O ambiente escolar no Brasil tornou-se uma arena de violência e discriminação racial para uma parcela significativa da população jovem. Dados alarmantes de uma pesquisa inédita conduzida pelo Instituto de Referência Negra Peregum (Ipec) e Projeto SETA revelam que 64% dos brasileiros entre 16 e 24 anos apontam as escolas como o lugar onde mais sofrem racismo. Mulheres negras são maioria entre quem enxerga a raça como principal motivadora de violência nas instituições de ensino, representando 63% dos entrevistados.

A violência verbal desponta como a forma mais comum de manifestação do racismo, com 66% dos entrevistados relatando experiências de xingamentos e ofensas. Em seguida, o tratamento desigual afeta 42% das pessoas, enquanto 39% mencionam ter sofrido violência física, como agressões. Notavelmente, o levantamento constatou que nas escolas de educação básica, as pessoas pretas foram as mais afetadas pela violência física, com 29% delas vivenciando esse tipo de agressão.

“A violência em espaços escolares talvez seja a parte mais dramática das violências a que nossas crianças e jovens estão expostos. A escola deveria ser um ambiente seguro, de socialização. Porém, é um espaço que acaba propiciando episódios de violência física e simbólica. Precisamos entender que o racismo também é um gerador de violência. Xingamentos, exclusão e bullying acabam atingindo muito mais crianças negras e indígenas”, comenta Ana Paula Brandão, analista gestora do Projeto SETA e diretora programática na ActionAid.

A pesquisa, que ouviu 2 mil pessoas de 16 anos ou mais em 127 municípios brasileiros das cinco regiões do país durante o mês de abril de 2023, busca entender a percepção da população brasileira em relação ao racismo. Os resultados também mostram que 74% da população é a favor da reserva de vagas em faculdades/universidades, concursos públicos e empregos em empresas privadas para a população negra e/ou indígena.

Apesar da Lei 10.639/2003 tornar obrigatório o ensino de “história e cultura afro-brasileira” no currículo escolar, apenas 46% dos entrevistados afirmam ter aprendido sobre o tema nas aulas. A abordagem adequada sobre a história e cultura afro-brasileira foi considerada por apenas 42% dos respondentes, evidenciando a necessidade de aprimorar o ensino dessa temática nas escolas.

Brasil, país com o desafio de vencer o racista

Segundo a pesquisa, 81% dos brasileiros concordam que o Brasil é um país racista, embora apenas 11% admitam ter atitudes ou práticas racistas. Essa negação do racismo no âmbito pessoal, de acordo com Jaqueline Santos, antropóloga e consultora de monitoramento e avaliação do Projeto SETA, é um obstáculo para o reconhecimento público do preconceito.

Os resultados da pesquisa também revelam que 88% dos participantes concordam que negros são mais criminalizados do que brancos e 79% acreditam que a abordagem policial é baseada na cor da pele, tipo de cabelo e tipo de vestimenta. A brutal diferença no tratamento dado pela polícia a pessoas brancas e negras também foi confirmada por 84% dos entrevistados.