Foco agora é acolher refugiados com dignidade, criar oportunidades de emprego e motivar sonhos

Foto: Divulgação

Depois de meses de descaso do governo federal, sob comando de Jair Bolsonaro (PL), o Aeroporto Internacional de Cumbica, em Guarulhos (SP), deixou na última semana de ter afegãos acampados de forma improvisada em seus corredores. No auge do fluxo migratório, em outubro do ano passado, o Terminal 2 do aeroporto chegou a abrigar cerca de 300 pessoas provenientes do Afeganistão.

Durante este tempo, o grupo contou com assistência imediata de uma rede de voluntários formada de forma espontânea, que mobilizou desde o McDonalds e a companhia aérea Emirates, até grupos de mulçumanos, católicos e evangélicos na arrecadação de doações para as famílias refugiadas.

No período, foram feitos dezenas de pedidos às autoridades brasileiras para que os enviassem para abrigos, no entanto, a ação de reconhecimento dos direitos dos refugiados só ocorreu após intervenção do atual Ministério da Justiça e Segurança Pública, que mantém em sua pasta o Comitê Nacional para os Refugiados (Conare).

“Estamos empenhados em concretizar uma solução definitiva para um acolhimento humanitário da população afegã que tem chegado ao nosso país”, disse Sheila Carvalho, presidenta do Conare.

Foto: reprodução

A Mídia NINJA ouviu a ativista Swany Zenobini, líder do Comitê de Enfrentamento ao tráfico Humano do Grupo Mulheres do Brasil e Membro da Comissão Municipal do Enfrentamento ao Trabalho Infantil em SP, um dia depois dos últimos afegãos acampados no aeroporto serem enviados para abrigos. Ela é uma das principais articuladoras da rede de voluntários que organizam durante meses as doações e serviços.

“Nosso foco agora tem sido ajudar os abrigos que tenham acolhido os afegãos”, conta Swany.

Tulipas vermelhas

Ela e um time de voluntários do Coletivo Frente Afegã estão ajudando a reconstruir os sonhos dos refugiados. Ela explica que uma força-tarefa mantém um auxílio permanente para construção do protagonismo dos afegãos, e conta que estão sendo oferecidas oficinas de língua portuguesa, ações com as crianças e também incentivando mulheres afegãs que se interessam em bordados, em uma mobilização para criação de pontos de venda.

“Aquilo que elas consideram um hobby, se torna uma fonte de renda, que é o bordado. E eles são maravilhosos, belíssimos, deslumbrantes. Essa parceria vai criar uma lojinha, primeiro para divulgar a cultura afegã, mas também dar uma fonte de renda para essas mulheres. É algo muito bom para a autoestima. Estamos confiantes”, afirma Swany.

Foto: reprodução

O projeto ‘Tulipas Vermelhas’ é apoiado pelas Aldeias Infantis S.O.S, e gerido em parceria com a Agência da ONU para refugiados (ACNUR).

Um dos projetos desenvolvidos com os afegãos foca em conectar afegãos com oportunidades de emprego. “Agora os abrigos estão entendendo que somar forças com o coletivo é um benefício e vai ser bom para os afegãos também. Conseguimos encontrar um ponto de conexão muito legal para somar forças”, afirma.

Acolhimento

A Caritas Arquidiocesana de São Paulo (CASP) foi a primeira organização a alertar para a gravidade da situação dos afegãos, em um momento em que todos os olhos estavam voltados para a crise humanitária gerada pela guerra na Ucrânia.

O apoio ativo da CASP desde o início da crise humanitária no Afeganistão faz com que a organização tenha profundo conhecimento a respeito da gravidade da situação dos afegãos que chegam ao Brasil. A organização religiosa informa que a primeira família afegã atendida pela CASP desembarcou no país em 1º de outubro de 2021, via CRISP (Sustainable Resettlement and Complementary Pathways Initiative – ACNUR & OIM).

Desde aquela época, a CASP informa ter o registro de 352 pessoas afegãs, sendo 128 do gênero feminino e 224 do masculino; 38 de 0 a 4 anos de idade, 44 de 5 a 11 anos, 14 de 12 a 17 anos, 246 de 18 a 59 anos e 10 acima de 60 anos; 173 pessoas com mais de 12 anos de estudo.

A direção da CASP já encaminhou ofícios ao Ministério Público e a outros órgãos governamentais expondo a situação. “Solicitamos que as entidades humanitárias e o poder público se unissem para pensarem, juntos, soluções para a crise migratória dos afegãos ao Brasil, cujo fluxo aumentou principalmente a partir de fevereiro de 2022”, informa a Caritas.

A Caritas informa que os refugiados afegãos chegam ao Brasil completamente vulneráveis, obrigados a enfrentar os desafios impostos por uma terra estranha e uma língua e cultura distintas. “Lamentamos que essas famílias, forçadas a deixarem o Afeganistão desde que o grupo Talibã assumiu o poder, em agosto de 2021, tenham suas vidas expostas em situação de extrema fragilidade e sem a chance de recusarem tal exposição”, declarou.

A respeito da concessão do visto humanitário pelo governo brasileiro aos afegãos, a Caritas Arquidiocesana de São Paulo entende que, ao concedê-lo, o poder público deve garantir-lhes acolhida digna quando chegam ao Brasil.

Rede de doares e voluntários:

▪️Mesquita de Guarulhos
▪️JOCUM Casa
▪️Farmacia dr Bezerra de Meneses
▪️DHL
▪️Emirates
▪️Mc Donalds
▪️Eu me importo e você?
▪️Bem da madrugada
▪️Coliseu
▪️Projeto Social Pequeno Teto
▪️Comunidade de Taiwan
▪️Acampamento Jovens da Verdade
▪️HOPE Medicina Diagnóstica
▪️Governo do Estado de São Paulo
▪️Aliança Evangélica Brasileira
▪️IBAB (Igreja Batista Águas Brancas)
▪️Hotel Monreale
▪️ONG Médicos do Mundo
▪️REMAR
▪️Padaria Marengo
▪️ ACISB Associação Cultural Islâmica de Botucatu
▪️ UMMB (União das mulheres muçulmana no Brasil)
▪️Instituto GAS
▪️Além-Fronteiras
▪️Igreja presbiteriana da Mooca
▪️Construtora Comercial Tone
▪️Procular Próteses oculares
▪️Igreja Adventista
▪️Deputada Federal Tabata Amaral
▪️Dra. Ludmilla Hajjar
▪️Pablo Vittar
▪️Titi Müller

Leia mais:

Como o aeroporto de Guarulhos se transformou em abrigo de afegãos refugiados

Governo Federal desampara afegãos refugiados após visto humanitário ser liberado