PELE – 25.07.1968 – FC Santos. Foto: Aldo Liverani / Icon Sport

Por Ben Hur Samuel

Seria uma profusão de dubiedades se em 1958 um problema na delegação brasileira não fizesse eles enviarem o nome dos jogadores não cronologicamente mas alfabeticamente maximizados por seus números para a FIFA. Pelé na época com 17 anos recebia o número 10. Uma minúcia história mudou a história dos números e, com isso dito, Pelé recebia um legado indubitável que sobreviveu às guerras, ao preconceito racial e sobretudo ao tempo. 10 nunca mais foi e jamais será um número efêmero.

O futebol brasileiro é profundamente recheado de personalidades que sobreviveram ao tempo. Leônidas no São Paulo, Dirceu e Tostão no Cruzeiro, Dadá no Galo, Sócrates no Timão, entre outros. Santos, que por muitos anos possuía jogadores prolíficos, mas pouco populares quando se trata da mídia em si, mal saberia que no começo da década de 1950 um jogador de uma cidadezinha mineira cujo sútil nome é Três Corações mudaria a forma que o futebol é visto.

Pelé não era só um craque, era um craque em ascensão. Todos seus adversários se curvaram ao Rei do Futebol. Como Rei, foi responsável por conquistas mais humanas do que desportivas, afinal de contas, quantas vezes vemos pessoas pretas em destaque na televisão senão aquelas que trabalham em empregos laboriosos?

Afirmativamente, Pelé tornou-se um craque da raça preta e sobretudo humana. Seu soco no ar como comemoração sempre que marcava um de seus 1200 gols era um pontapé contra as dificuldades inevitáveis que são vistas diariamente por pessoas pretas brasileiras e ademais, sua personalidade tornou uma referência para pessoas de pele escura no Brasil. O primeiro personagem de história em quadrinhos que não era caricaturalmente estereotipado pela mídia, afinal de contas, com qual poder poderiam aqueles preconceituosos ter de não reconhecer o poder de um rei e uma figura poderosa do povo preto?

Um rei que nos trouxe três copas e ao marcar seu milésimo gol e dedicou este às crianças pobres afetadas pelas chuvas no Brasil. Pelé foi capaz de parar o mundo com sua genialidade, foi capaz de parar preconceito em geral contra aqueles que duvidavam do talento que o povo preto possessa.

Mas houve algo que o Rei foi incapaz de parar, ele foi incapaz de parar o maior bem perpétuo da humanidade, o tempo. O tempo contudo, levou Pelé para um descanso eterno, para a galeria dos maiores da história. Mas mesmo com a perpetuação do tempo, que segundo Raduan Nassar é o maior bem que o humano tem, seria crível dizer que o tempo esquecerá aquele que próprio parou até mesmo o ar, ele será perpétuo para sempre. Viva o Rei pois a ele, terá vida longa. Viva Pelé e o povo preto brasileiro.

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube