Feminicídio bate recorde no 1º semestre de 2022 no Brasil quando repasse ao combate à violência contra a mulher foi o mais baixo

Ato Ni una Menos, em Belo Horizonte. Foto: Mídia NINJA

No primeiro semestre de 2022, 699 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil, média de quatro mulheres por dia, de acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgados nesta quarta-feira (7). O relatório da entidade reuniu as estatísticas criminais de feminicídio e estupro dos primeiros semestres dos últimos quatro anos.

Ao todo, os feminicídio aumentaram 10,8% em comparação com 2019. O número é o maior já registrado em um semestre e ocorre no momento em que o país teve o menor valor destinado às políticas de enfrentamento à violência contra a mulher.

As mulheres negras (pretas e pardas de acordo com a categorização do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE), em 2021, correspondem a 62% das vítimas de feminicídio. As vítimas de feminicídio negras são quase 80% mais que as brancas, que são 37,5%. Outras etnias como a amarela (0,3%) e a indígenas (0,2%) tiveram incidências pouco expressivas.

O relatório aponta que, levando em consideração todas as mulheres, 81,7% foram mortas pelo parceiro ou ex-parceiro íntimo. Desconhecidos aparecem como autores apenas em 3,8% dos fatos, indicando que a maioria dos casos identificados pelas autoridades policiais são os feminicídios íntimos.

A região Norte é a que acumula maior crescimento no período de quatro anos: 75%, seguida pelo Centro-Oeste (29,9%), Sudeste (8,6%) e Nordeste (1%). Apenas a região Sul teve redução no número de feminicídios registrados entre 2019 e 2022, com queda de 1,7%. As elevações mais acentuadas de casos no período foram registradas nos estados de Rondônia (225%), Tocantins (233,3%) e Amapá (200%).

Em entrevista para a Alma Preta, Samira Bueno, diretora-executiva do Fórum, declarou que o investimento em políticas públicas para a segurança foi deliberadamente reduzido, sobretudo em nível federal. Em 2022, R$ 5 milhões foram destinados ao enfrentamento da violência contra mulheres, o menor repasse de recursos dos últimos quatro anos, de acordo com uma nota técnica produzida pelo Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). Outros R$ 8,6 milhões foram destinados à Casa da Mulher Brasileira.

Dado alarmante do Estupro

Os dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública também demonstram que, em média, uma menina ou mulher foi vítima de estupro a cada nove minutos no Brasil.

A entidade aponta o dado alarmante onde mais de 112 mil mulheres foram estupradas no país, levando em consideração apenas o primeiro semestre de cada ano. Em 2022, foram registrados 29.285 estupros; de cada quatro vítimas, três eram vulneráveis.

As mulheres negras também são maioria entre as que foram vítimas de estupro, sendo 52,2% dos casos.

A diretora-executiva do Fórum afirmou para a Alma Preta que, para garantir o enfrentamento à violência de gênero, o novo governo tem o desafio de implementar uma série de instrumentos criados nos últimos anos, mas que nunca saíram do papel, como o Plano Nacional de Enfrentamento ao Feminicídio, o Plano Nacional de Prevenção e Enfrentamento à Violência contra a Mulher na Política Nacional de Segurança Pública e Defesa Social e a Política Nacional de Dados e Informações (PNAINFO) relacionadas à violência contra as mulheres.

Com informações da Alma Preta e G1

Leia mais:

Governo Bolsonaro desestruturou programa de combate à violência sexual contra crianças

Damares extingue comitês de combate à violência contra mulher e minorias

70% das mulheres assassinadas por arma de fogo no Brasil são negras