Os Fabelmans. Foto: Divulgação.

Por Ricardo Soares para cobertura colaborativa da Cine NINJA

Os Fabelmans

As marcas que as relações familiares podem deixar fazem do nosso dia a dia um exercício, por vezes, árduo de ressignificação, acolhimento e perdão. E, falo deste último, sem o preceito cristão, mas com o pensamento de que muitas vezes se desligar é a forma possível de se estabelecer uma relação saudável.

“Os Fabelmans” enlaça o cinema artesanal e o drama familiar de maneira marcante. Há uma singeleza quase cruel, seja na direção e na fotografia que nos coloca não só como admiradores de um álbum fotográfico, mas como participantes de cada fotograma, cada revelação que a história proporciona.

Não poderia deixar de fora a forma poética com a qual a direção usa as soluções técnicas de um cinema em seus primórdios conduzindo a uma expectativa quase infantil acerca da arte cinematográfica.

E ainda, o elenco é tão afinado que saímos dessa experiência certos de que a família é e será sempre o ponto determinante de nosso crescimento.

Recomendo!!!

Foto: Divulgação

The Banshees of Inisherin

Somos seres frágeis por natureza, e na maioria das vezes nos armamos para nos proteger da violência em nosso entorno e das que construímos dentro de cada um de nós.

Em “The Banshees of Inisherin”, numa pequena vila margeada pelo mar, uma amizade é afetada pela frustração e intolerância, diante de um desajuste na lida com sua própria individualidade.

As relações, os afetos, como se dão e como se caracterizam, são parte da condição emocional a que estamos atrelados no momento. E esse ponto é o fio que pode nos levar às consequências inesperadas e muitas vezes bélicas.

Com um elenco em grandes atuações, vamos, a partir do recorte proposto pelo filme, nos identificando com cada pensamento que os personagens nos apresentam. E nos surpreendendo com a capacidade que temos de dificultar nossas vidas muito rapidamente.

Recomendo!!!

Foto: Divulgação

A Baleia

Há quem busque a igualdade como caminho para um reconhecimento mútuo e não me refiro a aspectos de direitos. Mas a dificuldade de nos aceitarmos e aos que nos rodeiam como realmente são. Para isso, acredito, temos que encarar a diferença como o que somos de fato, diferentes.

O Filme “A Baleia” nos leva a um mergulho em intrínsecas questões humanas, medo, paternidade, maternidade, religião e talvez uma que mobilize a sociedade de um modo geral, a facilidade de demonizar o que não considera como “igual” ou “normal”.

Brendan Fraser, nos apresenta em 1h 57 minutos a oportunidade de olharmos para nossas escolhas, renúncias, perecimentos, desejos, culpas, dentro de um claustrófobo ambiente onde a luz está próxima, lá fora ou dentro de nós?

Somos incríveis, somos perfeitos?

Recomendo!!!

Foto: Divulgação

Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo

As múltiplas possibilidades em que navegam as angústias, desejos e frustações de uma mulher na tríade vida/casamento/família encontram na linguagem cinematográfica forma e textura nessa explosão emocional e imagética que é “Tudo em Todo o Lugar ao Mesmo Tempo”.

Um filme impactante, gerador de reflexões e com interpretações tão preciosas e lideradas por Michelle Yeoh, que nos leva ao reconhecimento de nossas renúncias, indiferenças, certezas e a falta delas.

É importante destacar o trabalho marcante da direção, direção de fotografia, montagem e trilha sonora que harmonizam planos, som, luz e edição de cada multiverso segundo a psicologia da personagem Evelyn Quan Wang e suas inquietações.

Diversão, emoção, reflexão e técnica em 2h e 19m de duração.

Recomendo!!!

Foto: Divulgação

Aftersun

Há fragmentos que são difíceis de se juntar, seja por medo do inesperado ou pela angústia de uma certeza do que se imagina. E há também, decisões que torneadas de coragem te levam a enfrentar uma memória, ou uma suposição do que ela seria.

Seja como for, “Aftersun” é desses momentos onde cada retalho é uma peça tão cheia de impressões que levam o expectador a costurar juntamente com Sophie a imagem paterna. Uma imagem que nessa história ou fora dela, necessita se reconfigurar.

Com interpretações sutis, uma direção muito segura e uma fotografia delicada como se absorvesse as impressões de um antigo VHS, essa produção traz um fio narrativo cheio de arestas a serem preenchidas quem sabe pelo próprio expectador.

É um passado? É uma ideia? Talvez seja o possível de se enfrentar naquele momento.

Recomendo!!!

Foto: Divulgação

Triângulo da Tristeza

O poder e a intolerância caminham de mãos dadas seja em que instância for, dentro de um ambiente que lhes dê oportunidades e elas são muitas em nossa sociedade.

E não é diferente na abordagem feita em “Triângulo da Tristeza” onde as classes sociais, as discussões entre capitalismo e comunismo, todos os aspectos sociais e políticos inerentes a sociedade são postos dentro de uma viagem de navio à espreita de um grande desastre.

Divertido, ácido e literalmente de embrulhar o estômago, o filme brinca com os preceitos a que seus personagens estão atrelados e travam entre eles as discussões aparentemente simples, mas que pontua com precisão a forma como adulamos o poder na sua mais alta mediocridade. E em como numa posição subserviente somos treinados a tornar os absurdos do poderia como algo licito e virtuoso. E ainda o deslocamento que esse mesmo poderio, sendo emergente, pode transformar a integridade do servil, a ponto de nos dar uma perspectiva justificada acerca das consequências dessa oportunidade.

Um jogo de câmeras que dança entre o deslocamento de um plano e outro, dando a cada interlocutor a oportunidade estética de protagonismo, mesmo quando o foco é a narrativa. Uma direção, fotografia, figurinos que definem muito bem as divisões sociais e os ambientes dessa história. E um elenco que traz uma unidade interpretativa onde não há como considerar a melhor atuação, até porque estamos diante de um trabalho tão verdadeiro que dispensa análises neste quesito.

Recomendo!!!

Texto produzido em cobertura colaborativa da Cine NINJA – Especial Oscar 2023