Conhecido por suas obras ousadas, cineasta grego pode ganhar sua primeira estatueta como diretor

Foto: Atsushi Nishijima/Searchlight Pictures

Por Jonas Moura

Quem não ouviu falar de Yorgo Lanthimos pode estar perdendo uma grande oportunidade de conhecer um dos maiores nomes do cinema moderno. Isso porque, cada vez mais, Yorgos tem se destacado ao produzir filmes com visuais deslumbrantes e deliciosamente exóticos. O diretor e roteirista grego tem 50 anos e é dono de uma filmografia muito bem avaliada pela crítica e cultuada por fãs ao redor mundo. 

Não à toa, seu último filme “Pobres Criaturas” concorre em 11 categorias da 96ª Edição da Cerimônia do Oscar e já recebeu diversos prêmios nos principais festivais de cinema em que participou, incluindo o Leão de Ouro de melhor filme do Festival de Veneza e o Globo de Ouro pela performance de melhor atriz para Emma Stone.

Mas afinal, qual o motivo de todo esse hype em relação à obra de Lanthimos? Essa resposta não é muito difícil de ser respondida para quem conhece o cinema grego. E o diretor apenas tem elevado com maestria e originalidade as conhecidas características dessas produções que são infalíveis na arte de abordar temas polêmicos e tabus.

Por isso, para aqueles que não estão familiarizados com tal ousadia, o cineasta também é uma excelente opção para começar a se aventurar por esse universo tão potente da sétima arte elaborada pela civilização que é considerada a vanguarda da nossa sociedade. Além disso, as criações de Yorgos podem facilmente fomentar relevantes debates sociais e políticos sobre o presente.

“Pobres Criaturas”, por exemplo, é uma fábula moderna que aborda questões de gênero, sexualidade e feminismo. Inclusive, a película não é a única do diretor que traz à tona temas desse tipo. Em “O lagosta”, lançado em 2015, Lanthimos promove uma reflexão sobre os modelos de relacionamentos amorosos e o conservadorismo adotado em uma realidade distópica, mas que poderia muito bem ser comparada às expectativas humanas sobre o amor. A história acabou recebendo uma indicação ao Oscar por seu roteiro original.

“O sacrifício do cervo sagrado”, de 2017, e “Dente canino”, de 2009, são outros dois projetos de Lanthimos que merecem destaque. Principalmente, porque eles propõem uma análise profunda de temas delicados, como as relações familiares e de poder. E ambos preservam a marca da direção de Yorgos que, quase sempre, causa um estranhamento e uma provocação que é tão peculiar no seu trabalho. Dificilmente, o espectador termina de assistir um desses filmes sem ficar horas pensando sobre eles.

Oscar Calixto, ator e roteirista, é um dos admiradores da obra de Lanthimos. Em entrevista para o Cine Ninja, Oscar disse que Yorgos produz o que pode ser considerada como uma espécie de pós-cinema.

“O que Lanthimos faz é quase um pós-cinema. Em sua tapeçaria cinematográfica há linhas bastante visíveis e eloquentes da filosofia e da psicologia moderna, o que invariavelmente torna sua obra imorredoura e confere o ar de um cinema que vai muito além do “lieu commun” ao qual estamos tão acostumados a ver nas telonas. Esse pós-cinema é visível nos olhares dos espectadores comuns que saem de uma sala de projeção após assistir a um filme seu. Muito além da obviedade comercial e muito longe de filmes que acabam nos créditos finais, a obra de Lanthimos parece ir para suas respectivas casas”, enfatizou o ator.

Calixto ainda ressaltou a tempestade de reflexões provocada por cada filme de Yorgos e destacou qual deles mais lhe conquistou.

“O primeiro filme do diretor que me atravessou foi “Dente Canino”. Uma obra na qual ele desenha a revolta de três adolescentes contra seus pais opressivos. E, muito antes do famoso “O Lagosta”, o filme “Alpes”, onde ele se aprofunda na dificuldade de aceitarmos a morte. Sem dúvidas, o diretor vem construindo uma filmografia que merece a atenção de todos não só pelo conteúdo cinematográfico e roteirístico que traz em suas construções audiovisuais, como pelas reflexões que são propostas sobre o que acontece, de um modo ou de outro, na
sociedade contemporânea”, concluiu Calixto.


Vale lembrar que, apesar de ser um nome relativamente novo em Hollywood, Yorgos já tem uma carreira bastante cultuada e premiada e a sua trajetória junto ao Oscar é ascendente. Ao longo dos anos, ele já esteve envolvido na produção de cerca de oito projetos entre longas e curtas-metragens. Contudo, foi somente em 2010 que recebeu a sua primeira nomeação na categoria de melhor filme estrangeiro pela obra “Dente canino”.

Depois disso, o nome de Lanthimos passou a ser mais presente na principal cerimônia do cinema norte-americano. No total, ele já soma quatro indicações como roteirista e diretor. Todavia, Lanthimos ainda não teve a oportunidade de ter o seu trabalho reconhecido pela a Academia. Em 2019, o seu filme “A favorita” recebeu 10 indicações, incluindo melhor diretor. Porém, na ocasião, a produção acabou a noite apenas com a vitória de Olivia Colman, como melhor atriz.

No próximo domingo (10), na noite da cerimônia, o público e os fãs do diretor poderão finalmente vê-lo recebendo alguma estatueta. Certamente, vencer não será o triunfo de Lanthimos. O diretor já é reconhecido em outros importantes festivais pela relevância das suas obras. Isso seria mais uma maneira de celebrar o êxito de uma carreira profissional que acima de qualquer polêmica ou provocação faz um cinema político e vibrante para muito além do território americano.

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2024