Os gastos militares globais atingiram um marco histórico em 2023, registrando o maior aumento percentual desde 2009, de acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI). Com um aumento de 6,8%, os gastos com defesa totalizaram US$ 2,4 trilhões [R$ 12 trilhões] impulsionados por conflitos em andamento e crescentes tensões geopolíticas em várias regiões do mundo.

Por outro lado, 735 milhões de pessoas em todo o mundo estão enfrentado a fome, um número muito maior do que antes da pandemia de Covid-19 e que ameaça o progresso em direção a uma meta global de acabar com a fome até 2030, disse a Organização das Nações Unidas (ONU). Em vez disso, a avaliação projeta que 600 milhões de pessoas estarão subnutridas em 2030.

“Estamos vendo que a fome está se estabilizando em um nível alto, o que é uma má notícia”, disse Maximo Torero Cullen, economista-chefe da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), em entrevista à Reuters.

Em Gaza, os ataques de Israel colocam agora mais de 2 milhões de palestinos expostos à fome extrema, alertou o Unicef. Benjamim Netanyahu tem sido acusado de impedir a chegada de atendimento humanitário em Gaza.

O Brasil lidera uma iniciativa global para acabar com a fome no mundo. O país, liderado por Lula (PT), pretende reunir recursos para que a Organização das Nações Unidas possa avançar em soluções de agricultura e energia sustentável, além de perdoar dívidas de países pobres.

Escalada de gastos

O relatório do SIPRI destacou que os aumentos foram particularmente notáveis na Europa, no Oriente Médio e na Ásia, refletindo um padrão global de escalada nos gastos militares. Países líderes em investimentos em defesa, como os Estados Unidos, China e Rússia, contribuíram para esse aumento, intensificando ainda mais suas despesas militares em meio a uma atmosfera de incerteza e rivalidade.

Uma surpresa para muitos analistas foi o notável aumento nos gastos militares da República Democrática do Congo, com um impressionante aumento percentual de 105%. Isso reflete a magnitude dos aumentos não apenas nos principais atores globais, mas também em regiões afetadas por conflitos prolongados e instabilidade política.

Os gastos militares no Brasil aumentaram 3,1%, chegando a US$ 22,9 bilhões (R$ 119,4 bilhões). A Rússia aumentou 24%, enquanto a Ucrânia viu um aumento de 51% em seus gastos militares, com um adicional significativo proveniente de assistência externa, principalmente dos Estados Unidos.

Outras tendências notáveis incluem o aumento dos gastos militares no México e em El Salvador para combater o crime organizado e as gangues, bem como o aumento dos gastos no Brasil, que cresceram 3,1% em 2023.

O relatório também apontou para o aumento dos gastos militares na região da Ásia-Pacífico, particularmente em resposta às tensões crescentes entre a China e Taiwan. A China aumentou seus gastos militares em 6%, enquanto países como Japão e Taiwan também registraram aumentos significativos em suas despesas em defesa.

Niklas Schörnig, cientista político do Instituto Leibniz de Pesquisa sobre Paz e Conflitos, expressou uma visão pessimista em relação ao futuro, destacando a necessidade urgente de uma abordagem mais coordenada para conter a escalada dos gastos militares. Com a crescente instabilidade global e a falta de acordos de controle de armas, a tendência de aumento nos investimentos em defesa parece destinada a continuar, a menos que haja uma mudança significativa no panorama geopolítico.