Mickey Guyton em “Remember Her Name”

Por Carolina Alcântara

Eu estava pesquisando sobre algumas categorias e os indicados delas, quanto notei uma coisa bem interessante em algumas músicas, que me fez pensar durante um tempo e eu gostaria de compartilhar com vocês.

Fiquei refletindo sobre isso que chamamos de “relacionar-se” e como isso é visto, sentido de diferentes formas para todos nós, não é? O que me fez pensar que se nós sentimos esses relacionamentos de forma diferente, nós experienciamos isso de forma diferente também, não? E se nós experienciamos isso de forma diferente, as lembranças gostosas do que vivemos ali, também serão sentidas e lembradas de forma diferentes. E se as coisas que consideramos boas, são lembradas de formas diferentes, as mágoas, os traumas, a parte que consideramos negativa, também será vivenciada diferente, não é?

E não que uma forma esteja certa e a outra errada, justamente porque essa experiência de se relacionar me parece ser vivida individualmente, ainda que a vivamos em conjunto.

Viajei, né? O que quero dizer é assim, quando escuto Cold de Chris Stapleton, fico questionando por qual motivo durante um relacionamento amoroso, nós nos permitimos a possibilidade de sermos assim, frios em relação ao que o outro sente? E como esse outro está experienciando aquele relacionamento?

E mais uma vez, importante reforçar, não gostaria de ir para o lado, um é mal e o outro bom, não! Essa música me fez refletir sobre qual a forma que eu lido com os relacionamentos que estão em minha volta porque com toda certeza, eu o vivo de um jeito completamente diferente do seu, mas não porque uma está mais e o outro menos, talvez, somente porque a minha história de vivências traga outro tipo de direcionamento para a minha forma de agir, mas ainda assim, eu deveria simplesmente não levar a sua história em consideração e seguir fazendo tudo do jeito que eu acho que deve ser feito? Eu deveria adotar a postura do “você quem criou expectativas” em relação ao outro? E digo isso sobre tudo viu, desde o RH que não liga pra dizer que a vaga não é nossa, até o agradecimento que eu a gente não faz quando entregam o suco no restaurante. Eu falo de retornos, essa música me fez refletir sobre avaliarmos as vivências (dentro do que podemos avaliar) que pertencem àquela relação, e entender que talvez, o fato de não fazermos isso, afeta o outro.

O que me leva para a música Remember Her name da Mickey Guyton, que me faz refletir sobre o quanto a gente mina o sentimento do outro, pede pra essa pessoa não sentir, porque simplesmente não faz sentido pra gente. Porque simplesmente, estamos experienciando aquilo com a nossa vivência, com a nossa história, com a nossa realidade e na nossa realidade, aquilo não machuca. Vamos formando um mundo de pessoas que trancam outras pessoas dentro daquilo que elas sentem, porque nós não entendemos aquele sentimento, mas daí eu estou sendo cruel, não estou? Se eu não tenho a mesma vivência, como posso saber o que o outro sente?!

Talvez seja esse o ponto, não é? Talvez, a resposta seja respeitar o que o outro sente e não “se colocar no lugar desse outro”, porque eu nunca estarei no seu lugar, porque eu nunca vivi as coisas que você viveu, eu nunca senti do jeito que você sentiu. Mas eu posso te ouvir, e quando você falar, e realmente escutar, e deixar você seguir da forma que te fizer melhor e claro, crianças ainda precisam de cuidados viu, mas ainda assim, se permitirmos as crianças a compreenderem os sentimentos dela logo cedo e não mais viver a base do “engole o choro”.

Será que não conseguiríamos seguir mais cientes das nossas escolhas, porque agora, temos uma escolha como cita a música A Beautiful Noise da Alicia Keys com a Brandi Carlile, que deixa claro uma história onde isso aconteceu, não foi? Sei que foi muito mais, mas resumindo, eu invadi a sua vivência, determinei quem você era, dei a você e aos seus sentimentos, um valor menor do que o valor que me dei e te calei. Agora, eu chamo tua dor de mimimi, eu tento silenciar a tua voz, eu falo que você está exagerando, que nem dói tanto assim… por que será que agimos assim né? E por que será que sabendo que fazemos isso, ainda fazemos? Seja no mercado, na empresa, com relacionamentos amorosos, com a família, enfim.

Essas músicas me fizeram refletir sobre isso, sobre o motivo da gente se colocar numa posição superior e acreditando nisso, invalidamos o outro, o sentimento, o pensamento, a vivência, a realidade, a necessidade, etc. do outro. Essas músicas e outras, mas ia virar livro né, então peguei só essas três. Elas me fizeram refletir sobre o porquê eu uso o “EU e o que e como EU sinto/penso” para invalidar o “VOCÊ e o que e como VOCÊ sente/pensa”.

Texto produzido em cobertura colaborativa do S.O.M