Por Grace Ketly Barbosa da Silva Lima

A relação entre Inglaterra e Nigéria, adversários que se enfrentam por uma vaga nas quartas de final da Copa feminina, remete a uma época em que impérios eram sinônimo de poder, onde o Reino Unido juntamente com grandes nações europeias exploravam e dominavam nações africanas.

Os europeus adentraram na África inicialmente como comerciantes de negros escravizados desde o século XV até o final do colonialismo. A Revolução Industrial, iniciada pela Grã-Bretanha e, na sequência, seguida em todo mundo, desempenhou um papel fundamental no fim do tráfico de escravos e no começo da exploração no continete. A Revolução Industrial na Europa acelerou a produção, e a necessidade de matérias-primas para suprir a demanda e os mercados.

A Nigéria conquistou sua independência do Império Britânico no ano 1960. O processo de descolonização da Nigéria foi bem conturbado, saindo de um golpe de estado para outro, e mesmo depois de 63 anos, o país ainda enfrenta problemas para uma união efetiva entre seus povos, sendo o país mais populoso do continente africano.

O futebol permitiu à Nigéria se promover na comunidade internacional, o que não é diferente no futebol feminino, conseguindo ser classificado para às oitavas de final entre as três seleções do continente classificadas nesta edição da Copa do Mundo feminina da Fifa.

Rainha Elizabeth e Ben Enwonwu

Ben Enwonwu, artista africano mais influente do século 20, era nigeriano e fez escultura africanizada da monarca britânica. Foto: Oliver Enwonwu / The Ben Enwonwu Foundation

Em 1956, o país contou com a visita da Rainha Elizabeth II. O evento foi o primeiro contato direto com a representante da coroa britânica no país. Na ocasião, o artista Ben Enwonwu recebeu a missão de produzir uma estátua da rainha em comemoração à visita. O fato fez com que o nigeriano fosse o primeiro artista africano a produzir um retrato oficial de um membro da família real britânica. “Em 1957, a rainha Elizabeth II posou para Enwonwu para uma grande escultura de bronze”, diz o Royal Collection Trust.

A Rainha Vermelha posou para Enwonwu 12 vezes, oito delas no Palácio de Buckingham, de acordo com o site da Fundação Ben Enwonwu.

A escultura foi entregue em 1957 e surpreendeu na época, pois retrata a rainha com Lábio mais carnudos, marca registrada do artista – o mesmo era conhecido por “africanizar” seus modelos. “Algumas das críticas que a escultura recebeu foi que o artista retratou a rainha através de seus olhos africanos, o trabalho tinha características africanas, o que era característico de seu trabalho”, disse Oliver Enwonwu à CNN.

Ben Enwonwu e a rainha Elizabeth II. Foto: Oliver Enwonwu / The Ben Enwonwu Foundation

Mas e o futebol?

Atualmente, a relação entre os países é de cooperação, porém, logo mais ambos se enfrentam pelas oitavas de final da Copa do Mundo Feminina FIFA 2023, no Suncorp Stadium, em Brisbane (AUS). Quando a bola rolar, a Nigéria enfrenta uma Inglaterra invicta no torneio.

A Inglaterra chega como favorita, mas vimos até aqui eliminações precoces de grandes times. Se a Nigéria conseguir o feito de avançar para próxima fase, será uma vitória com gosto de reparação histórica, um país atingido atualmente por crises encontrou na sua seleção feminina motivos para se orgulhar e sorrir.

Foto: Naomi Baker – The FA/The FA e Justin Setterfield/Getty Images

Com informações de Africanidades, Britannica, BBC, CNN, Terra e UFRGS

Texto produzido em cobertura colaborativa da NINJA Esporte Clube