Os porta vozes da cultura de Brasília. Foto: Mídia NINJA

A cidade de Brasília recebeu, neste final sábado (10), o Festival Encontraços, que comemorou o aniversário de dois anos da Revista Traços. Realizado no Setor Comercial Sul (SCS), tradicional área no plano piloto, onde também fica o Buraco do Rato. O rolê teve discotecagem de DJs locais, como Telma e Selma e Criolina, o baile charme do DJ Chokolaty e bandas como Pé do Cerrado, Funk como Le Gusta e Orquestra Voadora.

O Festival é uma celebração que vai além do aniversário. Com a festa, a Traços tem o objetivo de gerar renda para seu público atendido, a população de rua braziliense, e investir em estrutura para o projeto.

Fotos: Mídia NINJA

Com isso, também fomenta a cena cultural da região, que é estigmatizada pela prostituição e tráfico. “É um lugar perigoso, mas a gente pode transformá-lo. Podemos revitalizar esse lugar através da cultura. Nós queremos realizar eventos principalmente durante dia, para que a comunidade enxergue a população de rua como ser humano”, conta Rogério “Barba”, um porta voz da cultura da Revista Traços.

Barba é um dos primeiros porta vozes da revista. Ele morou na rua por 30 anos, cinco deles no Buraco do Rato. Foi através da Traços que ele saiu de lá e hoje é contratado da Revista, além de produzir programas independentes ao vivo. Hoje comunicador, Barba é referência quando se fala da revista, e sonha em levar o escritório da publicação para essa área.

Barba, o primeiro porta voz da cultura da Revista Traços. Foto: Mídia NINJA

Os traços da Traços

A Revista Traços, que circula em diversos lugares da cidade, é parte de um projeto de transformação através da cultura. Ela dá chances a moradores de rua, muitos deles do Setor Comercial Sul, de se tornarem porta vozes culturais. Esse trabalho está gerando resultados. Em dois anos, já tirou 70 pessoas das ruas e deu visibilidade a cultural local.

 

Em dois anos, a Revista Traços já lançou mais de 20 edições.

A publicação pretende ir além: os porta vozes, que são seus representantes, passam pelo processo de formação de vendedores, vivenciam diversas oficinas, debate sobre as pautas da revista, auxiliam na formação cultural, experimentam processos de acolhimento e fortalecimento de vínculo com famílias e outras pessoas do entorno.

Os beneficiários do projeto passam a ter acesso a lazer e cultura. Muitos nunca haviam ido a um museu, por exemplo, e atualmente, além de os frequentar, levam as suas vivências como pautas da para a revista e outros espaços.

A iniciativa nasceu há mais de 30 anos na Inglaterra e está presente em mais de 124 cidades no mundo, compondo uma rede maior de publicações de rua. Ela é um ponto dentro de um eixo de economia, que gera renda para os porta vozes e que busca transformação social.

“O colete, o crachá e o símbolo de porta voz resignificam eles, os tiram da invisibilidade e isso passa a ser um instrumento de retomada. Por trás do eixo da economia criativa, tem um eixo social, que trabalha a formação de vínculos familiares, domiciliares e sua qualificação para o mundo do trabalho”, conta Reinaldo Gomes, coordenador da Traços.

“A pessoa que é dependente química, vai beber e usar outras drogas, não tem jeito. O que a Traços oferece pra ela? Trabalho. Isso afasta a pessoa da criminalidade. Se ela ia roubar ou cometer um furto para consumir, hoje não, ela trabalha”, explica Barba sobre a conduta dos porta-vozes naquele território.

Apesar do avanço, muitos ainda encontram dificuldades na falta de moradia e na miséria extrema, apesar de manterem-se firmes na busca de algo melhor. “Tem gente que trabalha na Traços, mora na rua, mas vai na escola no dia seguinte”, comenta Barba.

Cultura que transforma

Barba Rogerio é um porta voz da Cultura. Através do trabalho na Revista Traços, ajuda seus irmãos. Barba morou muitos anos na rua em Brasília e sabe que a cultura transforma, que dá a visibilidade e as oportunidades que a população de rua nunca teve.vídeo: Mídia NINJA

Publicado por Mídia Ninja em Terça-feira, 13 de março de 2018

 

A mudança na visão do espaço e das pessoas também é sentida nos arredores. Outros coletivos estão se mobilizando e trabalhando na estética do local, produzindo murais e grafites, festas abertas e mobilizando pessoas para frequentarem o SCS.

Durante o último carnaval, o local chegou a ser rebatizado, mudando de Setor Comercial Sul para Setor Carnavalesco Sul. Agora quem sabe o local possa novamente alterar a sua identidade e chamar-se Setor Cultural Sul.

Funk como Le Gusta fechou com a melhor das energias o Festival Encontraços. Foto: Mídia NINJA

Foto: Mídia NINJA