Foto: (Reprodução/Marcelo Magalhães)

Por Larissa Castro

Adriana de Jesus, ou “Neca” (como prefere ser chamada) tem 43 anos e é moradora do Morro do Jordão em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Ela é famosa no bairro e conhecida pela história de vida e superação. Neca é professora de educação física e atleta de fisiculturismo na categoria Women’s Physique. Já soma mais de 25 títulos em competições estaduais e nacionais.

Antes de conquistar suas vitórias como atleta, Adriana era faxineira em uma academia de musculação e ali iniciou sua paixão pelos exercícios físicos. Foi através do Fundo de Financiamento Estudantil (FIES) que ela conseguiu cursar a faculdade de Educação Física em uma universidade. “Me formar na faculdade foi uma luta muito grande, uma dificuldade que eu tive […] tive problemas financeiros, problemas na família, problemas na minha comunidade, tinha dias que não conseguia voltar para casa”.

Ao todo, a atleta possui 15 títulos na categoria Welness e 11 títulos na categoria Women’s Physique, sendo dois deles de Overall, que é a mais famosa e mais importante categoria para os campeões.

“Sou professora de educação física e as pessoas me têm como referência […] Sou atleta de fisiculturismo negra e até hoje nunca vi nenhuma atleta usar o cabelo black no palco. Eu sempre estou com meu cabelo black no palco”.

Neca se define como uma pessoa com muitos objetivos, muitos sonhos, que não desiste e que ama o que faz. Já sofreu com o racismo durante a vida e não tem medo de se posicionar “Sempre soube o que eu queria, nunca abaixei a cabeça pra ninguém, nunca deixei ninguém me desmerecer, sempre me impus”.

“Na adolescência, em um namoro que eu tive, a mãe dele me criticava por eu ser negra, por eu morar em comunidade, em favela, né? Ela sempre jogou isso pra mim e deixava bem claro”.

Em 2021, o Ministério dos Direitos Humanos divulgou que ocorreram 1016 denúncias de injúria racial no Brasil. Na sua rotina, Adriana utiliza sua influência para se posicionar na luta antirracista. “Me posiciono com as minhas atitudes, com o meu trabalho, com o meu esporte, como pessoa, com as minhas palavras, no meu dia a dia: esse é o meu jeito de mostrar que uma mulher negra pode chegar onde ela quer chegar, da forma que ela quiser chegar. […] Sempre busco falar sobre (racismo) quando rola o assunto, quando rola um questionamento sobre a cor, sobre preconceito, de autonomia sobre os seus corpos e a violência contra as mulheres negras”.

O desemprego entre as mulheres negras é duas vezes maior em relação aos homens brancos, de acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, realizada pelo IBGE. Além de mulheres negras serem maioria nos trabalhos informais e trabalhos domésticos, que é reflexo do trabalho servil e escravo no Brasil que durou 388 anos.

“No meu antigo trabalho, um outro funcionário falava que eu tinha que limpar banheiro e que a minha função era essa, ‘sua negrinha’”.

Além do racismo, a atleta já sofreu preconceitos por conta do corpo musculoso: “Olhares na rua de pessoas que não conhecem o esporte, né? Que não conhecem o fisiculturismo, não conhecem o nosso estilo de vida. Os olhares, principalmente de mulheres, são muito preconceituosos e frases que falam pra gente ouvir […] (o corpo) chama muita atenção porque eu realmente sou fora do padrão”.

Adriana Neca. Foto: (Reprodução/Marcelo Magalhães).

Apaixonada pelo esporte, diz que o fisiculturismo lhe deu oportunidades na vida: “O fisiculturismo abriu portas na área do meu trabalho, de uma mulher negra estar no esporte. Quando eu comecei não se via atletas negras no palco […] eram sempre branquinhas, loiras de cabelo liso. Então, eu negra do cabelo black, cabelo enrolado, vim conquistar o palco e fui fazer o meu nome. Hoje em dia nós temos atletas negras na categoria que são campeãs”.

Empoderamento pode ser definido como a ação de se tornar poderoso. Neca se considera uma mulher muito empoderada e diz que também empodera outras mulheres. “Me sinto bem comigo mesma, estou certa das minhas escolhas e tenho o poder de agir na minha vida em todas as áreas que eu quiser. Tenho liberdade para fazer minhas próprias escolhas, saber me valorizar financeiramente, saber valorizar meu trabalho e viver sem precisar de aprovação de ninguém […] influenciar outras mulheres também, a se valorizar, se cuidar, a se amar em primeiro lugar”.

“Quando chega um aluno que vem me agradecer por ter conseguido subir uma escada, ter conseguido dormir sem dor, essas são as melhores partes do meu dia”.

Adriana Neca quer ser lembrada como uma grande profissional e uma pessoa determinada. Diz que sua missão da vida é ajudar ao próximo e fazer as pessoas felizes.