Comum em Copas do Mundo e outros eventos, o voluntariado esportivo é uma das principais engrenagens nos bastidores de grandes mundiais

Voluntários da Copa do Mundo Brasil-2014 ganham prêmio Fair Play da FIFA. Foto: Reprodução / Conmebol

Por R. Oliveira / O Asperger

Com a Copa do Mundo FIFA no Qatar tendo iniciado neste final de novembro de 2022, a disputa entre as 32 seleções será bem acirrada esse ano. Muito tem se falado sobre os estádios, as participações ou não dos principais jogadores mundiais como Messi e Sadio Mané, mas sobre os voluntários, personagens principais desse evento, pouco se fala.

São eles que dão todo o apoio e fazem o evento acontecer nos bastidores do maior evento do futebol mundial. Seja atuando no credenciamento, no auxílio aos torcedores, transporte de delegações, na comunicação junto com o jornalismo mundial, no gerenciamento entre os próprios voluntários e tantas outras áreas, a atuação deles é fundamental.

Quando se ouve a palavra “Voluntário” e “FIFA” vem a discussão de que eles deveriam ser remunerados já que a entidade do evento ganha muito dinheiro. Mas para o ex-voluntário da Copa das Confederações de 2013, Final Draw 2013 (Sorteio da Copa) e da Copa do Mundo de 2014, Rodrigo, a experiência no evento é mais importante.

Segundo ele: “apesar de o dinheiro ser uma parte essencial como remuneração pelo trabalho feito, dinheiro nenhum pagaria pelas experiências e as amizades que fiz durante os eventos. Até hoje tenho contato com algumas pessoas.”

Fã incondicional de Copas do Mundo, Rodrigo conta ainda com algumas experiências como ter visto o goleiro Thibaut Courtois da Bélgica, jogadores dos Estados Unidos e Luís Suárez do Uruguai. Mas para ele o ápice foi no jogo entre Brasil e Itália em 2013 pela extinta Copa das Confederações:

“Eu estava como running no carrinho de golfe e alguns dias antes do jogo eu conheci uma representante da Coca-Cola e mostrei a ela a Fonte Nova e contei a história e curiosidades do estádio. No dia do jogo ela perguntou se alguém da minha família iria ao estádio, eu disse que não. Foi aí que ela me presenteou com o ingresso por conta do meu bom trabalho como voluntário”, conta. “Depois disso eu corri pra ligar pra familiares e nenhum podia. Eu falei pra ela isso e perguntei se poderia ficar comigo e ela disse que sim. Quando terminei meus afazeres, corri pra falar com os coordenadores dos voluntários, expliquei toda a situação, e só me pediram para trocar a camisa e subir pra ver o jogo. Foi o primeiro jogo da Seleção Brasileira que eu assisti.”

Foto: arquivo pessoal

Seguindo no mesmo caminho de Rodrigo, o sergipano Igor Cavaco começou também como voluntário no Pan-Americano do Rio em 2007. Atualmente, ele acumula experiências em uma extensa lista de trabalhos como a Copa das Confederações 2013, Copa do Mundo 2014, Olimpíadas Rio 2016, Copa América 2019 e agora na Copa do Mundo Qatar 2022.

Sobre a sua experiência como voluntário no Pan de 2007, Cavaco diz: “isso pra mim foi incrível como ser humano e também como profissional. Porque ali eu olhei e “cara eu quero trabalhar com isso”. Mas o voluntário não é só uma missão profissional, mas como espírito de comunidade.

Igor ainda fala sobre a dicotomia da visão sobre voluntariado no Brasil e no mundo: “As pessoas no Brasil costumam ver o voluntário como uma coisa meio ‘de graça’, ‘besta’, ‘trouxa’ quem é voluntário. Mas você sai do Brasil e vai pro mundo afora, você acaba entendendo que isso é muito comum. Que aquela sociedade tem um espírito comunitário muito grande e que o voluntariado faz parte do dia a dia dessas pessoas.”

Ele ainda ressalta a importância dos voluntários em eventos como a Copa do Mundo: “Um evento como a Copa do Mundo não tem como acontecer sem os voluntários. Os voluntários são mão de obra essencial pra gente conseguir operacionalizar o evento, você precisa de uma quantidade muito grande de pessoas dedicadas pra pensar, tocar e fazer o evento acontecer. Eu acho que o voluntário é muito importante.”

Assim como Rodrigo, a publicitária brasiliense Daniele Almeida, começou no voluntariado esportivo também na Copa das Confederações em 2013 em Brasília e ficou na área de Operações de Imprensa. A experiência foi um divisor de águas na vida dela ao ponto de direcionar sua especialização para o Jornalismo Esportivo.

“Em 2013, em Brasília, eu trabalhei com Operações de Imprensa, foi o pontapé pra eu decidir inclusive a minha formação atual que é o jornalismo esportivo. Foi uma experiência gigante pra mim e foi onde eu vi que realmente eu queria fazer aquilo (jornalismo), que eu queria trabalhar com aquilo.”

Depois dessa experiência de voluntariado, Daniele também participou como voluntária ou contratada na Copa do Mundo de 2014, Liga de Vôlei, UFC, Olimpíada e Paralimpíadas de 2016 e Copa do Mundo Sub-17.

Histórias como a desses brasileiros levam a perceber que o trabalho voluntário não fica restrito apenas a dedicar seu tempo sem retorno financeiro, mas, de que pode ser o pontapé inicial em suas carreiras profissionais e de até mesmo realizar o sonho de ver a Seleção Brasileira graças ao seu bom trabalho voluntário.