Garimpeiros serviram gasolina com água e suco com etanol a indígenas durante invasão à comunidade de Jarinal, na Terra Indígena Vale do Javari, no Oeste do Amazonas. Além de os forçarem a beber, os garimpeiros alcoolizados cometeram crimes sexuais contra mulheres da aldeia.

A União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja) e o Centro de Trabalho Indigenista – CTI, associação de antropólogos e indigenistas, denunciaram o fato ocorrido na aldeia onde vivem 160 pessoas do povo Kanamari e 47 indígenas Tyohom-dyapa. Este último, povo de recente contato que nas últimas décadas teve sua população diminuída por histórico de doenças e conflitos.

Acima da aldeia que fica no curso do rio Jutaí, no Alto do Jutaí também há uma área habitada exclusivamente por indígenas isolados.

Membros da aldeia Jarinal pediram socorro aos demais parentes do povo Kanamari e pediram urgência na ação da Fundação Nacional do Índio (Funai) e demais órgãos responsáveis. As denúncias foram encaminhadas pelo Conselho Indígena dos Kanamari do Juruá e Jutaí (Cikaju) e pela Associação dos Kanamari do Vale do Javari (Akavaja).

Uma liderança Kanamari, que acolheu os pedidos de ajuda da comunidade disse que os garimpeiros chegaram sem autorização. “Foram invadindo, fizeram festa na aldeia e embriagaram os parentes”.

Ainda segundo alerta do CTI, uma liderança da aldeia Jarinal disse que “garimpeiros estão fazendo festa até o amanhecer e dando álcool para os parentes. Temos os parentes Tyohom-dyapa de recente contato, isso é preocupante”, desabafou.

Outro morador da aldeia disse que eles “misturaram gasolina com água e deram para os parentes. Fizeram eles beberem gasolina”.

O CTI destaca que as lideranças indígenas estão preocupados com a presença dos garimpeiros, que pode agravar a situação de saúde na aldeia Jarina, principalmente porque em um passado recente a comunidade contabilizou uma elevada mortalidade infantil, tanto dos Kanamari quanto dos Tyohom-dyapa. De 2012 até 2019, 17 crianças Kanamari e Tyohom-dyapa morreram, a maior parte delas por enfermidades infecto-respiratórias. No mesmo período, outros seis adultos morreram.

A invasão de garimpeiros acontece três anos após uma operação Korubo, realizada em conjunto pela Funai, Ibama e Polícia Federal, que destruiu 60 balsas de garimpo na região.

Segundo o CTI a atual invasão acontece na mesma região, onde os garimpeiros voltaram a se instalar.

Ainda segundo o Centro de Trabalho Indigenista, para atuar na fiscalização das invasões, a Funai mantém bases de proteção etnoambiental e que em 2021, o órgão realizou processo seletivo destinado a contratação temporária de agentes para as bases, porém os selecionados não estão atuando na área da aldeia Jarinal, o que tem facilitado as invasões.

 

(Com CTI)