Entre os 16 pilotos está Aurelia Nobels, de 15 anos, única e primeira mulher a competir no grid da F4 Brasil

Foto: FIA Girls On Track

Por Bia Carmo

Nos dias 09, 10 e 11 de dezembro aconteceram as corridas de fim de temporada da BRB Fórmula 4 Brasil credenciada pela FIA. É a primeira vez que o campeonato acontece no Brasil. Ao contrário da popular Fórmula 1 que acontece em diversos países, a F4 possui campeonatos locais sendo mais conhecidas as competições da Itália, Espanha, Emirados Árabes e Índia.

Seguindo os padrões da FIA de competições, muitas regras técnicas devem ser seguidas pelas equipes e, além das normativas esportivas e técnicas, os custos também são regulamentados. Um carro para competir nesta categoria, por exemplo, não pode exceder € 30.000.

Esta é uma grande oportunidade para que pilotos brasileiros possam se preparar profissionalmente no automobilismo, sem ter que ir para o exterior tentar ganhar as pistas e futuramente terem oportunidades de competir em outras categorias como a F1.

No dia 14 de maio de 2022 foi a primeira vez que os carros da Fórmula 4 correram pelas pistas brasileiras, sendo 18 corridas, 16 pilotos e 4 escuderias competindo.

Entre os 16 pilotos está Aurelia Nobels, 15 anos, única e primeira mulher a competir no grid da F4 Brasil. Nascida em uma família apaixonada por automobilismo, iniciou muito cedo sua vida nas pistas.

“Nasci nos Estados Unidos, minha família é Belga e moro no Brasil há 12 anos. Meu pai sempre foi apaixonado pelo automobilismo, temos muita coisa de F1 em casa e meu irmão também corre de kart”, conta.

Aos 10 anos começou no kart, se apaixonou pelo esporte e o incentivo do pai, que procurou por equipes, foi primordial para seu desenvolvimento na categoria. Após 05 anos no kart, Aurelia Nobels encabeçou um novo desafio muito diferente do que estava acostumada: a Fórmula 4.

“Comecei muito cedo. Com 14 anos fiz teste de fórmula, então eu tentei antecipar tudo para estar pronta cedo e foi uma ótima escolha! Foi difícil me acostumar no começo com a fórmula, pois é completamente diferente. É muito mais pesado e muito mais duro. O físico exige muito mais. Só que deu tudo certo e estou muito feliz”, afirma.

A rotina para encarar as pistas aos finais de semana não é nada fácil. A automobilista tem treinos físicos diários na academia e quando faz testes em pistas novas há treinos em simuladores para se inteirar e criar referências do percurso.

Além dos preparativos físicos Nobels também trabalha muito o mental, pois a Fórmula 4 acabou exigindo certo amadurecimento por ser necessário controlar o nervosismo, pensar no que está fazendo no momento e ao mesmo tempo pensar em estratégias para os próximos passos durante as corridas. Para manter o foco, a piloto tem seu próprio ritual para equilibrar os ânimos.

“Quando estou indo para a pista gosto de ouvir música, mas quando chego na pista gosto de ficar sozinha, concentrar. Falo com a equipe e meu coach me prepara um pouco sobre a corrida, falamos da largada, mas eu não gosto de ficar com muita gente, sabe? Eu prefiro ficar me concentrando e pensando no que eu tenho que fazer”, afirma.

Dias antes do encerramento da temporada, Aurelia deu mais um grande passo em sua carreira, a jovem é a vencedora da seletiva do FIA Girls on Track – Rising Stars, programa da FIA (Federação Internacional de Automobilismo) em parceria com a Ferrari Driver Academy, projeto de sucesso que descobriu o piloto da F1 Charles Leclerc.

O FIA Girls on Track – Rising Stars visa impulsionar a presença de mulheres nas competições do automobilismo mundial. A Confederação Brasileira de Automobilismo é participante ativa do programa por intermédio da piloto Bia Figueiredo.

“Teve a primeira fase que foi divida em kart, teste físico, mental e dois dias de teste F4 mesmo. Foi na França. Éramos seis meninas e escolheram quatro para a final A final foi junto com a Ferrari em Maranello e foram quatro dias bem intensos, né. Teve de novo parte física, mental, simulador e dois dias de teste de F4”, conta.

A jovem piloto participou da terceira edição e compartilhou um pouco do processo que não analisou somente a performance na pista.

“Eles não olhavam somente o tempo, mas também como você reagia com o carro, tínhamos que falar o que a gente sentia andando. Como a gente melhorou durante os dias. Foi bem difícil, mas pude aprender com os melhores. Fiquei bem feliz, foi uma experiência única. O único problema foi porque tive que esperar um mês para o resultado, mas quando soube do resultado fiquei muito feliz”, diz.

A cada dia ela se torna referência no automobilismo principalmente para meninas que sonham começar nas pistas e sentem-se intimidadas pela baixa representação de mulheres no esporte. Sabendo das dificuldades que enfrenta, Nobels, deixou seu recado para as garotas que estão em dúvida se devem ou não tentar a carreira de piloto.

“É uma jornada muito difícil, principalmente sendo mulher nesse esporte. Você vai sofrer bastante no começo, mas não desista porque sua hora irá chegar. Só foco e trabalho muito duro. Dá o seu máximo que vai dar certo”, afirma.

Em 2023 ela inicia sua primeira temporada na Itália visando muito aprendizado e conquista de ótimos resultados. O futuro e as pistas reservam grandes marcos na carreira de Aurelia Nobels que sonha em conquistar uma vaga na Fórmula 1.