, que é usado, por exemplo, para reduzir despesas domésticas.

Alsalem alerta que deve ser planejada e projetada uma resposta global às mudanças climáticas e à degradação ambiental para que esse cenário de vulnerabilidade seja transformado, sob pena de se reforçar um ciclo vicioso.