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Texto de Marcos Aurélio Ruy

Tristemente o dia 8 de dezembro uniu o músico Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, o nosso Tom com o inglês John Winston Ono Lennon, o mais irreverente do Beatles. Coincidentemente esse dia foi fatal para os dois dos maiores artistas de todos os tempos.

John Lennon foi assassinado a tiros em frente a sua casa, aos 40 anos, em Nova York, nos Estados Unidos, por um suposto fã. Tragédia que levou à loucura milhões de fãs pelo mundo afora. Tom Jobim também morreu em Nova York no mesmo dia, em 1994, de insuficiência cardíaca, aos 67 anos.

Em sua última entrevista para o editor colaborador da revista norte-americana “Rolling Stone” Jonathan Cott, poucos dias antes de ser assassinado, Lennon se mostrou cheio de projetos e com muita vontade de viver. “Não estou reivindicando divindade, nunca reivindiquei pureza de alma, nunca aleguei ter as respostas para a vida. Só componho músicas e respondo a perguntas da forma mais honesta possível”, disse.

“Não posso atender às expectativas dos outros sobre mim porque são ilusórias, não posso ser um punk em Hamburgo e em Liverpool, porque estou mais velho. Vejo o mundo com olhos diferentes agora, mas ainda acredito em paz, amor e compreensão”, por acaso “é moderno ser motivado e matar o vizinho com a cruz”. Profético.

Imagine, de John Lennon

Lennon acabava de gravar “Double Fantasy”, depois de cinco anos de uma paralisação para cuidar de seu filho Sean. Desejava fazer o que sempre fez: música de qualidade, defender a paz e o amor.

Tom Jobim foi reconhecido no mundo. Levou a bossa nova aos Estados Unidos e saiu de lá respeitado, valorizado e amado, como o maio músico brasileiro, de acordo com a revista “Rolling Stones”. A bossa nova dele, de João Gilberto (1031-2019), Vinicius de Moraes (1913-1980) e outros passou a influenciar o jazz, o mesmo gênero musical que a influenciou. Para a “Rolling Stone” o maestro soberano, como define Chico Buarque na canção “Paratodos”, é o maior expoente de todos os tempos da música popular brasileira.

Garota de Ipanema, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Jobim influenciou os trabalhos de praticamente todos os grandes artistas que vieram depois. Tanto que Chico Buarque chegou a dizer que gostaria de compor como Oscar Niemeyer desenha e como o mastro soberano. “Tom é simplesmente o maior compositor popular do século 20. E notem que não usei nenhum qualificativo geográfico, isto é, não afirmei que ele é o maior do Brasil. Tom é simplesmente o maior e ponto”, escreveu no Vermelho, 12 de agosto de 2012, Fernando Mota Lima.

Os dois enormes talentos, fizeram da música a forma de se comunicarem com o mundo. Iluminaram o planeta, muitas vezes sombrio e levaram mensagens de alegria, paz, amor e respeito aos semelhantes, a todos os semelhantes, sem nenhuma distinção.

Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes

O filme “Yesterday” (2019), de Danny Boyle, traz uma cena surpreendente, numa fantasia fantástica ao imaginar a inexistência dos Beatles, o grupo que elevou o patamar da música popular no mundo, do qual Lennon fazia parte ao lado de Paul McCartney, George Harrison e Ringo Star. Depois deles o rock nunca mais foi o mesmo.

Após o fim dos Beatles, em 1970, escolheu os Estados Unidos para morar e levou processo de deportação por suas posições políticas em defesa da paz e pelo fim da Guerra do Vietnã, além de ir para as ruas em defesa dos direitos sociais e individuais das cidadãs e cidadãos. Perseguido, investigado, espionado. Fez de sua vida uma bandeira em defesa da paz, do amor, do respeito, da justiça, da igualdade. Fez de sua arte um canto de tudo isso, numa generosidade sem fim.

Revolution, de John Lennon e Paul McCartney

Apesar da tristeza permanece a certeza de que ao contrário do ditado popular, na cultura, o que é bom dura a eternidade, portanto as músicas desses dois talentos maiores, serão cantadas ainda por milhares de anos, se o planeta Terra resistir as agressões dos donos do poder econômico, que controlam corações e mentes vazias, cheias apenas de rancor, ódio e, por covardia, violência.

Pelas obras desses dois talentos, sonhamos com o mundo onde todas as pessoas possam andar seguras pelas ruas, sem medo de serem o que quiserem ser e sem medo de transbordarem em felicidade, respeitando o outro, o diferente.

Give Peace a Chance, de John Lennon

Tendo a certeza de que “é impossível ser feliz sozinho”, imaginando um mundo onde todo mundo cuida de todo mundo sem se meter na vida de ninguém. Um mundo de paz, justiça e solidariedade. E antes que as lágrimas tomem conta de vez, melhor ouvir as músicas desses gigantes.

Wave, de Tom Jobim