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Por Marcos Felipe para Cobertura Colaborativa NINJA People’s Summit

Iniciou em Los Angeles a People’s Summit for Democracy, a Cúpula dos Povos pela Democracia, evento organizado por ativistas, movimentos sociais e grupos de esquerda de toda a América. Em contraposição à IX Cúpula das Américas, evento que reúne chefes de Estados do continente americano, empresários e lideranças políticas. A Cúpula dos Povos pela Democracia iniciou o primeiro dia com debates, workshops e painéis.

Dado o caráter excludente da IX Cúpula das Américas organizado pelos EUA, principalmente por excluir a participação de Cuba, Nicarágua e Venezuela, a Cúpula dos Povos pretende ser a voz da América Latina e daquelas/es diretamente afetados pelo capitalismo neoliberal e o imperialismo estadunidense. A Cúpula dos Povos terá como foco questões sobre migração, imigração e direitos humanos, além de denunciar a agenda neoliberal dos EUA na América Latina e no Caribe, a alta taxa de pessoas em situação de rua nos EUA, a violência policial contra pessoas negras e a desastrosa atuação estadunidense perante a Covid-19.

Visando os líderes mundiais que se reúnem em Los Angeles para a IX Cúpula das Américas, a Cúpula dos Povos começou com uma manifestação sobre Migração e Direitos Humanos para as Américas. O protesto aconteceu no centro de Los Angeles, com a participação de inúmeras organizações, tais como ANSWER Coalition, CHIRLA, Mídia Ninja, SEIU 721, BAJI, AJLA, SALVA, PWC e International Peoples Assembly. Maria Galvan, coordenadora da Coalizão pelos Direitos Humanos dos imigrantes de Los Angeles, denunciou que a Cúpula das Américas não traz temas que interessam ao povo, como migração e legalização de moradia para todos.

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Em frente à Câmara Municipal de Los Angeles, no Encontro de Solidariedade com Povos Indígenas da Amazônia, a liderança indígena Toya Manchinery apontou a contradição da participação de Bolsonaro na Cúpula das Américas para tratar da floresta amazônica. O líder, que é coordenador da COICA – Coordenadoria das Organizações Indígenas da Bacia Amazônica, alertou como a política bolsonarista está destruindo a Amazônia e atacando inúmeros povos indígenas. Em sua fala, Toya disse sobre a união de povos indígenas e de todo o mundo para compartilhar recursos e democracia, e denunciou que um país não é democrático se há várias pessoas vivendo nas ruas e com fome.

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A programação de debates da Cúpula dos Povos iniciou com o tema “Democracia para quem? As consequências da intervenção dos EUA nas Américas”. A abertura foi feita por Manolo dos Santos, coordenador do Fórum dos Povos e membro da Comissão Articulada da International Assembly of Peoples (Assembleia Internacional dos Povos), e também por Andrónico Rodríguez Ledezma, cientista político boliviano e presidente da Câmara dos Senadores da Bolívia.

A sessão do primeiro painel debateu como os arranjos políticos da Organização dos Estados Americanos (OEA) atuam para favorecer aos interesses dos ricos, além de facilitar a intervenção dos EUA na América Latina. Lideranças políticas questionaram o impacto dos EUA em processos democráticos e a vida de milhares de pessoas na América Latina. O evento contou com a participação de pessoas de vários países do continente americano. A jornalista cubana Cristina Escobar participou do painel, e afirmou que as ações dos EUA no seu país são indescritíveis, sendo agravadas no governo Trump e mantidas pela gestão Biden. Cristina reiterou no seu discurso a necessidade da soberania dos cubanos para decidir sobre seu próprio destino, não aos interesses de Washington. Gail Walker, diretora executiva do “Pastors for Peace”, também ressaltou a autonomia cubana: “Como pessoas não queremos que os EUA controle o que significa a democracia, a verdade é que Cuba ilumina o caminho.”. Além de Cristina, estiveram presentes no painel Alina Duarte, Fidelina Mena Corrales, Gail Walker, Xochitl Sanchez, de outros países das Américas.

