Mas segundo o diretor de Florestas e Políticas Públicas da BVRio, Beto Mesquita, os processos atuais de restauração atingem somente cerca de 115 mil hectares

(Reprodução/Aliança Reflorestar Pela Amazônia/ilustrativa)

 

Por Nicole Grell Macias Dalmiglio, da cobertura colaborativa NINJA na COP27

No sábado (12), o espaço aberto a representantes da sociedade civil, Brazil Climate Action Hub sediou o painel  “Financiando soluções baseadas na natureza e escalando a restauração da floresta no Brasil”. Cientistas, membros da sociedade civil e setor privado se dedicaram ao debate sobre soluções financeiras, tecnológicas e de governança para ampliar a restauração florestal e a preservação do ambiente amazônico.

De acordo com o diretor de Florestas e Políticas Públicas da BVRio, Beto Mesquita, o Brasil necessita hoje de cerca de 21 milhões de hectares de reflorestamentos em APPs (Áreas de Preservação Permanentes), sendo esse o mínimo para que o código florestal seja cumprido.

No entanto, os processos atuais de restauração atingem somente cerca de 115.000 hectares, considerando também o processo de restauração natural dessas áreas. Segundo Mesquita, para que haja um aumento significativo na escala desses processos de reflorestamento é necessário o financiamento climático para além do comércio de créditos de carbono. Outro fator imprescindível é a atuação do governo federal, e principalmente dos governos estaduais, na implementação de políticas públicas para exigir e supervisionar a adequação e a regularização dos imóveis.

Para Mariana Barbosa, da Re.green – empresa de reflorestamento em grande escala – a utilização de algoritmos multicritério seria uma forma rápida de otimização do custo da restauração. A escolha de onde efetuar a restauração e onde direcionar o investimento é essencial, ressaltando os aspectos relacionados não apenas à absorção de carbono, mas também onde o processo de reflorestamento pode gerar mais impactos sociais positivos.

Em outras palavras, se torna necessário pensar o processo de restauração como uma forma de trabalhar com as comunidades locais, e concentrar esforços para mapear as áreas disponíveis para o reflorestamento seria crucial para um modelo de larga escala.

Investimento do setor privado

Já a presidente do Instituto Igarapé, Ilona Szabó, elencou alguns dos fatores que inibem investimentos do setor privado nos territórios amazônicos está atrelado ao “risco Amazônia”. “O qual se encontra ainda maior que o ‘risco Brasil’ devido ao grande volume de atividades ilegais e criminalidade ambiental no bioma”, destacou.

A presidenta do Instituto Igarapé pontuou maior necessidade de ações de comando e controle por parte do Estado brasileiro, mas também que as empresas façam um melhor uso de ferramentas de informação para ter maior rastreabilidade e transparência dos dados referentes às suas atividades na região. O intuito seria compreender melhor sobre o quanto, ou não, estão essas atividades podem estar contribuindo para o desmatamento no território amazônico, ou para o reflorestamento por meio de ações mais responsáveis.

Ponto de não-retorno

Na fala de Carlos Nobre, Co-Presidente do Painel Científico para a Amazônia, ressaltou a proximidade de chegarmos ao “ponto de não retorno” da Amazônia. Segundo Nobre, após ultrapassarmos esse “ponto de não retorno” a própria floresta inicia um processo de autodegradação.

Os sinais que indicam a proximidade desse evento catastrófico podem ser observados com a prolongação e intensificação das estações secas, assim como a mortandade de espécies de clima úmido na área amazônica da Bolívia passando pelo estado do Amapá no Brasil, chegando até a Guiana Francesa.

Caso passemos do ponto de retorno, a Amazônia sofrerá um processo de “savanização”, o que significaria uma degradação que resultaria em um ambiente de céu aberto com uma porcentagem muito pequena de árvores sendo majoritariamente composto por gramíneas e arbustos, e que não se assemelha em nada com o cerrado brasileiro.

Segundo Carlos Nobre, na hipótese de isso ocorrer é muito provável que em uma média de 30 a 50 anos iremos perder no mínimo cerca de 200 bilhões de toneladas de gás carbônico, o que eliminaria qualquer possibilidade de ficarmos na faixa de 1,5º C de aquecimento da temperatura do planeta. Para o Co-Presidente do Painel Científico para a Amazônia, o mínimo que deveria ser reflorestado na Amazônia para impedir esse processo seria uma área equivalente à 50 milhões de hectares. 

Confira na íntegra:

O painel que contou com mediação de Karen Oliveira, da The Nature Conservancy Brazil, foi organizado pelo Instituto Igarapé, em parceria com a Re.green, a Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável (SDSN) da ONU, a BVRio, e a Coalizão Brasil Clima, Floresta e Agricultura.