Em dez anos, um ativista foi morto a cada dois dias no planeta; 20% das mortes ocorreram no Brasil, tendo como principais vítimas, indígenas ou afrodescendentes

Ato “Sangue Indígena, nenhuma gota a mais” que ocorreu em 2019, no Dia Internacional de Mobilização Indígena (Mídia Ninja)

Um relatório da ONG Global Witness aponta que o Brasil é o país mais mortal para defensores do meio ambiente. Durante dez anos, a organização mapeou 1.733 mortes de ativistas ambientais e líderes de comunidades tradicionais assassinados no mundo todo. Dessa forma, um ativista morto a cada dois dias no planeta, sendo que 20% dessas mortes ocorreram no Brasil, que registrou 342 casos. Uma a cada três pessoas era indígena ou afrodescendente.

“Eles desempenham um papel crucial como primeira linha de defesa contra o colapso ecológico, mas estão sob ataque. Enfrentando violência, criminalização e assédio perpetuados por governos e empresas repressivas que priorizam o lucro sobre os danos humanos e ambientais”, declarou a organização, via assessoria de imprensa.

Além desse triste diagnóstico, 85% desses ataques letais ocorreram na Amazônia, cuja população padece com ecossistema criminoso, que vai do narcotráfico à extração ilegal de madeira, passando pelo garimpo, entre outros crimes.

Só no ano passado, foram 26 mortes de ativistas por direitos à terra e ambientais. O Brasil ficou apenas atrás do México (54) e Colômbia (33), no ano em que 200 defensores morreram no mundo todo.

O relatório cita as mortes dos líderes sem-terra Amarildo Rodrigues, Amaral Rodrigues e Kevin de Souza, assassinados num acampamento em Rondônia. Também são citados os assassinatos do líder indígena Tupinambá Alex Barros Santos da Silva, por conflito fundiário no sul da Bahia, e Isac Tembé, morto por um policial militar investigado por envolvimento com fazendeiros.

As mortes do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips ainda não foram contabilizadas porque não estão incluídos os dados de 2022, que são repassados por meio de parceria entre organizações, pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

No ano passado, foram 26 mortes de ativistas por direitos à terra e ambientais em 2021. Assim, ficou atrás do México (54) e Colômbia (33) no ano. No mundo todo foram 200 assassinatos.

Crise climática

E infelizmente, esse cenário sombrio se sobressai ao tempo em que as ameaças ao meio ambiente se multiplicam e à medida que a crise climática e da biodiversidade, pioram. Além do Brasil, na lista dos países que mais matam defensores figuram a Colômbia (322), Filipinas (270) e México (154).

O relatório destaca que o controle e uso da terra e do território é uma questão central em países onde os defensores são ameaçados. Grande parte da crescente matança, violência e repressão está ligada a conflitos territoriais e à busca do crescimento econômico baseado na extração de recursos naturais da terra.

E a impunidade também é recorrente. “Pesquisas descobriram que poucos perpetradores de assassinatos são levados à justiça devido às falhas dos governos em investigar adequadamente esses crimes. Muitas autoridades ignoram ou impedem ativamente as investigações sobre esses assassinatos, muitas vezes devido ao suposto conluio entre interesses corporativos e estatais”, diz trecho de apresentação do relatório.

Por fim, a Global Witness se manifestou pedindo que empresas e governos sejam responsabilizados pela violência contra os defensores da terra e do meio ambiente – as pessoas que estão na linha de frente da crise climática. “São necessárias ações urgentes nos níveis regional, nacional e internacional para acabar com a violência e a injustiça que enfrentam”. A Ong pede ao Judiciário que seja mais eficaz na responsabilização das mortes.