Ao final do debate, a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, afirmou que Bolsonaro já a atacou outras vezes e que é da natureza dele ser misógino

Bolsonaro faz ataques misóginos contra a jornalista Vera Magalhães. Foto: Reprodução

O primeiro debate presidencial realizado pela TV Bandeirantes, na noite deste domingo (28), foi marcado por mais ataques de Jair Bolsonaro (PL) contra mulheres. Desta vez, o candidato à reeleição atacou a jornalista Vera Magalhães e a candidata Simone Tebet (MDB), mostrando mais uma vez seu caráter misógino. “Acho que você dorme pensando em mim”, atacou.

A jornalista havia questionado Ciro Gomes (PDT) sobre a cobertura vacinal do Brasil e afirmou que houve desinformação sobre as vacinas contra a covid-19 que foram disseminadas por Bolsonaro, ao que ele respondeu: “Vera, não pude esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão em mim. Não pode tomar partido num debate como esse. Fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”, declarou, e não respondeu à pergunta.

Ao fim do debate presidencial, a jornalista Vera Magalhães, da TV Cultura, disse que o ataque de Bolsonaro contra ela prejudicou o próprio candidato à reeleição. Ela também afirmou que Bolsonaro “não gosta de ser questionado por mulheres”.

“Ele teve uma atitude absolutamente descontrolada, desnecessária e, ao meu ver, prejudicial a ele mesmo”, falou em entrevista ao colunista do UOL Kennedy Alencar na saída do debate. Vera lembrou que já foi atacada por Bolsonaro em outras ocasiões, assim como outras jornalistas mulheres.

“É da natureza dele, ele não gosta de ser questionado por mulheres, disse a jornalista.

Vera Magalhães disse que a postura de Bolsonaro “transformou o machismo, a misoginia e a falta de políticas públicas voltadas ao governo dele o principal tema do debate e ele teve que recorrer a um papel para dizer o que fez pelas mulheres”.

Ataques a jornalistas

Os ataques contra jornalistas mulheres ou com viés de gênero cresceram 79% no ano passado, conforme mapeamento feito pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Ao todo, foram 119 ocorrências desse tipo, o que corresponde, em média, a um episódio de violência a cada três dias.

O levantamento ainda revela que 52% desses autores identificáveis por trás dos ataques eram autoridades públicas. Nesse segmento, os que mais agrediram mulheres jornalistas foram o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o deputado federal Carlos Jordy (União-RJ), com oito ataques cada um, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) e o assessor especial da Presidência Tercio Arnaud Tomaz, contabilizando sete ataques cada, e o deputado federal Eduardo Bolsonaro (União-SP), responsável por cinco outros ataques.

“O apelo ao gênero e à sexualidade não é incidental: em sociedades com presença de valores conservadores, esse tipo de ataque é uma forma de minar a credibilidade do jornalismo profissional e de desviar a atenção do conteúdo da notícia”, afirma a Abraji.

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