Foto: Reprodução/YouTube – TV Câmara

Na terça-feira (8), o Ministério Meio Ambiente (MMA) nomeou Cristiane Lemos Batista de Freitas para o cargo de diretora de Educação e Cidadania Ambiental, embora no currículo, disponível no site do governo federal, não tenha sido indicada nenhuma experiência na área.

Desde o início do governo Bolsonaro ocupa cargos de confiança, a começar pelo Ministério da Cidadania, onde trabalhou com Osmar Terra e antes do MMA, com Damares Alves, no Ministério da Mulher, da Família e Direitos Humanos. Ela também já trabalhou em órgãos públicos antes do governo, mas não tem experiência nem em Educação e tampouco em Meio Ambiente.

O jornal Brasil de Fato repercutiu a contratação de Cristiane e buscou um posicionamento do Ministério do Meio Ambiente. Até o momento, não houve resposta. O site conta que ela é atiradora esportiva e em 2021, à ocasião de uma audiência pública sobre este tema, defendeu o armamento da população brasileira, argumentando que uma faca é mais letal que uma arma e ninguém precisa de autorização para ter uma.

Ao terem conhecimento da contratação de Cristiane via Brasil de Fato, mais de 60 entidades, organizações e lideranças ligadas à educação e meio ambiente publicaram um manifesto questionando a contratação: “é de ficar abismado com a escolha política em um cargo tão nobre”.

Leia abaixo o manifesto na íntegra:

No dia 8 de março de 2022, Dia Internacional da Mulher, nós, educadoras e educadores do Brasil, fomos surpreendidos pela indicação da nova diretora de Educação e Cidadania Ambiental no Ministério do Meio Ambiente.

Compreendemos a nomeação como um escárnio, como um desrespeito aos profissionais do campo ambiental comprometidos com a educação ambiental. Esta nomeação é um ato de violência simbólica, operando como uma manifestação de cruzada cultural antiecológica. O resultado é a perplexidade dos coletivos educadores do país, já que é um cargo de suma importância à gestão da educação ambiental brasileira. Após o impacto do relatório climático, com o criminoso exemplo de Petrópolis, na região Serrana do Rio de Janeiro, entre outros, o mínimo que necessitamos é uma personalidade com experiência nos processos pedagógicos, que oriente a sociedade sobre o valor da vida e não de uma atiradora esportiva, com armas que eliminam vidas, ao invés de protegê-las.

Somente um governo ecocida e negacionista acata e nomeia uma pessoa sem nenhuma trajetória, sem nenhum conhecimento das redes, dos grupos, dos observatórios e dos coletivos da educação ambiental, brasileira e latino-americana. É de ficar abismado com a escolha política em um cargo tão nobre.

Ser praticante de tiro em nada qualifica a pessoa para atuar em educação ambiental. Ademais, entendemos como profundo desrespeito às mulheres e de intenso escárnio expor esta mulher a esta situação vexatória, que também é vítima da necropolítica nefasta do governo atual, que ataca sistematicamente todas as formas de vida. O governo bolsonarista também utiliza as mulheres e suas representações de luta pela justiça histórica, e arduamente construídas, como mais uma forma de apropriação. De maneira a esvaziar suas contribuições para atender fins políticos que são humilhantes à vida e sua diversidade.

É preciso parar o bolsonaro! Ele é um enorme risco à integridade da Terra – é uma ameaça à Amazônia e de tantos outros biomas brasileiros e internacionais. bolsonaro e damares estão bombardeando nosso país com milícias oficiais de violência e de desmonte de políticas públicas conquistadas à base de muito trabalho, muita ética e muito compromisso com todos os sistemas interconectados da Terra, sejam geofísicos, biológicos ou tecnológicos.

Bolsonaro e Damares avançam no ataque ao meio ambiente e à diversidade de vidas. Manifestamos nossa profunda indignação a mais uma afronta e desrespeito à luta ambientalista.

