Segundo pesquisadores, governo tem estimulado desmatamento ilegal na Amazônia (Marcelo Camargo / Agência Brasil)

 

Bruna Obadowski, para a cobertura NINJA na COP26

Como um grande alerta para o mundo, o coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, foi implacável ao defender, na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), o desmatamento zero no Brasil. Segundo ele, que participou do painel “Desmatamento na Amazônia e metas de Paris: qual é o tamanho do buraco?” nesta terça-feira (02), freá-lo com urgência é a única forma possível de alcançar efetivamente as metas de mitigação climática do Acordo de Paris. Ele alertou que até o final da Conferência, cerca de 500 milhões de árvores serão derrubadas na Amazônia.

Ainda em sua fala, relembrou a posição do governo brasileiro que mesmo em meio à descrença mundial, reajustou de 43% para 50%, o corte a ser atingido da emissão de gases do efeito estufa até 2030. Em dezembro, na última revisão da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês), o Brasil manteve sua meta de emissões de 37% para 2025 e 43% para 2030.  Na ocasião, o consórcio The Climate Action Tracker rebaixou as declarações de “insuficientes” para “muito insuficientes”.

Segundo o pesquisador e professor da Universidade Federal de Minas Gerais, Raoni Rajão, que também compôs o painel sobre o desmatamento na Amazônia, para se alcançar as metas para 2030 será necessário um esforço efetivo por parte do governo brasileiro, inclusive economicamente.

Rajão, reforçou em sua fala a relação das políticas públicas ambientais com o compromisso dos marcos legais e a fiscalização para frear o desmatamento ilegal e as queimadas. Segundo ele, “estamos nos distanciando de uma governança forte e se aproximando de uma governança fraca, o que coloca em risco o Brasil cumprir suas metas ambientais para 2030″.

Desmatamento ilegal

Um outro ponto bastante debatido durante o painel, foi o desmatamento ilegal. Em artigo publico recentemente pela revista Science e assinado por Raonni Rajão, 20% das exportações de soja e pelo menos 17% das exportações de carne vindas dos dois biomas podem estar associadas ao desmatamento ilegal.

A preocupação dos pesquisadores, é que muitas atividades vêm sendo cada vez mais facilitadas pelo atual governo, o que coloca em risco a preservação da Amazônia e, consequentemente, a eficácia de se chegar às metas estabelecidas pelo Brasil no acordo de Paris. Para se ter uma ideia, em 2020 foram modificadas cerca de 160 normas ambientais do país, facilitando a vida de desmatadores.

Ainda sobre o desmatamento e sua relação com o clima,  Luciana Gatti, pesquisadora do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), que concentra estudos no Balanço de Carbono na Amazônia, foi enfática ao evidenciar a preocupação com os resultado de sua pesquisada em curso há onze anos. Segundo ela  “ a consequência das atividades econômicas estão impactando drasticamente as florestas”.

Para se ter uma ideia, entre janeiro e março de 2020 foram detectados pelo INPE 79,6 mil hectares de desmatamento na Amazônia, o equivalente a área da cidade de Goiânia foi desmatada. Mais de um milhão de árvores foram derrubadas. O desmatamento nesse período é o maior desde 2016 quando começou a metodologia atual.

Segundo Gatti, é um aumento calamitoso para as temperaturas que, em algumas regiões da Amazônia, como na porção sudeste, a temperatura subiu 3,1 graus e a chuva se reduziu em 24% durante a seca nos últimos 40 anos. Ainda segundo ela,  as áreas degradadas da Amazônia pelo desmatamento e queimadas já comprometem a absorção de gás carbônico pela floresta. “Pela primeira vez, é observada a queda no potencial de absorção de gás carbônico pela floresta amazônica”.

Ao final do painel, o recado ao mundo foi convergente entre os debatedores: temos que preservar a Amazônia para o bem do Brasil e do planeta, pois ela vale mais preservada do que desmatada, inclusive economicamente.

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