Foto: SENEGAMBIA/Reprodução

No próximo sábado, 21, a partir das 13h, acontece o Seminário GT Barreiro, atividade da Comissão de Administração Pública da Câmara Municipal de Belo Horizonte, que apresentará para a população a devolutiva dos trabalhos realizados no grupo de 2021 aos primeiros meses de 2022, com relatoria da vereadora Iza Lourença (PSOL). Na ocasião, será realizada cerimônia de entrega do título póstumo de Honra ao Mérito ao abolicionista Matias, a ser recebido pelas mãos do Instituto Alforriado Matias.

Matias foi um homem escravizado, no século 19, na então fazenda Barreiro, vendido pelo escravagista Cândido Brochado depois dos 60 anos, e prestes à sanção da lei do Sexagenário, que lhe daria liberdade. Matias fugiu, se escondeu na mata, próximo à fazenda, com a ajuda de mulheres escravizadas que trabalhavam na casa de Brochado. Essas mulheres informaram Matias sobre uma visita do Major a Freitas, atual região da Pampulha, e assim ele pôde armar uma emboscada e concretizar a retaliação contra seu algoz.

Em 30 de outubro de 1877, fez justiça e matou seu escravizador que, além de dono da fazenda, era líder do partido conservador, no auge das ações abolicionistas do país, libertando muitos escravizados e influenciando no curso da história da região. Posteriormente, Matias foi preso e encontrado morto em uma prisão em Ouro Preto, possivelmente, vítima de torturas. Ainda que não tenha sobrevivido muito tempo depois, entrou para a história como o Alforriado Matias, e seu feito está descrito nas linhas de Abílio Barreto, jornalista e historiador que dá nome ao importante museu de nossa cidade.

“A história do nosso país é sempre contada nos livros e registros oficiais pelo viés do poder vigente, ignorando de maneira deliberada as partes controversas, violentas e criminosas. É a partir do trabalho do próprio povo que se resgata a história dos nossos líderes e seus feitos em busca de liberdade. Em parceria com o Instituto Alforriado Matias, nosso mandato pesquisou os registros sobre Brochado e assim pôde descobrir a data exata da morte do escravagista, 30 de outubro de 1877, sendo essa considerada atualmente um dia simbólico para a luta pela abolição e lembrança da coragem de Matias de alterar o curso da própria história e de muitos outros”, destaca Iza Lourença.

“É como diz o escritor Luiz Gama, abolicionista do século 19: ‘todo escravo que mata seu senhor age em legítima defesa’”, completa a vereadora.

Instituto Alforriado Matias

O Instituto Alforriado Matias é uma plataforma de aceleração e conexão entre produtores culturais para democratizar o acesso à cultura por meio da valorização da produção na região do Barreiro. Idealizado pelos produtores culturais Marlon Andreata e Ayobami Nombulelo, a instituição reúne profissionais das áreas de economia, empreendedorismo e tecnologia, com o objetivo de valorizar o empreendedorismo negro.

Algumas das ações já realizadas pelo instituto pela memória de Matias foram um mini-documentário sobre sua história, disponível no YouTube, e uma intervenção urbana que adesivou as placas de rua mudando o nome da Avenida Sinfrônio Brochado (neto de Cândido) para Avenida Alforriado Matias.