Leia o nome das entidades e organizações signatárias:

ARAUCÁRIAS – Rede de EA a partir dos Campos de Cima da Serra e Hortênsias -UERGS/RS;

Articulação Nacional de Políticas Públicas de Educação Ambiental, ANPPEA;

Associação Alternativa Terrazul;

Associação Brasileira de Agroecologia, ABA-agroecologia;

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências ABRAPEC;

Associação Defensores da Terra – RJ;

Associação dos Docentes da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, ADUNIRIO;

Associação dos Docentes da Universidade Federal de Mato Grosso – ADUFMAT – S.Sind.;

Ateliê do Conhecimento;

Centro de Estudos Ambientais (CEA);

Associação dos Defensores da Terra;

Conferência Livre de Meio Ambiente e Agricultura do RJ, CLEMAARJ;

Coletivo Amigos do Pantanal;

Defensores do Planeta;

Deputado Estadual Carlos Minc, Partido Socialista Brasileiro, RJ;

Deputado Estadual Lúdio Cabral, Partido dos Trabalhadores, MT;

Deputado Federal Nilto Tatto, Partido dos Trabalhadores, SP;

Deputado Federal Paulo Pimenta, Partidos dos Trabalhadores, RS;

Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais, FBOMS;

Fórum de Direitos Humanos e da Terra, FDHT;

Fórum Mato-grossense de Meio Ambiente e Desenvolvimento, FORMAD;

Frente Ampla Democrática Socioambiental – FADS;

Fundo Brasileiro de Educação Ambiental – FUnBEA;

Grupo de Articulação da Audiência Pública no Senado Federal;

Grupo de Educação Ambiental desde el Sur, GEASur-UNIRIO;

Grupo de Estudos Ambientais da Serra do Mar (GESMAR);

Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis – GEPEAS (UESB);

Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade – GEPEADS/UFRRJ;

Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Ambiental, Diversidade e Sustentabilidade – GEPEADS/UFRRJ;

Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental, GEA/UFJF;

Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Ambiental Dialógica, Educação Intercultural, Educação e Cultura Popular, Gead-UFC;

Grupo de Estudos e Pesquisa em Interculturalidade e Educação em Ciências – GEPIC;

Grupo de Estudos em Educação e Meio Ambiente, GEEMA;

Grupo de Estudos em Educação, Cultura, Ambiente e Filosofia – GEECA;

Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Cultura da Sustentabilidade (GPEACS/UFPR);

Grupo de Pesquisa em Educação Ambiental e Ensino de Ciências (GPEAECUFRJ);

Grupo de Pesquisa em Educação e Território (GPET)-UFSM;

Grupo de Pesquisa em Trabalho-Educação e Educação Ambiental – GPTEEA do IFRJ;

Grupo de Trabalho 22, Educação Ambiental – ANPED;

Grupo Infâncias, Tradição Ancestral e Cultura Ambiental- GiTaKa, UNIRIO;

Grupo Pesquisador em Educação Ambiental, Comunicação e Arte, GPEA-UFMT;

Instituto Calanam;

Instituto Caracol – ICARACOL;

Instituto Ecoar para a Cidadania;

Laboratório de Educação e Política Ambiental, OCA-ESALQ-USP;

Laboratório de investigações em educação, ambiente e sociedade – LIEAS/UFRJ;

Movimento dos Educadores Socioambientais – MG;

Mulheres do Hip Hop – MT;

Observatório da Educação Ambiental, Observare;

Observatório de Governança das Águas;

Rede Brasileira de Educação Ambiental, Rebea;

Rede Capixaba de Educação Ambiental;

Rede de Educação Ambiental da Serra dos Órgãos;

Rede de Educação Ambiental da Zona Oeste do RJ;

Rede de Educação Ambiental do Oeste da Bahia;

Rede de Educação Ambiental do Rio de Janeiro, REARJ;

Rede de Educadores Ambientais da Baixada de Jacarepaguá;

Rede Internacional de pesquisa em decolonialidade Educação em Ciências e Tecnologia, RIEDECT;

Rede Internacional de Pesquisa em Educação Ambiental e Justiça Climática, REAJA;

Rede Lusófona de Educação Ambiental, REDELUSO;

Rede Mato-grossense de Educação Ambiental, REMTEA;

Rede Paraense de Educação Ambiental;

Rede Paranaense de Educação Ambiental -REA-PR;

Rede Paulista de Educação Ambiental, REPEA;

Secretaria de Mulheres do Partido dos Trabalhadores-MT;

Territórios de Aprendizagens Autopoiéticas.