Presença de Bolsonaro em Aparecida é criticada durante missa. Padre Camilo Júnior declarou: “Hoje não é dia de pedir votos, é dia de pedir bênçãos”

Cenas de violência no Santuário de Aparecida foram registradas este ano por apoiadores de Bolsonaro. Foto: Reprodução/Redes Sociais

Por Mauro Utida

A passagem de Jair Bolsonaro (PL) pelo Santuário Nacional de Aparecida, em São Paulo, nesta quarta-feira (12), gerou diversas críticas ao candidato da reeleição que aproveitou a comemoração religiosa para angariar votos e fazer discurso do ódio contra a comunidade LGBT+.

Bolsonaro esteve acompanhado de seu ex-ministro Tarcísio de Freitas (Republicanos), candidato ao governo de São Paulo, e diante do constrangimento pela sua presença, acabou deixando o Santuário antes do previsto.

As cenas lamentáveis aconteceram no lado de fora da Basílica, onde um grupo de apoiadores que estava em Aparecida agrediu jornalistas da TV Vanguarda, afiliada da Rede Globo, que estavam no local fazendo a cobertura.

A cena só não terminou em agressão porque jornalistas da TV Aparecida, emissora oficial da Igreja Católica, protegeram os colegas.

Os momentos em que bolsonaristas tentam agredir um cinegrafista da TV Vanguarda foram captados ao vivo pela CNN Brasil, que no momento da confusão fazia link com um de seus repórteres que estava in loco para acompanhar a passagem do presidente Bolsonaro pela cidade paulista.

A confusão se alastrou pela cidade e parte dos trabalhos de homenagem à Nossa Senhora Aparecida, a padroeira que dá nome à cidade, tiveram que ser paralisados e os jornalistas resgatados e colocados em local com segurança. Veja o vídeo.

https://twitter.com/ubesoficial/status/1580289515649802240

“Pátria amada não pode ser pátria armada”

Durante o encerramento de uma missa, o padre Camilo Júnior parabenizou quem aproveitou o dia da Padroeira para celebrar a Santa. “Hoje não é dia de pedir votos, é dia de pedir bênçãos”, disse. A fala foi seguida por aplausos dos devotos.

De manhã, o arcebispo de Aparecida, Dom Orlando Brandes, declarou que “para ser pátria amada não pode ser pátria armada” durante a missa das 9h, realizada no Santuário. Ele também criticou a disseminação de fake news.

“Para ser pátria amada não pode ser pátria armada. Para ser pátria armada seja uma pátria sem ódio. Para ser pátria amada, uma república sem mentira e sem fake news. Pátria amada sem corrupção. E pátria amada com fraternidade. Todos os irmãos construindo a grande família brasileira“, declarou o religioso.

https://twitter.com/lazarorosa25/status/1580217445247508483

A declaração foi uma clara indireta para Bolsonaro que é defensor da pauta armamentista, como parte de suas promessas de campanha. O presidente também é um dos investigados no inquérito das fake news no STF (Supremo Tribunal Federal).

‘Exploração da fé’

À véspera do feriado de Nossa Senhora Aparecida, na terça (11), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) emitiu nota lamentando o que chamou de “intensificação da exploração da fé e da religião como caminho para angariar votos no segundo turno” das eleições deste ano.

A nota não cita candidatos nem situações específicas, porém foi divulgado logo após a ida de Bolsonaro ao Círio de Nazaré, no Pará, no último domingo (9), em meio à campanha. Quando a CNBB emitiu o comunicado, a agenda de campanha de Bolsonaro para o feriado também já tinha sido anunciada. Em reação, a Arquidiocese de Aparecida também divulgou nota para evitar o uso político das atividades desta quarta.

Na passagem de Bolsonaro pelo Círio de Nazaré, o candidato a reeleição também foi rejeitado e recebeu muitas vaias do fiéis presente. Lula também criticou o uso religioso do adversário para conseguir votos.

Discurso do ódio

Durante sua passagem por Aparecida, Bolsonaro atacou a comunidade LGBT ao promover ódio contra transexuais e travestis.

Após dizer que respeita todas as religiões e “aqueles que não têm religião nenhuma”, Bolsonaro defendeu a família e atacou as LGBT. “Certas posições não são admitidas. Para nós, a família é um presente de Deus e nós devemos preservá-la”, disse.

Em seguida, o presidente desferiu ódio contra travestis e transexuais. “Vocês sabem que o maior patrimônio para nós não são nossos bens materiais, são os nossos filhos. Nós não queremos uma filha nossa indo no mesmo banheiro da escola onde o moleque, homem, frequenta”, disse Bolsonaro ao claro ataque às políticas de promoção à identidade de gênero.