Mãe de aluno ameaçado fez a denúncia e gravou um vídeo com os filhos: “a sociedade inteira precisa se mobilizar diante do racismo e do preconceito”, declarou

Mensagens do grupo pelo Whatsapp mostra o teor neonazista. Foto: Reprodução/Instagram

Por Mauro Utida

Dos 32 participantes do grupo de Whatsapp ‘Fundação Antipetismo’ – que se autointitula “neonazistas do Porto” – oito deles receberam a penalidade máxima do Colégio Visconde de Porto Seguro, em Valinhos (SP). Eles foram desligados da instituição, que reiterou em seu comunicado “indignação com o conteúdo de caráter racista, antissemita e misógino de algumas dessas mensagens”.

Estes alunos têm 15 anos de idade e serão investigados pela Polícia Civil da cidade do interior de São Paulo por racismo e xenofobia. Eles foram denunciados pela advogada Thais Cremasco, que é mãe de Antônio – um aluno negro que foi ameaçado por este grupo. Após se opor aos alunos que o adicionaram ao grupo contra a sua vontade e, corajosamente, alertar sobre o teor criminal das mensagens, o adolescente passou a ser alvo de ataques racistas. Em uma mensagem privada por um destes estudantes, ele foi ameaçado: “Espero que você morra fdp negro”, dizia a mensagem.

A mãe do jovem, voltou a comentar sobre o caso em sua conta no Instagram e desta vez gravou um vídeo com os filhos para dizer que irá continuar acompanhando o caso e cobrando quais serão as medidas pedagógicas que a escola vai tomar para combater o racismo.

“Essa luta não é só minha, nem do Antônio e da Tayla. A sociedade inteira precisa se mobilizar diante do racismo e do preconceito!”, disse ela que finalizou com a hashtag #agoraéassim.

 

 

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Agora é assim!

O grupo no WhatsApp com 32 participantes foi criado logo após o resultado do segundo turno das eleições. Os alunos compartilharam comentários de teor violento e discursos de ódio, imagens nazistas, comentários xenofóbicos e racistas. Esse grupo de alunos que se autointitula “neonazistas do Porto”, falam em escravizar os nordestinos e ainda mandaram mensagens desejando a morte do estudante negro que corajosamente fez a denúncia.

A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Valinhos emitiu uma nota que “repudia veementemente os eventos racistas e, se solidariza com os envolvidos”.

O Observatório Judaico dos Direitos Humanos no Brasil também tomou conhecimento do caso e classificou como “estarrecedor” o teor dos comentários trocados pelos alunos no grupo de Whatsapp. “Isso não é e nunca foi brincadeira de adolescente, isso é crime e mata”, declarou o Observatório.

Comunicado do Colégio na íntegra – 04/11/22

O Colégio Visconde de Porto Seguro preceitua a todos os seus alunos, há mais de 140 anos, valores éticos e de respeito ao próximo, praticados e reforçados continuamente, da Educação Infantil ao Ensino Médio e Abitur, de forma a fortalecer o reconhecimento e valorização da diversidade.

Prosseguindo com a apuração das manifestações de alunos de nosso Colégio em redes sociais no início desta semana, reiteramos nossa consternação e indignação com o conteúdo de caráter racista, antissemita e misógino de algumas dessas mensagens.

Reforçamos nosso repúdio veemente a toda e qualquer forma de discriminação e preconceito, os quais afetam diretamente nossos valores fundamentais. Nesse sentido, o Colégio aplicou aos alunos envolvidos as sanções disciplinares cabíveis nos termos do Regimento Escolar, inclusive a penalidade máxima prevista, que implica seu desligamento imediato desta instituição.

Considerando o atual contexto de intolerância e violência verificado em nossa sociedade, o qual se reflete nas famílias e grupos de amigos, em vista dos fatos recentes, o Colégio reforçará suas práticas antirracistas, de conscientização e respeito à diversidade, em todos os câmpus, abordando o assunto de forma ainda mais contundente em suas pautas cotidianas, com iniciativas envolvendo a comunidade escolar, inclusive com apoio de consultoria especializada, para procurar evitar a reincidência de uma situação gravíssima e inadmissível como essa.

Reiteramos nossa solidariedade e apreço a todos que foram ofendidos e continuaremos prestando o devido acolhimento aos alunos e famílias.

Seguiremos cumprindo a nossa missão de promover a educação e a cidadania, auxiliando nossos alunos no desenvolvimento da empatia e respeito ao outro, para a promoção de uma cultura de paz e tolerância mútua.

Contamos com o apoio muito próximo das famílias e dos alunos nessa caminhada, inclusive com o uso consciente das mídias sociais.

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