(Livia Kumaruara)

 

A Praça São Sebastião, em Santarém (PA), é palco de encontro indígena que reúne bases dos povos de Santarém (PA). Temas urgentes, como demarcação de territórios, educação indígena e impactos das mudanças climáticas são foco do encontro. Eles também articulam ações de resistência contra projetos de leis e grandes empreendimentos que atacam diretamente os direitos dos povos originários.

O “Acampamento Santarém Território Indígena: Luta pela vida” é a primeira edição do evento organizado pelo Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns (CITA) e segue até o dia 25 de junho. Durante os dias de acampamento, a população de Santarém pode conhecer e consumir produtos produzidos pelos povos indígenas na Feira de Artesanato. .

Ele faz parte da jornada nacional de mobilização do movimento indígena e dá continuidade às lutas contra a tese do Marco Temporal, que seria julgada no Supremo Tribunal Federal (STF) no dia 23 de junho, mas foi retirada da pauta, resultando no adiamento do Acampamento Luta Pela Vida 2022, que aconteceria em Brasília.

Segundo a organização, a mobilização indígena ocorre em uma semana emblemática para os povos indígenas: o “aniversário” do município. Para o senso comum, a cidade comemora 361 anos no dia 22 de junho, no entanto, arqueólogos afirmam que Santarém é considerada a cidade mais antiga do Brasil, com indícios da presença indígena no território há pelo menos 10 mil anos. Por isso, os povos do baixo Tapajós ocupam as ruas com o objetivo de retomar seu território de origem após o processo de tentativa de apagamento histórico.

“O nosso principal tema do acampamento é o marco temporal, mas também essa mobilização é uma demarcação de território. É dizer que nós existimos, nós estamos aqui, que Santarém é um território indígena. Apesar de 361 anos que comemoram do aniversário de Santarém, isso não apaga a nossa existência, muito menos a nossa história. Nós somos milenares aqui nessa região”, declarou Auricélia Arapiun, coordenadora do CITA.

No Baixo Tapajós, os povos indígenas resistem ao dilema do avanço do agronegócio, exploração madeireira ilegal e grandes empreendimentos que adentram seus territórios. O acampamento irá tratar sobre os projetos de lei como o 191/2020 que tenta liberar a atividade garimpeira nos territórios indígenas e pode impactar ainda mais os povos da região do Tapajós. Em janeiro deste ano, o Rio Tapajós foi destaque nacional pela mudança de cor das águas no curso do rio próximo a Alter do Chão, distrito de Santarém, ocasionadas pela atividade garimpeira ilegal na região.

A mobilização pretende construir um espaço de resistência, discussão e mobilização pelos direitos dos povos indígenas. A defesa dos territórios e a garantia de políticas públicas pela qualidade de vida, como educação e saúde também serão pauta de reivindicação.

Segundo Auricélia Arapiun o acampamento no baixo Tapajós articula a resistência que vem sendo construída pelos povos indígenas da Amazônia e em todo Brasil.  “É um ato que vai representar a Amazônia no contexto atual que nós estamos vivendo de tantos retrocessos e tantas violações contra os nossos direitos. A gente está se juntando aos parentes da Amazônia, aos parentes do Brasil todo que também vão fazer suas manifestações. Aqui a gente permanece com o nosso acampamento que é um marco da nossa história, é um sonho que nós estamos realizando, dar visibilidade pra luta dos povos indígenas do Baixo Tapajós”, pontuou.

Estarão presentes em Santarém indígenas das 13 etnias representadas pelo Conselho Indígena Tapajós e Arapiuns: Tapajó, Tupaiu, Tapuia, Munduruku, Munduruku-Cara Preta, Maytapu, Tupinambá, Arapium, Arara Vermelha, Jaraqui, Apiaká, Kumaruara e Borari.

Confira a programação completa nas redes sociais, acesse: @citabt.