Imagem ilustrativa. Foto: Mídia NINJA

Por Paula Cunha

Se um jogo normal de futebol já pode despertar a ansiedade no mais comum dos mortais, imagina um jogo de Copa do Mundo? Agora imagine que essa pessoa assistindo e torcendo não é um torcedor comum, mas um torcedor com ansiedade diagnosticada e em constante tratamento. Como essa pessoa se sente e como ela pode amenizar os efeitos da ansiedade em seu corpo? Como fazer para se divertir mais e sofrer menos?

Depois do último jogo do Brasil (o fatídico contra a Croácia), e o mais difícil da Copa pra mim, comecei a relembrar como me sentia nos dias que o Brasil jogava. Falo isso porque tenho ansiedade patológica, aquela que é além da conta e precisa de tratamento, e lido com ela há pelo menos dezenove anos. Percebi que sempre que me preparava para assistir a um jogo do Brasil sentia uma espécie de fraqueza antes do jogo começar, como se estivesse há muito tempo sem comer e quase passando mal. Senti isso em todos os jogos, mas não me toquei que não era fome e sim ansiedade.

Ser ansioso é também ter que lidar com a ansiedade dos outros: eu não assisti a nenhum jogo sozinha (seria chato) então tive que lidar com a ansiedade que as pessoas à minha volta geravam em mim. Gente gritando, reclamando, narrando, tocando vuvuzela. O lado bom é que dava uma descontraída e eu esquecia do medo. De acordo com a OMS, o Brasil tinha 18,6 milhões de ansiosos em 2019, quase 10% da população. Pra mim isso significa que posso estar cercada de ansiosos não diagnosticados e que por isso podem não lidar muito bem com seus sintomas e, assim, aumentar meu nível de estresse (esse é um pensamento ansioso).

Na disputa contra a Croácia, meu nível de ansiedade estava no extremo porque era um jogo importante e o Brasil já começou enrolado. Eu queria pelo menos um gol pra dar uma acalmada, o que não acontecia, e então fui gradualmente evitando olhar pra televisão. Eu ouvia o Galvão Bueno e ouvia os comentários à minha volta, mais até do que a voz do narrador. Não teve um jogador poupado pelas críticas dos meus amigos e eu já estava pedindo pra eles pegarem leve porque queria me convencer de que estava tudo bem, que a gente ia ganhar. E ouvia: “ah, do jeito que tá não vai ganhar não, tem que mostrar futebol”. Minha ansiedade aumentava.

A cardiologista Marina da Costa Carvalheira disse em matéria ao Globo Esporte que “em um jogo decisivo, o coração é o órgão mais afetado. Assim, sintomas como palpitações, tremores, sudorese, náuseas, sensação de desmaio e até mesmo a falta de ar podem acontecer”. E foi assim mesmo: na hora do gol inacreditável do Neymar gritei tanto que parecia que ia sair flutuando do meu corpo. Eu disse: “ai meu Deus, acho que vou desmaiar”. Me fizeram sentar e me acalmar, mas logo depois ouço: “nãããão”. Você sabe o que aconteceu.

Depois do empate não assisti mais ao jogo porque precisava poupar meus nervos mas, claro, ouvi o sofrimento dos brasileiros. Por que será que nosso povo é tão emotivo? Fiquei triste de ver os jogadores chorando. Não teria sido melhor levar um psicólogo com eles? Quando uma Copa acaba com o Brasil perdendo, eu sempre decido que não assisto mais, faz mal sofrer. Mas é tão bom quando ganha…

Com informações de IG e GE

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube