Achei que ele [apoiador de Bolsonaro] fosse me assassinar, então comecei a gritar chamando pela polícia, conta a vítima

Foto: Arquivo Pessoal

Um homem foi violentamente agredido, na última terça-feira (1º) em uma rua no bairro da Lapa, em São Paulo, e teve o nariz e ossos da face deformados após uma série socos de um apoiador de Bolsonaro. Ao procurar a polícia para fazer o boletim de ocorrência na 7ª Delegacia da Lapa, ele conta que foi novamente vítima de agressão verbal: agora, por delegados assumidamente bolsonaristas.

Vinícius Fernandes é engenheiro de software na UOL e doutorando em ciência da computação na Universidade de São Paulo (USP). Ele conta que um dos delegados chegou a afirmar que “faria o mesmo” em relação às agressões. Vinícius precisou ficar internado no hospital São Camilo, onde fez a reconstituição dos ossos da face.

Ao sair para comprar um chip de celular um dia após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) conceder a Lula (PT) o lugar na presidência e confirmar a derrota do candidato de extrema-direita, Jair Bolsonaro (PL), o engenheiro retirou uma bandeira do Brasil que estava do lado de fora de um carro estacionado em uma rua do bairro da Lapa. Após caminhar alguns passos, foi interrompido por uma pessoa com o pedido de informações acerca da localização.

“Enquanto eu o estava orientando, um outro carro (não o que a bandeira havia sido retirada) parou do nosso lado e perguntou se eu havia retirado uma bandeira do Brasil de um carro acima na rua. Para evitar conflito não respondi e tentei ignorá-lo. No entanto, o cidadão no carro começou a escalar as ameaças e insultos, dando um tom que ele tinha direito de fazer justiça com as próprias mãos nos termos que achasse adequado”, conta Vinícius.

A partir desse momento, o apoiador de Bolsonaro, identificado como um homem branco de aproximadamente 50 anos, começa a empurrar Vinícius com socos. “A resposta dele foi me empurrar covardemente contra o meio-fio, deitar seu corpo em cima de mim e desferir socos repetidos na minha face até quebrar severamente meu nariz e outros ossículos da face. Achei que ele fosse me assassinar, então comecei a gritar chamando pela polícia, ao que ele responde ‘pode chamar polícia, não vai acontecer nada'”.

Vinícius contou com a ajuda de lojas comerciais e estabelecimentos que capturaram a cena para buscar identificar o agressor, “mas a colaboração nesse sentido tem sido escassa”, afirma.

Segunda agressão

Ao chegar na 7ª Delegacia, situada no bairro da Lapa, com o nariz e ossos da face fraturados e relatar o ocorrido, Vinícius relata que um dos delegados deu risada e disse que “teria feito mesmo”. Apesar da declaração gerar indignação de Vinícius, ele havia sido orientado em manter o depoimento no Boletim de Ocorrência, por se tratar de um documento importante para avanço das investigações.

“O tratamento dispensado a mim foi de descaso e escárnio, e os delegados que me atenderam explicitamente declararam suas posições políticas bolsonaristas. Com muito esforço consegui me acalmar e realizar o Boletim de Ocorrência”, afirma. Segundo Vinícius, uma assessoria jurídica consultada por ele afirma que o B.O foi feito de maneira bastante “imprecisa e inadequada pelo delegado em questão”.

“Recebi alta quinta-feira, segui todos os protocolos burocráticos indicados pelos delegados para deixar o caso preparado para abrir representação e, agora, estou correndo atrás destas imagens para tentar identificar o agressor e alertar para escalada absurda do senso de autorização de justiçamento pessoal que está produzindo vítimas diárias em nosso país”, alerta Vinícius.