Pedido de pais para banir obra “Pequeno manual antirracista” não foi aceito pela escola Abel, em Niterói, RJ

Djamila Ribeiro apresenta ‘Pequeno Manual Antirracista’ — Foto: Reprodução / Instagram @DjamilaRibeiro

Pais de alunos do 9º ano do Abel, um colégio tradicional do Rio de Janeiro, pediram que o best-seller “Pequeno manual antirracista”, da filósofa Djamila Ribeiro, fosse retirado da grade curricular. Ele foi escolhido para ser usado no projeto interdisciplinar “Sankofa: raízes e perspectivas da cultura afro-brasileira e indígena”. A escola recebeu os pais em uma reunião e não acatou o pedido.

“Apesar de os pais terem sido ouvidos, mantivemos a obra como parte do conteúdo didático e neste espaço esclarecemos o porquê”, explica o início da nota pública.

Leonardo Borba, coordenador pedagógico da instituição, explicou no comunicado que a escola estava seguindo a Lei 11.645/2008 (LDB), que torna obrigatório o ensino de História e Cultura Afro-brasileira e Indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio em todo o país.

“Reafirmamos nosso compromisso de formar cidadãos críticos e conscientes de seu papel na sociedade; indivíduos que respeitem as diferenças e lutem por um mundo mais justo e igualitário”, afirma a nota.

Foto: reprodução/Djamila Ribeiro Instagram

Sankofa

O pedido dos pais se tornou público na última semana por meio da coluna ‘Fome de Quê?’, publicada no Globo Niterói, pela jornalista Ana Cláudia Guimarães.

“Obviamente que há muita resistência de boa parte da sociedade em se aprofundar sobre as relações raciais no Brasil. A perseguição a quem luta contra o racismo e se posiciona é antiga, nossos Ancestrais sabem bem disso. Eu fui formada pelos movimentos de base e sei bem o que é isso, sobretudo quando se é uma mulher negra que se expõe e se posiciona”, declarou Djamila Ribeiro.

Não é a primeira vez que o Abel precisa tomar uma atitude firme diante de pais. Em 2020, o professor José Nilton Junior, muito querido na comunidade escolar, sofreu racismo de alunos, como publicado pelo O Globo. O colégio, então, após o episódio, criou a Comissão de Relações Étnicos-Raciais.

A partir disso, o projeto interdisciplinar “SANKOFA” foi desenvolvido. Além de Djamila Ribeiro, outros autores foram escolhidos para compor a base literária do projeto, como Bell Hooks, Lázaro Ramos, Lélia Gonzalez, entre outros. As narrativas africanas e indígenas surgem como meios potentes para trabalhar gêneros literários, tipologias textuais e práticas de educação inclusiva e respeito à diversidade e à cultura.

*Com informações da coluna Fome de Quê?