Pesquisa aponta dados e ganhos da política de cotas e especialista se refere a elas como a primeira política de reparo histórico no Brasil

Foto: Roberto Setton

Por Renata Renovato para os Estudantes NINJA

Há 10 anos foi implementada a política de cotas nas universidades públicas. Desde então, dados de pesquisas revelam como esta política já transformou, até hoje, a vida de milhares de jovens periféricos, de escolas públicas, pretos, pardos, indígenas e pessoas com deficiência, de todo o Brasil.

A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), através da pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), mostra que os jovens beneficiados pelas cotas, nas instituições federais, passou de 42%, em 2010, para 53%, em 2020. Contudo, esta mudança revela apenas um começo das politicas necessárias de reparação histórica em nosso país.

Segundo José Vicente, reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, em entrevista à CNN, esta é a primeira política pública brasileira que inclui grupos excluídos da vida nacional.

Para o reitor, historicamente, o Brasil sempre limitou o acesso da população negra à vida social e ao mercado de trabalho. E como uma primeira política que dá acesso tanto ao ensino superior quanto ao mercado de trabalho, devemos lutar para que esta transformação que ocorreu em dez anos, “se torne um projeto de consolidação para que, decisivamente, nosso país faça dessa agenda uma ferramenta importante de igualização para negros e brancos”.

O reitor lembrou, também, que em 2006, artistas, intelectuais e até professores se posicionaram contra as cotas com a justificativa de que a qualidade do ensino das universalidades poderia ser ameaçada, alegando que, estas justificativas tinham a ver com uma tentativa, inicial, de proteger os privilégios da meritocracia. Ele afirmou que estas justificativas foram equivocadas pois as oportunidades não são as mesmas para todas as pessoas.

“É impensável imaginar que um menino da periferia e um menino de classe média alta compitam em pé de igualdade para acessar a USP (Universidade de São Paulo)”.

Mas, com o passar destes anos, a lei 12.711/2012 de 29 de agosto mostrou que a maior parte dos jovens cotistas teve um desempenho excelente e superou as expectativas. Este fato abriu espaço para as transformações ocorridas também no acesso ao mercado trabalho.

Ao afirmar a importância da política de cotas e da conscientização das pessoas a respeito desta conquista, José Vicente nos mostra a necessidade de nos atentarmos para o fato de que, ainda hoje, há projetos de lei no congresso nacional para a modificação da lei, que excluiria o aspecto racial.

É importante que haja uma nova e constante mobilização, de nossa parte, para que a política de cotas seja uma conquista efetiva. A sua conscientização se fez necessária tanto em 2006, quando pessoas equivocadas em seus privilégios não conseguiram enxergar tamanha importância das cotas, quanto hoje, quando revivemos uma onda conservadora que ainda teima em negar uma história que marca radicalmente as diferenças sociais e privilégios que, sem políticas de reparo histórico, se tornam intransponíveis.