Foto: Midia NINJA

Um estudo do pesquisador brasileiro e PHD em Sociologia Luiz Valério Trindade mostra que as mulheres negras são o principal alvo de comentários depreciativos nas redes sociais do Brasil, correspondendo a 81%, sendo mulheres de 20 a 35 anos. A pesquisa foi publicada em 2018, mas traz atualmente ao Brasil um debate que tem reacendido nas redes em todo o mundo após embate registrado na cerimônia do Oscar, na noite deste domingo (27).

Em uma das cenas mais comentadas da premiação, o ator Will Smith reage com um tapa a uma piada de Chris Rock que ofendeu a esposa Jada Smith, que sofre de alopecia. Rock a comparou com protagonista de filme que tem os cabelos raspados. Em uma das diversas leituras sobre a situação, a filósofa Djamila Ribeiro recorreu à pesquisa de Luiz Valério.

“Mulheres negras nunca foram vistas como frágeis e são as maiores vítimas de deslegitimação e chacotas”, escreveu. “São vítimas de chacota, ataques, sendo o grupo que mais sofre com discurso de ódio nas redes sociais como aponta pesquisa do professor Luiz Valério. Na grande maioria das vezes, mulheres negras lidam sozinhas com ataques porque as pessoas, partindo de uma visão racista e sexista (viva Lélia González) dizem que elas aguentam, não enxergam humanidade nelas”.

Os dados a que ela se refere estão na tese de doutorado defendida na Universidade de Southampton, na Inglaterra, por Luiz Valério Trindade. Ele analisou mais de 109 páginas de Facebook e 16 mil perfis de usuários.

Conforme publicado à época por Juliana Cézar Nunes para a Rádio Nacional, o levantamento também incluiu 224 artigos jornalísticos que abordaram dezenas de casos de racismo nas redes sociais brasileiras entre 2012 e 2016. Luiz Valério constatou que 65% dos usuários que disseminam intolerância racial são homens na faixa de 20 e 25 anos. Já 81% das vítimas de discurso depreciativo nas redes sociais são mulheres negras entre 20 e 35 anos.

De acordo com Luiz Valério, as mulheres negras causam muito incômodo em um modelo de construção social machista e racista. As principais vítimas de agressões nas redes são médicas, jornalistas, advogadas e engenheiras negras.

“A partir do momento em que essas mulheres negras ascendem socialmente, adquirem maior escolaridade, elas se engajam em profissões de maior visibilidade e maior qualificação. Isso entra em choque com aquele modelo que diz que a mulher negra tem que estar associada ou engajada em atividades subservientes e de baixa qualificação”, afirmou o pesquisador de acordo com a reportagem da Agência Brasil.

Combate à violência

Luiz Valério chama a atenção para a importância do Poder Público e das empresas que administram as redes sociais de combater a violência contra as mulheres negras na internet. O pesquisador, que é negro, defende o aprimoramento das políticas de privacidade das redes sociais, com mais punição para usuários que disseminam discurso de ódio.

“As atitudes que as pessoas têm no mundo virtual elas têm, sim, que responder civilmente por suas atitudes. Elas não estão protegidas por trás da tela do computador da forma como elas imaginam. As escolas de ensino médio e fundamental precisam preparar os jovens para que, na sua vida adulta, não repliquem esse tipo de comportamento”.

Texto com informações da Agência Brasil