Mulheres compartilham as dificuldades enfrentadas, muitas vezes, sem uma rede de apoio

Constantemente recebendo o adjetivo de “guerreiras”, mães são, na verdade, sobrecarregadas. Foto: Freepik

Por Stefane Amaro

“Sinto que cada vez que eu cobro mais presença ou que preciso que ele [o pai] fique com ele [o filho], é como se eu tivesse pedindo um favor para alguém que não teria a mesma obrigação que eu na criação do Nicolas”. A fala é de Alice Matos, corretora de imóveis e mãe solo de Nicolas, de 8 anos, que está no espectro autista e possui Transtorno Opositor Desafiador – que é definido pelo Manual Merck como um padrão recorrente de comportamento negativo, desafiante e desobediente com frequência direcionado contra figuras de autoridade.

Alice conta que tem sua rotina moldada pela rotina do filho: “[ele] quer minha atenção toda focada nele o tempo todo. Isso o atrapalha nas habilidades sociais, me atrapalha a seguir com minhas atividades e é exaustivo”. Ela relata ainda que “a sociedade não está preparada para um ‘autista que incomoda e não fica ‘no mundinho dele’’. Coisas que deveriam ser simples são uma luta. Luta com o plano de saúde, luta com a escola, luta para garantir os direitos básicos dele”.

E os desafios são enfrentados quase exclusivamente pela corretora. Alice tem o apoio da mãe e da irmã, mas, como ela mesma lembra, ambas possuem demandas próprias. E o genitor não é presente na vida da criança, conta. “Foi um relacionamento abusivo que acabou quando o Nicolas tinha 4 meses de idade. Desde então, nossa única ligação é o nosso filho. Ele é presente financeiramente, com pensão em dia, mas muito ausente com ele”.

Alice não é a única com uma história assim.

Adriana Oliveira, advogada e mãe de Matheus, de 11 anos, conta ser composta por muitos desafios, mas a maternidade segue sendo um dos maiores de sua vida. “Como mãe solo, eu sempre preciso me programar de um mês para o outro, para conciliar o trabalho, a rotina doméstica e acompanhá-lo. É um relacionamento sério com a agenda ad aeternum [para sempre]”, explica.

Ela relata a necessidade de conciliar o medo que sinto em como o mundo vai recebê-lo e ao mesmo tempo prepará-lo para os desafios da sociedade. “Sociedade esta que tem tanta resistência com o que lhe é diferente ou não muito comum”, diz. “Te diria que hoje meu maior desafio, além da exaustão de ser mãe solo atípica 24h, 7 dias por semana, e profissionalmente me restringir a trabalhar de forma exclusiva em teletrabalho, para que eu possa seguir com o Matheus em sua rotina, é a parte educacional, é esse processo de trabalhar a sociabilidade dele para o mundo”.

Adriana conta que, nos últimos 4 anos, enfrenta os desafios da maternidade solo e atípica sem uma rede de apoio. “Não existe uma relação. O genitor tem livre comunicação com Matheus, mas nossa comunicação se restringe a questões burocráticas e mediadas judicialmente”, revela.