“Meus filhos ficaram em choque na hora e agora estão em pânico”, disse a chef de cozinha Caroline Oliveira Lima

Chef de cozinha Caroline Oliveira Lima Foto: Ricardo Lima

Por Isadora Stentzler

A chef de cozinha Caroline Oliveira Lima, de 40 anos, disse que foi alvo de ameaça com arma de fogo por um empresário bolsonarista de Campinas. O caso ocorreu após a vitória do candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), no domingo, 30 de outubro. Segundo a chef, ela gritou do carro “Deu Lula!” e foi perseguida por diversas ruas pelo empresário, até ele encostar o carro, um chevrollet zafira preto, ao lado do dela e apontar a arma.

“Eu senti desespero. Precisava tirar todos daquela situação. Meus filhos ficaram em choque na hora e agora estão em pânico”, conta. Junto com ela, estavam no veículo o marido, a babá, o filho mais velho, de 21 anos, e duas crianças, de 4 e 10 anos, que não conseguiram ir para aula nesta semana, por medo.

Segundo Caroline, ela voltava dirigindo da apuração de votos quando, na Avenida Luís de Tella, no Distrito de Barão Geraldo, em Campinas, quando começou a perseguição. Ela notou que o veículo que a seguia estava no mesmo local onde ela havia gritado a vitória de Lula. Tentando desviar a atenção, ela disse que estacionou o carro, na intenção de fazer o veículo ultrapassá-la.

“Resolvi encostar o carro para ver se ele ia embora e ele emparelhou o carro no meu [ao lado do motorista]. Começou a falar umas coisas do tipo ‘é você que fica gritando?’, pegou a arma e apontou na minha direção”, lembra, sem precisar as demais palavras que o homem teria dito pelo nervosismo do momento. “Na hora arranquei a milhão com o carro. Apaguei as luzes do carro e comecei a entrar em ruas aleatórias, até perceber que ele não me seguia mais”.

Caroline deixou a babá na casa dela e foi para sua residência, com medo. Ela registrou um Boletim de Ocorrências no dia seguinte, por ameaça.

Na segunda-feira, dia 31, a filha de 10 anos não foi para a aula. A menina ainda retirou os adesivos que faziam menção a Lula do carro.

“Ela acha que toda hora vai acontecer algo comigo”, reitera Caroline. “E eu gostaria muito que fosse feito Justiça. Liguei na Delegacia para marcar a representação e fui informada que, provavelmente, será marcada só em janeiro. É surreal isso. Então meu advogado está vendo de entrar com um pedido de adiantamento de representação.”

O temor é porque o acusado mora no mesmo bairro que Caroline e a família. Marido de Caroline, o fotógrafo Ricardo Lima, de 50 anos, estava ao lado dela, no banco do passageiro, quando o empresário apontou a arma. Segundo ele, o homem já teria ameaçado outras pessoas pelo mesmo motivo no bairro.

“Eu já passei por muitas situações no jornalismo. Mas essa situação de ter uma arma apontada para mim foi a primeira vez na minha vida”, aponta. “Nunca vivi algo parecido. Então foi uma situação muito assustadora, acontecer isso quando estava no carro, com a família e com a babá, é algo muito estarrecedor. Considero grave o que aconteceu. Essa situação que vivemos no país é muito delicada, onde as pessoas estão levando num tom de muito ódio. Porque isso é ódio. Acho que a gente tem que se unir e se defender.”

Advogado da família, Hércules Alexandre Franco da Silveira Buscariolo disse que já foi solicitada a representação criminal e com base nesse inquérito será cobrada indenização na esfera cível.