Foto: Mídia NINJA

A Associação Juízes para a Democracia, que existe desde 1991 e tem como ideal reunir institucionalmente magistrados comprometidos com o resgate da cidadania do juiz, promovendo na sociedade os direitos fundamentais, escreveu nota de repúdio a perseguição que Glenn Greenwald, fundador do The Intercept Brasil, responsável pela Vaza Jato, está passando, com pedido da Coaf para que a Polícia Federal investigue seu histórico financeiro.

Confira a nota

A AJD – ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA, em vista da notícia de que a Polícia Federal irá acionar o COAF para investigar dados financeiros do jornalista Glenn Greenwald, na sequência da divulgação de gravíssimos diálogos pelo site The Intercept Brasil, dando conta de ações ilegais atribuídas ao ex-juiz Sergio Moro e integrantes do Ministério Público Federal, notadamente o procurador Deltan Dallagnol, no âmbito da chamada Operação Lava Jato, vem a público afirmar que reputa absolutamente insólita e inaceitável, a iniciativa de órgãos do Estado brasileiro no sentido de coagir jornalistas que denunciam mal feitos praticados por agentes públicos, revelando inegável tentativa calar, de forma arbitrária e antidemocrática, a imprensa livre, na ânsia de desacreditar o jornalismo independente. As ameaças, ainda que veladas, para incriminar e atingir os que exercem o direito de informar a população e contribuem para que tenham acesso a um Judiciário imparcial e que não escolha réus ou quaisquer das partes como inimigas, devem ser amplamente repelidas pelo conjunto da sociedade, que tem direito tanto à informação livre quanto a um Poder Judiciário capaz de julgar em harmonia com as regras legais e democráticas.

O aprofundamento dessa iniciativa ultrajante contra um dos jornalistas do site The Intercept tem como única finalidade escamotear o eixo das discussões sobre a grave crise que se instaurou desde a divulgação desses diálogos, que nada têm de normal ou comum no cotidiano da Magistratura. A Constituição do Brasil assegura a todos (art.5o , XIV) “o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”, cuja restrição só é possível em estado de sítio (art.139, III), autorizado pelo Congresso Nacional, o que jamais ocorreu desde 05/10/1988, sendo absolutamente inconciliável com a democracia e com a ordem jurídica a adoção de quaisquer medidas que representem constrangimento à livre manifestação do pensamento e ao direito de informação. A AJD – ASSOCIAÇÃO JUÍZES PARA A DEMOCRACIA, ao mesmo tempo em que presta solidariedade ao jornalista Glenn Greenwald, repudia não só a perspectiva de violência do Estado brasileiro, mas também a omissão eloquente de órgãos de imprensa e correspondentes entidades de classe representativa dos órgãos de mídia e profissionais de imprensa, que, num passado recente se manifestavam em defesa da liberdade informativa, mas agora, de forma contraditória e incompreensível, silenciam, sacrificando as liberdades democráticas. Brasil, 04 de julho de 2019.