Apesar de ser a menor taxa já registrada pelo IPCA, o índice oficial de inflação do país, a inflação segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses o que desafia o consumo das famílias

População mais pobre é a que mais sente o peso dos preços elevados. Foto: Divulgação

Conforme informações divulgadas nesta terça-feira (9) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o Brasil teve deflação (queda de preços) de 0,68% em julho causado pela redução de combustíveis e energia elétrica.

Apesar de ser a menor taxa já registrada pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), o índice oficial de inflação do país – da série histórica do indicador que iniciou em janeiro de 1980 -, a inflação segue em dois dígitos no acumulado de 12 meses. A alta ficou em 10,07% até julho. Nessa base de comparação, o avanço havia sido de 11,89% até o mês anterior.

O IPCA de dois dígitos ainda causa efeitos negativos no poder de compra dos brasileiros. Na avaliação de Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, o ponto central está entre a população mais pobre que ainda sente o peso dos preços elevados.

“A classe mais pobre precisaria sentir uma queda forte dos alimentos, o que não tende a acontecer. Por isso, a sensação térmica continua ruim”, informou o economistas em reportagem ao jornal Folha de S. Paulo.

Para tentar conter a baixa na economia, o Banco Central vem subindo os juros, o que desafia a recuperação do consumo das famílias e encarece os investimentos produtivos de empresas. A taxa básica de juros, a Selic, está em 13,75% ao ano.

A deflação de julho é a 15ª desde o início do Plano Real e a primeira desde maio de 2020. À época, a baixa havia sido de 0,38%, em um contexto de restrições a atividades econômicas após a chegada da pandemia.

Alimentos e bebidas em alta

O IBGE informou que a alta de 1,30% em alimentação e bebidas foi a maior entre os grupos pesquisados. O segmento acelerou frente a junho (0,80%), contribuindo com 0,28 ponto percentual no IPCA.

O gerente da pesquisa do IBGE, Pedro Kislanov, informou à reportagem da Folha que a inflação do grupo foi puxada por leite e derivados.  O leite longa vida saltou 25,46% em julho. Os preços já haviam subido 10,72% no mês anterior.

Derivados como queijo (5,28%), manteiga (5,75%) e leite condensado (6,66%) também avançaram em julho. Outro destaque veio das frutas, com alta de 4,40%.

À Revista Fórum o economista Marcio Pochmann explicou que “a deflação não expressa a realidade do conjunto de preços, mas resulta da queda do macropreço, que hoje é o combustível”, diz. “O combustível tem impacto geral, pois o país se move em função do álcool, diesel e gasolina”. E essa queda nos combustíveis leva em conta a medida eleitoreira do governo que baixou o preço da gasolina nas refinarias, na segunda quinzena de julho, de R$ 4,06 para R$ 3,86 por litro. A medida correspondeu a uma queda de 4,9% no valor do combustível.

Mais pobres sofrem mais

André Braz, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas), comentou à BBC que a deflação de julho não foi uma queda generalizada nos preços, como normalmente se dá. A constância da alta dos preços dos alimentos, que acumula 14,72% em doze meses, é na verdade a notícia mais importante para André. “É a que mais afeta a população mais pobre. Houve um aumento real dos alimentos, o que significa que a cada visita que a família faz ao mercado, ela volta com menos alimentos”, diz o economista.

quem tem menor poder de compra e destina a maior parte de sua renda para compra de alimentos, o impacto positivo não chegou. “Do jeito que a deflação aconteceu, ela beneficia principalmente o brasileiro mais rico, que consome gasolina e gasta mais energia”, diz Braz. “É uma queda que foi mais sentida pelos ricos.”

Com informações do Jornal Folha de S. Paulo e BBC