Ator também revelou ao jornal Extra que, por questões de representatividade, interpretar um personagem gay atualmente não seria bem visto

Foto: Reprodução / TV Globo

Após uma entrevista publicada no jornal Extra com o ator Mateus Solano, o polêmico beijo gay em TV aberta voltou ao debate público. Ele e o ator Thiago Fragoso fizeram um par romântico na novela “Amor à Vida” e o beijo na boca entre ambos foi ar no último capítulo da novela. Foi o primeiro beijo gay em TV aberta mas apesar da comemoração de grande parte do público, a veiculação da cena não foi tão fácil.

“A Globo resistiu, não queria esse beijo”, revelou o ator.

Ele disse que a popularidade da personagem foi fundamental contra a resistência. Ele cita outros papeis que interpretou em outros projetos, incluindo os que protagonizou na Rede Globo, mas o vilão Félix foi imbatível. “Os mais conservadores, mais homofóbicos, olhavam pra mim, davam uma risada e diziam: ‘Pô, você tem que dar um beijo naquele cara!’. Foi muito especial essa unanimidade. Com Félix, eu consegui cumprir um dos objetivos do artista: fazer com que o público reveja seus preconceitos”, disse.

Para o ator, o caso de amor entre Félix e Niko mudou paradigmas, e “bateu a química entre o personagem e os telespectadores”. “O dito ‘primeiro beijo gay em novelas’ aconteceu a partir da popularidade do Félix, que depois abraçou o casal com Niko”, disse o ator.

Na mesma entrevista, o ator também mencionou uma questão importante que circula entre o movimento LGBTQIAP+: a representatividade. Hoje sua interpretação poderia não ser bem vista, disse Solano, e o ator ainda chega a se questionar se não é por isso que a novela nunca foi reprisada. “Esse é um trabalho para quem é”, disse, especialmente ao citar papeis de pessoas trans ou travestis.

“São personagens homossexuais que carregam estereótipos muito fortes. Por mais que Félix fosse profundo, trouxesse uma mágoa, um drama que tocou as pessoas, ele era muito afetado. Mais afetado do que poderia ser um diretor de hospital. Isso fazia parte da aceitação dele, brincava com o preconceito que as pessoas têm. Hoje, já não seria bem visto. Fico me perguntando se não é por isso que a novela nunca foi reprisada. Agora, se eu fosse convidado para interpretar uma travesti, eu não me sentiria confortável”.

A representatividade em interpretação de personagens trans e travestis é um debate que tem ganhado as redes. E realmente, em outros tempos, o dito “transfake” não ganhava tamanha notoriedade. Transfake se refere a interpretação de personagens trans feita por atores ou atrizes cisgênero em um contexto que, cada vez mais, invisibiliza artistas transgênero.

“Eu perguntaria ao máximo de travestis possíveis a opinião delas antes de cogitar aceitar o papel”, disse Mateus. E provavelmente receberia um “não” como resposta.