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O segundo painel da Cúpula dos Povos abordou o internacionalismo dos povos, sob o tema “Solidariedade cruzando fronteiras: construindo um internacionalismo dos povos”. A mesa trouxe discussões de diferentes organizações no mundo. Estas compartilharam perspectivas de suas lutas visando caminhos de como construir solidariedade com unidade e através das diferenças. O painel focou em exemplos de resistências em decorrência do imperialismo estadunidense. Palestrantes participantes: Dr. Rabab Abdulhadi, David Adler, Angelica Salas, Leonardo Luna, Izett Samá Hernández, Rev. Karlene Griffiths Sekou, Claudia de la Cruz. A conferencista Claudia de La Cruz (Peoples Forum NYC), ressaltou em seu discurso: “Nós não defendemos o que não conhecemos, e nós não vivemos ou morremos por aquilo que não amamos. Um dos aspectos da solidariedade, do internacionalismo, é amar nossa classe. Amar os pobres e os povos da classe trabalhadora de todo o mundo”.

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O terceiro painel trouxe reflexões e denúncias sobre o bloqueio dos EUA a Cuba, com pautas a partir de jovens lideranças de movimentos sociais. A Cúpula dos Povos demarcou que o bloqueio econômico dos EUA impede a população cubana de obter recursos fundamentais para a sua vida e bem-estar, e restringe que pessoas nos EUA possam consumir benefícios de saúde, cultura, economia e arte cubana, primordialmente a produção da juventude cubana, que luta pela solidariedade e não pelo lucro e exploração. Os participantes sugeriram alternativas para o fim do bloqueio e na construção de solidariedade entre os povos. Os palestrantes também compararam as diferentes formas que EUA e Cuba lidam com as suas políticas e o seu povo. Estiveram presentes no painel: Ashley Elias, Danaka Katovich, Deja Gaston.

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O quarto painel abordou a saúde como direito humano em todo o planeta, sob o título “Pessoas acima do lucro: saúde como um direito humano pelo mundo”. A pandemia da Covid-19 deixou nítido o quanto o lucro vale mais que vidas humanas. Principalmente nos EUA, em que houve mais de um milhão de mortes e muitas pessoas sem conseguir pagar por tratamento. Os palestrantes abordaram como as lutas e solidariedade sociais podem enfrentar a privatização da saúde e por uma saúde pública para todos. Palestrantes participantes: Dra. Ana Malinow, Dr. Bita Amani, Tynetta Hill-Muhammad, Carlos Marroquin, Bill McKibben, Dra. Tania Crombet Ramos e Sameena Rahman.

O primeiro dia também trouxe dois workshops. O primeiro tratou de estratégias de organização política da juventude, em que discutiram o compartilhamento de campanhas e ações políticas. O workshop promoveu exemplos de advocacy nas redes sociais e conexões virtuais para aproximar organizações em todo o planeta. O segundo workshop abordou uma discussão sobre a luta dos sujeitos com Status de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês), explicando o seu funcionamento e quais países são beneficiários. O workshop foi organizado pela Aliança Nacional de TPS. Foram tratadas a questão do TPS no período Trump e a atual pressão na Casa Branca e no Congresso para tornar os beneficiários de TPS com visto permanente.

Além dos painéis e workshops com lideranças e especialistas, a Cúpula dos Povos organizou espaços para diálogos e trocas sobre determinadas temáticas. No dia 8 de junho foram debatidas a situação do trabalho e seus desafios no mundo contemporâneo. A Cúpula pautou diferentes formas de organização e estratégias para lidar com tais desafios, baseado em articulações comunitárias e inclusivas. A sessão “Labor Exchange” discutiu a privatização e a discrepância entre leis trabalhistas e injustiça salarial. Outra temática que foi discutida na área de troca setorial foi o tema da abolição das prisões e da polícia. Siwatu-Salama Ra, da Grassroots Global Justice Alliance and Freedom Team, relatou uma história impactante sobre sua experiência na prisão, tratando de como mudanças são possíveis a partir da prática de conceitos de feminismo e abolição.

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Finalizando o primeiro dia da Cúpula dos Povos, ocorreu uma plenária sobre a luta por democracia. A pauta principal da plenária questionou como os EUA podem defender a democracia em outros países sendo um país que utiliza de sua força e poder para impedir uma real construção de democracia de baixo pra cima na América Latina e no Caribe. A plenária também discutiu perspectivas de movimentos sociais e organizações que realmente lutam pela ampliação democrática, pelos interesses da maioria, dos pobres, dos trabalhadores, ao invés dos ricos e das elites. Estiveram participando da plenária: Tina Orduno Calderon, Kosmik Force, Dr. Melinda Abdullah, Pablo Alvarado, Phillip Agnew, Citlalli Hernández.

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